600 mil africanos, asiáticos e latinos ainda lutam para se integrar a SP

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Por Flavia Tavares , Rodrigo Brancatelli e William Cardoso
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Yamamoto, Matarazzo, Murad, Jafet, Fernandes, Simões. São sobrenomes tão arraigados na cultura de São Paulo que se tornaram imprescindíveis na história da cidade, responsáveis por fazer surgir bairros inteiros ao barulho dos teares, das bigornas, das máquinas, das sanfonas noturnas. Apesar de todas as dificuldades - da diferença da língua ao preconceito dos outros moradores -, eles não só tiveram influência no desenvolvimento da região como também ajudaram a moldar a alma do paulistano, a figura que se revela hoje no sotaque, nos traços, nos costumes ou até na pizza de domingo.Atualmente, quase 129 anos depois do italiano Gaetano Pezzi ter sido o primeiro imigrante cujo desembarque foi registrado em São Paulo, em 17 de janeiro de 1882, são outros sobrenomes que tentam se integrar à metrópole, repetindo a epopeia de italianos, espanhóis, libaneses, japoneses e portugueses que se instalaram por aqui. São os Hong, Kim, Yan, Villar, Ogunme; quase 600 mil imigrantes asiáticos, africanos e latinos que desembarcaram na capital nos últimos 20 anos e ainda lutam para fazer parte de São Paulo."A situação hoje repete exatamente o mesmo fenômeno do século 19, quando os imigrantes chegaram pela primeira vez por aqui", diz a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Maria Ruth Amaral de Sampaio, que estuda o tema. "Do mesmo jeito que os italianos eram chamados de carcamanos, de ladrões, hoje também há um preconceito com os novos imigrantes, uma falta de integração que ainda não foi superada. Até os coreanos, que estão aqui na terceira geração, casam apenas entre si, o que demonstra ainda essa falta de integração."Perfil. São Paulo ainda está aprendendo a lidar com uma presença maior desses grupos na cidade. Nas últimas semanas, o Estado conversou com representantes dos três grupos para entender como esses novos imigrantes estão aos poucos mudando a face da metrópole. São chineses que não falam português, mas mesmo assim estão comprando diversas lojas de ferramentas na Rua Florêncio de Abreu, no centro, e apartamentos a partir de R$ 600 mil em bairros como Anália Franco e Tatuapé, na zona leste. Bolivianos já são proprietários de confecções no Brás e Pari. Nigerianos e angolanos, apesar do preconceito com a colônia, ostentam orgulhosamente títulos de médicos, dentistas e farmacêuticos. Há ainda os pais coreanos que abrem mão de suas economias para colocar os filhos na Escola Polilogos, na Rua Sólon, no Bom Retiro, cujo maior objetivo é aprovar alunos na USP. Ou mesmo jovens coreanos que, com o dinheiro ganho nas lojas de roupas, estão seguindo o exemplo dos imigrantes judeus e se mudando para Higienópolis.

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