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Carnaval SP 2023: Aos gritos de ‘a campeã voltou’, Mocidade Alegre celebra título ‘entalado’

Troféu de campeã do Carnaval de São Paulo, o 11º conquistado na história da escola, volta ao barracão da Morada do Samba depois de nove anos

Por Caio Possati
Atualização:

A festa que a Mocidade Alegre começou no Anhembi no final da tarde desta terça, 21, ao sagrar-se campeã do Carnaval de São Paulo de 2023, continuou na quadra da escola, no bairro do Limão, zona norte da capital, ao longo da noite. O barracão da Morada do Samba, para onde o troféu volta depois de 9 anos, ficou lotado de foliões, carnavalescos, pessoas da comunidade, integrantes da diretoria e até de desfilantes da Mancha Verde, agremiação que ficou em segundo lugar na disputa deste ano.

À reportagem, que esteve presente na quadra para acompanhar a festa, os simpatizantes da Mocidade afirmaram que a conquista deste título, o 11° da história da escola, estava “entalada na garganta”. No ano passado, o troféu só não foi para a Morada por critério de desempate. A agremiação terminou com os mesmos 269,9 pontos conquistados pela Mancha Verde, que foi campeã do Carnaval de 2022. Em 2015 e em 2018, a escola também foi vice. Em 2016 e 2020, ficou na terceira colocação.

Carnavalescos, diretoria, desfilantes e simpatizantes da Mocidade celebram título no barracão da escola. Foto: TABA BENEDICTO /ESTADÃO

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“A gente se preparou muito para vencer. No ano passado, batemos na trave, perdemos pelo desempate. Esse grito de campeão estava entalado na garganta”, disse Letícia Souza, de 37 anos, que desfila pela Mocidade desde os 10.

A rainha de bateria Aline de Oliveira também definiu o título como algo “engasgado”, e admitiu que os nove anos de jejum aumentavam a pressão para fazer um desfile praticamente perfeito. “Ganha o carnaval quem erra menos, e as escolas têm vindo cada vez mais incríveis e enredos potentes, com muita historia”, disse.

Ocupando o posto há mais de 10 anos - só de escola ela tem 21 -, Aline brinca que “chegou com os dois pés no peito” quando fez a sua estreia como rainha de bateria. Foram três títulos seguidos: 2012, 2013 e 2014. “Fui pé quente. Ou melhor, o ‘corpo quente’”, brincou.

Sensação parecida sentida pela estudante de nutrição Brenda Macedo, 21 anos, que passou pela avenida em cima do carro abre-alas da campeã. “É a primeira vez que eu desfilei na Mocidade e foi uma emoção muito grande, ainda mais porque ganhamos o carnaval. Sábado que vem somos nós de novo”, disse animada, se referindo aos desfiles das escolas campeãs.

“Poxa, eu estava ficando com saudades. Estava demorando para sermos campeões”, disse a presidente da Mocidade Alegre, Solange Bichara. “Em 2018 batemos na trave, em 2022 batemos na trave de novo. Mas agora foi gol”, afirmou aliviada.

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Para ela, o enredo sobre o moçambicano Yasuke, o primeiro samurai negro da história do Japão fez a diferença porque “foi abraçado pela comunidade”. “A gente vive um momento de que as pessoas podem ser quem elas quiserem. A gente criou os samurais da periferia, e a comunidade se enxergou nisso”, disse a presidente.

Taiguara Nazareth foi além de se enxergar no personagem Yasuke. O ator, que tem mais de 20 anos de carnaval, foi quem interpretou o próprio samurai no desfile. “Quando eu soube do enredo, eu fui até o carnavalesco (Jorge Silveira) para afirmar que eu queria ser o Yasuke”, disse ao Estadão. O desejo foi atendido, mas com alguns sacrifícios. “A fantasia pesava uns 40 quilos. Depois do desfile, achei que fosse desmaiar de tão cansado que eu estava”.

No ano passado, ele desfilou e foi campeão pela Mancha Verde, e voltou para a Morada - por onde já tinha representado no Sambódromo - para viver o personagem principal da escola campeã.

Presidente da Mocidade, Solange Bichara celebra título do Carnaval 2023 nesta terça-feira.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Mas essa troca de escolas não parece ser motivo para Dona Tereza, professora aposentada de 60 anos, estranhar. Perguntada se vencer a escola que derrotou a Mocidade no ano passado teve um gosto a mais, ela respondeu que as rivalidades entre as agremiações devem ficar apenas “da avenida do sambódromo para dentro”. “Todas as escolas trabalham para fazer um trabalho lindo, que precisa ser respeitado”.

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Ela integra a velha-guarda da Mocidade e nutre relações com a agremiação vermelha, verde e branca há mais de 50 anos. Tempo o suficiente para acompanhar de perto todos os 11 títulos da escola, que levou o seu primeiro troféu do carnaval em 1971. Mesmo tendo visto todas as conquistas, a desta terça tem um sabor diferente diz a carnavalesca. “São nove anos batendo na trave. É um renascimento para a nossa comunidade”, afirma.

A festa da Mocidade provou que a percepção de Tereza sobre rivalidades no samba não estava errada. Na quadra, a reportagem encontrou três amigos que desfilaram pela Mancha Verde e que foram ao barracão da campeã para prestigiar um dos intérpretes da Mocidade, que é colega do trio.

“A gente está chateado por não ter vencido, é claro”, disse Klaudia Kalinin, de 28 anos. “Mas eu não tenho essa rivalidade (com outras escolas). Eu estou feliz pelo meu amigo. Perder para Mocidade? Está tudo bem”.

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Desfilantes pela Mancha Verde, Monique Alvez, Klaudia Kalinin e José Santos Júnior, foram ao barracão da Mocidade prestigiar um amigo da escola campeã. Foto: Caio Possati/Estadão
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