Greve no Metrô e na CPTM: Tarcísio fala em paralisação ‘ilegal’ e diz que manterá privatizações

Pelo menos nove linhas têm operação afetada na manhã desta terça; Justiça do Trabalho havia determinado 100% de operação em horários de pico, mas sindicato diz que decisão fere direito de greve

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Por Caio Possati
Atualização:

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), chamou de movimento “político”, “ilegal” e “abusivo” a greve que paralisa ao menos nove linhas do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) na manhã desta terça-feira, 3. O movimento protesta contra o plano de privatizar serviços metroferroviários. Para o chefe do Executivo paulista, a paralisação reforça a necessidade de desestatizar os ramais, uma de suas principais bandeiras de campanha.

“Justamente são as linhas concedidas que estão operando. Isso só reforça que estamos na direção certa”, disse Tarcísio. “Vamos continuar estudando concessões e não é um movimento ilegal que nos afastará desse objetivo.” As linhas 4-Amarela e 5-Lilás do Metrô e as 8-Diamante e 9-Esmeralda, da CPTM, seguem com operação normal, pois têm administração privada.

Passageiros encontram os portões de acesso à linha vermelha do metro fechados na Estação Palmeiras-Barra Funda, na zona oeste da capital paulista Foto: Marcelo Chello/Estadão

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Durante a manhã, os congestionamentos ficaram acima da média e se aproximaram dos 600 quilômetros em São Paulo. Estado e Prefeitura decretaram ponto facultativo nesta terça e as escolas estaduais suspenderam as aulas. O rodízio de veículos também foi suspenso.

Os sindicatos descumprem a decisão da Justiça do Trabalho, que na semana passada determinou 100% de operação do metrô e da CPTM em horários de pico. Especialistas em Direito do Trabalho ouvidos pelo Estadão dizem que a paralisação, por não ser motivada por reivindicações diretamente ligadas a condições de trabalho, pode ser vista como abusiva.

“Essa turma (grevistas) não respeita o Judiciário e a população. Se não respeitam isso, vão respeitar quem?”, questionou o governador. Nas redes sociais, o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), também fez coro às críticas e classificou o movimento como “ideológico”.

O sindicato dos metroviários disse que a decisão judicial é um “ataque ao direito constitucional de greve”. Presidente da entidade, Camila Lisboa disse que os projetos de privatização de Tarcísio só vão dar lucro a empresários e vão na contramão do mundo.

Trabalhadores da Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) - outra empresa que está nos planos de privatização do governo - também aderiram ao movimento. Não houve, porém, interrupção do abastecimento de água. Sobre os motivos da paralisação, as entidades afirmam que o objetivo é ampliar a participação da sociedade nos projetos de privatização e evitar a piora dos serviços.

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Como o Estadão mostrou, essa foi a 4ª convocação de greve feita este ano pelo sindicato dos metroviários, que trava uma guerra política contra o governo Tarcísio. Na primeira, em março, os funcionários de quatro linhas cruzaram os braços por dois dias, com reflexos de superlotação de trens e congestionamentos.

As desestatizações já eram defendidas pelo governador desde a época em que Tarcísio era candidato ao governo, em 2022. ”A gente nunca se omitiu, está fazendo exatamente o que disse que ia fazer”, afirmou.

Tarcísio afirmou também que, diferentemente do que alegam os sindicalistas, a população vai ser consultada sobre esses processos. “Iniciamos estudos para ver a viabilidade financeira, de oferecer o melhor serviço. Em todo o processo de desestatização existe o momento da consulta à população.” Os sindicatos defendem um plebiscito para avaliar as propostas.

Quais linhas do Metrô e da CPTM são afetadas pela greve desta terça-feira?

Metrô

• Linha 1-Azul: fechada;

• Linha 2-Verde: fechada;

• Linha 3-Vermelha: fechada;

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• Linha 15-Prata: fechada.

CPTM

• Linha 7-Rubi: de Caieiras a Luz;

• Linha 10-Turquesa: fechada;

• Linha 11-Coral: de Guaianases a Luz;

• Linha 12-Safira: fechada;

• Linha 13-Jade: fechada.

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O pronunciamento do governador foi feito ao lado dos representantes das três companhias, os presidentes Pedro Tegon Moro (CPTM), Antônio Julio Castigliano Neto (Metrô), e Sabrina de Menezes, diretora de Gestão Corporativa da Sabesp.

“Não há previsão de funcionamento, pelo menos até 16 horas”, afirmou Castigliano Neto, em relação às linhas do Metrô paralisadas. Ele disse que a empresa está monitorando o descumprimento judicial por parte dos funcionários. “Vamos punir quem apresenta completamente abusivo”, disse.

Pedro Tegan Moro, da CPTM, também afirmou que “não há nenhuma perspectiva de outras linhas voltarem a funcionar por falta de contingente”.

Sabrina Menezes, da Sabesp, comentou que a operação na empresa de abastecimento de água e esgoto está normal. “Não tivemos nenhum problema de acesso, e o plano de contingência não precisou ser acionado.”

Sobre o momento em que se encontram os processos de desestatização das companhias, Tarcísio disse que os estudos em relação à entrega de linhas da CPTM e Metrô ao setor privado estão no início ainda.

“Estamos nos perguntando quais linhas podem, de fato, ser concedidas; quais linhas podem ser agregadas que cabem investimento capaz de gerar retorno para a geração de uma nova linha, por exemplo”, disse.

O governador comentou também que o modelo de desestatização mais apropriado para as empresas de transporte é o de concessão, e não de privatização. “Mas pode ser que a gente perceba que a privatização seja o melhor caminho. De qualquer maneira, ainda está muito no começo”, afirmou no pronunciamento.

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Já o processo de desestatização da Sabesp, o governador disse que está mais adiantado, e que já houve conversas com 365 prefeitos e com todos os superintendes da empresa de saneamento. Um projeto autorizando a privatização da empresa pública deve ser encaminhado à Alesp ainda neste mês de outubro.

Os estudos citados pelo governador estão sendo desenvolvidos pelo International Finance Corporation (IFC), órgão ligado ao Banco Mundial. De acordo com Tarcísio, os custos dessas pesquisas encomendadas giram em torno de R$ 100 milhões.

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