Multa a 'gastões' de água em SP bate recorde em dezembro

Número de clientes da Sabesp que receberam sobretaxa de até 50% na conta chegou a 14%

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Por Fabio Leite
Atualização:

Atualizada às 15h31

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SÃO PAULO - O número de consumidores da Grande São Paulo multados por gastar mais água agora do que antes da crise hídrica bateu recorde em dezembro. Segundo balanço divulgado nesta quinta-feira, 7, pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), 14% dos clientes receberam a sobretaxa de até 50% na conta, maior índice desde a criação da tarifa, em janeiro de 2015.

Os dados mostram uma crescente no número de clientes multados. Foram 10% em julho, 12% em agosto e setembro, e 13% em outubro e novembro. O menor índice foi registrado em fevereiro, o primeiro mês de balanço. Só com a sobretaxa, a Sabesp já arrecadou R$ 445,1 milhões entre fevereiro e novembro. Os dados de dezembro só serão divulgados no fim deste mês.

A sobretaxa é cobrada dos clientes que consumirem por mês um volume de água superior à média mensal de consumo antes da crise (entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014). A medida chegou a ser anunciada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) em maio de 2014, quando a Sabesp iniciava a captação do volume morto, mas foi abortada pelo tucano. A proposta só foi retomada em dezembro de 2014, após a reeleição de Alckmin.

Dos 77% que reduziram o gasto de água no mês passado, 64% efetivamente ganharam o bônus concedido pela empresa aos consumidores que diminuíram o consumo hídrico no mês, enquanto os demais 13% não cortaram o gasto num volume suficiente para receber o desconto na fatura Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Ao todo, o número de clientes que aumentaram o consumo de água em dezembro em relação ao período pré-crise chegou a 23%, dos quais 14% receberam multa. Os outros 9 pontos porcentuais não receberam a sobretaxa porque consomem o volume mínimo de 10 mil litros mensais, e estão isentos da medida.

O aumento do número de "gastões" refletiu em uma redução de quase 10% no volume de água poupado por meio do programa de bônus, que dá descontos de até 30% para quem reduzir o consumo. Em dezembro, o volume economizado foi de 5,6 mil litros por segundo, enquanto que em novembro o volume foi de 6,2 mil l/s. O recorde de economia ocorreu em julho, com 6,5 mil l/s.

Segundo a Sabesp, o volume economizado é suficiente para abastecer cerca de 1,8 milhão de pessoas, correspondente às populações somadas das cidades de Sorocaba, Osasco e Ribeirão Preto. No mês, o saldo de economia com o bônus chegou a 14,5 bilhões de litros de água, volume que equivale quase à capacidade total do Sistema Alto Cotia (16,5 bilhões de litros), o menor dos seis mananciais que abastecem a Grande São Paulo.

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A mudança de postura dos consumidores da Grande São Paulo coincide com a volta das chuvas nos mananciais, em especial no Cantareira. Tanto em novembro quanto em dezembro, as chuvas ficaram acima da média histórica, fato que aliado ao racionamento de água imposto pela Sabesp, contribuiu para a recuperação do volume morto do sistema, em 30 de dezembro. 

Nesta quarta-feira, 6, o Estado mostrou que a Sabesp deixou de arrecadar R$ 1,2 bilhão em quase dois anos com o programa de descontos na conta, criado em fevereiro de 2014. Com os novos dados de dezembro, o programa resultou em uma economia de 279,7 bilhões de litros, o equivalente a 28% da capacidade normal do Cantareira.

A partir deste mês, contudo, os clientes terão de consumir 22% menos água para manter o mesmo benefício na fatura. A medida foi aprovada no dia 23 de dezembro pela agência reguladora do setor e deve diminuir as perdas financeiras da Sabesp com o bônus em um momento em que a empresa registra prejuízo - R$ 580 milhões apenas no terceiro trimestre de 2015.

Agora, quem consumia 20 mil litros antes da crise e precisava gastar até 15,6 mil litros para obter o desconto de 30% não poderá exceder 12,5 mil litros. Na prática, o consumidor que antes precisava reduzir o consumo em 20% para ter o bônus de 30% terá de economizar 37,5%. Segundo o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, o objetivo da mudança é “dar um estímulo extra” para quem pode economizar mais água e não recompor o caixa da empresa.

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