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Músicos mantêm o amor ao rock-and-roll vivo desde a década de 1960

Mario Cerveira, o Marinho, e João Carlos Kurkjian, o Kurk, são exemplos de cenário comum nas noites paulistanas: roqueiros da 3ª idade que arrasam no palco

Por Alexandre Hisayasu
Atualização:
João Carlos Kurkjian, o Kurk, e Mario Cerveira, o Marinho Foto: Facebook/Reprodução e Daniel Teixeira/Estadão

SÃO PAULO - Os garotos que amavam os Beatles e os Rollings Stones, na década de 1960, são hoje respeitáveis senhores. Há quem conseguiu se tornar um profissional bem-sucedido, um chefe de família e um simpático vovô. Mas o amor à música, em especial ao rock-and-roll, não tem limites e muito menos, idade. Dois músicos ouvidos pelo Estado somam quase 140 anos e são prova de um cenário nem tão incomum na cidade: músicos que estão na chamada terceira idade, mas que quebram tudo em cima do palco.

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Mario Cerveira é advogado e tem 66 anos. Especialista no setor de franquias, é dono de um escritório que leva o seu sobrenome e é figura conhecida nas audiências judiciais na capital e em outras cidades do Estado. Juízes, promotores e outros advogados costumam cumprimentá-lo quando o encontram nos fóruns.

Mas à noite, ele assume as baquetas da banda Watt 69 e se transforma no "Marinho". Faz isso há 50 anos. "Sou um advogado que também é músico. Infelizmente, é impossível viver de música."

O advogado Mario Cerveira vira Marinho nas noites paulistas e assume as baquetas da banda Watt 69 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

No Watt 69, Marinho fica à frente de praticamente tudo. É ele quem cuida dos contratos dos shows, negocia os cachês, marca os ensaios em estúdio e até providencia vagas no estacionamento para os demais integrantes da banda. O vocalista Jorge Adamo, o Bidú, que é um advogado aposentado, também ajuda na organização.

"A nossa recompensa é subir no palco. O que todos os artistas dizem por aí é a pura verdade: a adrenalina é impressionante", disse Marinho. "Isso que faz com que o artista não consiga ficar longe dos shows. É um momento mágico."

A banda conta com 11 integrantes, e o repertório é escolhido por todos. A prioridade são as canções dos anos 1960 e 1970 que fazem sucesso até hoje. Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival, Roy Orbinson, entre outros, estão na lista. Aliás, a escolha das músicas é um dos segredos que mantêm a banda em atividade.

11 integrantes.O repertório da Watt 69 é escolhido por todos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

"O que move a banda é o coração. Tocamos canções para agradar todo mundo, a ideia é ouvir e dançar. Mas se uma música não pega, é limada", contou Marinho. No meio do público, é comum encontrar colegas de profissão. "Já teve juiz, advogado, que tomou um susto quando me viram tocando bateria. Eles dizem: 'Mas é você mesmo?'. É muito divertido."

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50 anos de rock. Na década de 1960, quando tinha 16 anos, João Carlos Kurkjian foi conquistado pela música "I wanna hold your hand", dos Beatles. O interesse pelo rock-and-roll cresceu com a idade e o motivou a montar os chamados "conjuntos musicais".

O que era uma brincadeira de amigos - que usavam o tempo disponível para tocar covers de seus artistas favoritos, como Pink Floyd, Rolling Stones e The Who - se transformou em uma profissão. Na década de 1980, Kurkjian abandonou a estabilidade do emprego, era administrador de empresas, e decidiu viver exclusivamente dos seus shows, da música.

'Encaro o palco como um lugar sagrado', diz João Carlos Kurkjian, o Kurk Foto: Facebook/Reprodução

No meio musical, ele á carinhosamente conhecido como João Kurk ou apenas, Kurk. Ele fundou e participou de bandas que fizeram história no cenário rock paulistano. A mais famosa foi a Rockover, na qual ficou por 15 anos. Em seguida, montou a Rock Stock. 

Mas quando completou 60 anos, decidiu começar tudo de novo. "Precisava de uma banda onde todos os integrantes se dedicassem 100% a ela." Surgiu então a Mr. Kurk. "O nome foi sugerido pelos demais integrantes e amigos. Depois de mais de 50 anos na estrada, pensei: por que não?"

Nos shows, Kurk recebe um tipo diferente de assédio. "É tudo com muito respeito. As mulheres costumam dizer: 'Ai, que fofo, vovô".

Kurk tem a receita para tanto tempo de carreira. "Encaro o palco como um lugar sagrado. Imagino como se a minha vó estivesse assistindo, por isso, não tem palavrão e nem esculhambação", afirmou. "Tem muito respeito com o público."

Atualmente, ele prepara o documentário João Kurk, 50 anos de rock.

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João lidera a banda Mr. Kurk Foto: Facebook/Reprodução
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