SÃO PAULO - Após desistirem de prestar esclarecimentos espontaneamente ao Ministério Público Estadual (MPE) sobre as acusações de estupro em festas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), integrantes do Show Medicina, grupo de estudantes que organiza trotes na unidade, serão intimados pela Promotoria a depor e a entregar documentos sobre o funcionamento da entidade.
De acordo com Paula Figueiredo, promotora de Justiça dos Direitos Humanos que acompanha o caso, integrantes do grupo chegaram a procurar o MPE e agendar para esta sexta-feira um depoimento informal para esclarecer as acusações. “Hoje eles nos ligaram desmarcando o encontro. Disseram que foram orientados a não se manifestar sobre o caso.”
Após a decisão do grupo, ela preparou uma intimação para que os integrantes sejam ouvidos formalmente e para que apresentem documentos como o balanço dos últimos cinco anos e autorizações para realizações de eventos, entre outros.
Na terça-feira, duas alunas relataram, em audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), ter sido estupradas em festas do curso de Medicina. Dois estudantes da faculdade disseram, por meio da ouvidoria da instituição, ter sido vítimas de “acusação falsa e pública de violência sexual”, que não teriam cometido. A queixa foi feita neste ano.
Segundo o Estado apurou, a ouvidoria não recebeu queixa sobre nenhum dos dois casos de estupro. “A ouvidoria não foi procurada nos casos que, agora, vieram à luz por meio da imprensa e, embora soubéssemos de sua existência, não pudemos agir”, disse o órgão, em nota.
Os supostos agressores, porém, registraram a reclamação. “Fomos procurados, entretanto, por dois estudantes que denunciaram estar sendo vítimas de acusação falsa e pública de violência sexual, que não teriam cometido.”
Pressão. Segundo uma das estudantes, que fez a denúncia na Alesp e preferiu não ser identificada, desde que o caso veio a público na universidade, ela vem sofrendo “forte estigmatização”. “Teve comissão sobre a regulamentação do álcool em festas e a culpa caiu sobre mim. A culpa teria sido minha e do coletivo feminista, que queria atrapalhar a faculdade.”
Um ano após o estupro - que teria acontecido na festa Cervejada, organizada pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC) na USP -, a jovem disse que se sente mal ao cruzar com os rapazes nos corredores da universidade. “Eles saíram totalmente impunes, os vejo quase semanalmente.”
Após o relato na audiência pública, também começaram a surgir ofensas nas redes sociais. A estudante disse que teve o perfil do Facebook denunciado e precisou alterar o nome no site.
Os deputados da Comissão de Direitos Humanos vão encaminhar à ouvidoria da USP os depoimentos da audiência.
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