Sem opções, polícia altera procedimentos

Agentes fazem rondas a pé em cerca de 30 bairros de Campinas, no interior de São Paulo

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Foto do author Marcelo Godoy
Foto do author José Maria Tomazela
Por Marcelo Godoy e José Maria Tomazela
Atualização:

Desde o fim de fevereiro, policiais militares fazem rondas a pé em cerca de 30 bairros de Campinas, no interior de São Paulo. O patrulhamento sem viaturas foi adotado nas áreas do 35.º Batalhão, responsável pela região do Guanabara e Bonfim, e do 47.º BPM, que atende o distrito de Ouro Verde. Embora a Polícia Militar defenda essa modalidade de policiamento, por proporcionar maior interação com a comunidade, o motivo real da estratégia é a falta de viaturas, segundo o vereador Nelson Santini Neto (PSD). “O comandante é cobrado para reduzir os índices (de criminalidade), mas não tem carro, então ele põe a patrulha a pé.”

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De acordo com o vereador, que atuou 15 anos em policiamento urbano, pelo menos 60% da frota da PM na região metropolitana de Campinas, que inclui outros 19 municípios e tem 3,1 milhões de moradores, está com mais de cinco anos de uso. E há casos de viaturas que voltam a apresentar avaria dois dias após sair da manutenção. “São veículos que já rodaram 300 mil ou 400 mil quilômetros e deveriam ter sido trocados.”

Segundo ele, o assunto foi tratado com a Secretaria da Segurança Pública do Estado, mas o encontro acabou sem perspectiva de solução. “As oficinas contratadas para fazer manutenção não dão conta do trabalho, mas vemos que o problema é causado pelo tempo de uso das viaturas. Com tantos veículos quebrados, o comandante tem de se desdobrar com a frota reduzida. Em um turno com 20 policiais, ele tem duas viaturas, aí precisa fazer mágica.” Em verificação feita no início de abril, ele apurou que ao menos 70 viaturas estavam quebradas.

Precariedade. Outras regiões do Estado enfrentam o mesmo problema. Em Bauru, após uma sequência de roubos a estabelecimentos comerciais e pedestres, no fim de abril, o comandante da PM na região, tenente-coronel Flávio Jun Kitazume, admitiu que há falta de efetivo e viaturas. Sem especificar números, disse que o déficit é de aproximadamente 10%. Em Ourinhos, a reportagem apurou que o déficit de viaturas é agravado pela idade dos veículos.

Em São José do Rio Preto, a PM adotou a Operação Visibilidade, que mantém viaturas estacionadas em pontos estratégicos, em um momento em que dez veículos usados em patrulhamento estavam em oficinas. Um oficial que pediu para não ser identificado confirmou que a frota, além de insuficiente, está sucateada.

A Associação em Defesa da PM dos Oficiais Militares do Estado de São Paulo defendeu a operação como forma de policiamento ostensivo, mas reconheceu o problema da falta de viaturas, “assunto que suporta outra longa discussão e nem sempre está ao alcance do (oficial) administrativo na ponta da linha”. Em Itararé, questionado por vereadores sobre o aumento na criminalidade, o comando da PM informou que aguarda a destinação de mais viaturas pelo governo estadual. / J.M.T.