SÃO PAULO - A Food and Drugs Administration (FDA), agência que regula alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, aprovou nesta terça-feira, 18, o primeiro remédio indicado para tratar a falta de desejo sexual feminino. O Addyi (nome comercial para a flibanserina) atua na liberação de neurotransmissores cerebrais responsáveis pelo desejo sexual, como a dopamina.
O medicamento é indicado apenas para mulheres na fase da pré-menopausa com disfunção sexual adquirida e crônica, ou seja, quando a falta de libido ocorre em uma paciente que não tinha o problema anteriormente e que persiste independentemente do tipo de atividade sexual, da situação ou do parceiro sexual.
A FDA alerta, no entanto, para os possíveis efeitos colaterais do medicamento principalmente se seu uso for associado ao consumo de álcool. Nesses casos, a paciente pode apresentar severa queda de pressão e perda de consciência. A agência americana estabeleceu uma série de regras para a prescrição e venda do remédio, entre elas a divulgação de alertas sobre os riscos do uso concomitante da droga e de bebidas alcoólicas. Quando não associado ao álcool, o remédio tem efeitos mais brandos, como sonolência e tontura, que só foram observados em 10% das pacientes.
Embora esteja sendo chamado de viagra feminino, o medicamento tem mecanismo de ação e indicações diferentes da pílula azul. “O Viagra não interfere diretamente no desejo sexual do homem. Ele, na verdade, aumenta o fluxo sanguíneo na região do pênis e permite a ereção. Já a flibanserina atua no sistema nervoso central da mulher, regulando os neurotransmissores que provocam a libido”, explica a ginecologista e sexóloga Carolina Ambrogini, coordenadora do centro de sexualidade feminina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Enquanto o Viagra é consumido somente nos dias em que o homem pretende ter relação sexual, o Addyi deve ser tomado diariamente e só começa a dar resultados após cerca de seis semanas de uso.
Para a especialista da Unifesp, o medicamento é uma ferramenta adicional e importante no tratamento da disfunção sexual feminina, mas não servirá para todos os casos. “Não adianta achar que o remédio vai salvar um casamento falido, em que não existe mais desejo entre o casal. Também não é indicado para as mulheres na menopausa porque nesses casos a falta de desejo geralmente está associada a questões hormonais e aí é mais indicada uma terapia de reposição”, diz ela.
A médica explica ainda que nem todas as mulheres que têm a indicação do novo remédio responderão ao tratamento. "Cerca de metade a dois terços das pacientes tiveram algum resultado, mas estudos mais amplos de eficácia serão necessários", diz ela. A FDA informou que os estudos clínicos do medicamento indicam que o número de eventos sexuais satisfatórios por mês cresceu de 0,5 a 1 nas mulheres pesquisadas.
Estudos internacionais mostram que cerca de 30% das mulheres têm algum nível de disfunção sexual no mundo. Para que o problema seja considerado crônico, são necessários pelo menos seis meses de falta de libido.