Biofarmacêutica brasileira fecha acordo com a CanSino e pretende fabricar vacina de dose única

Empresa Biomm planeja submeter em breve pedido de uso emergencial do imunizante à Anvisa; caso importação seja aprovada, será a 2ª vacina de aplicação única administrada no Brasil

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Por Ítalo Lo Re
Atualização:

SÃO PAULO – A biofarmacêutica brasileira Biomm anunciou nesta sexta-feira, 1º, ter fechado um acordo com a empresa chinesa CanSino para disponibilizar no País a vacina de dose única contra a covid-19 Convidecia. Para que isso seja possível, a Biomm planeja submeter em breve um pedido de uso emergencial do imunizante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Se tiver aprovação, a biofarmacêutica prevê inclusive fabricar a vacina no Brasil.

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Desenvolvida a partir do chamado adenovírus do tipo 5, a Convidecia seria o segundo imunizante de aplicação única administrado no País. A vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, já é utilizada em municípios brasileiros desde o final de junho.

Atualmente, a vacina da CanSino é aplicada na população adulta de países como Chile, Argentina, México e Rússia. De acordo com estudos conduzidos pela empresa chinesa, o imunizante teria eficácia geral de 68,83% após 14 dias da aplicação. Para casos graves de covid-19, a eficácia seria de 95,47% no mesmo período.

Planta biofarmacêutica da Biomm fica localizada em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. Foto: Biomm

O CEO da Biomm, Heraldo Marchezini, explicou ao Estadão que as tratativas com a CanSino começaram em maio. Desde então, a biofarmacêutica brasileira precisou comprovar que reúne capacidade técnica para a produção de vacinas e demonstrar que segue boas práticas relacionadas a governança corporativa e a aspectos regulatórios.

Com o acordo, a Biomm poderá importar a vacina contra a covid-19 da CanSino caso receba autorização emergencial da Anvisa e seja incorporada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). A Biomm também prevê, “em um segundo momento”, produzir a vacina em sua planta biofarmacêutica localizada em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. O local, segundo informações da Biomm, recebeu investimentos de US$ 90 milhões e está em “processo de validação” pela empresa chinesa.

Ainda não estão previstas quantas vacinas da CanSino seriam disponibilizadas. Porém, segundo Marchezini, a planta de Nova Lima tem capacidade de produzir 20 milhões de frascos por ano. “Da maneira como acontece, o frasco pode ter de 10 a 20 doses. Mas lembrando que nossa planta é multiproposta, está em processo de validação para outros medicamentos”, disse o CEO da Biomm. A produção local da vacina dependeria de insumos enviados de fora do País.

Logo da CanSino na sede da empresa na China. Foto: Reuters/Thomas Peter - 17/08/20

Além da vacina contra a covid-19, Marchezini reforçou que o acordo possibilita que a Biomm tenha “prioridade de discussão de todo o portfólio da CanSino”. Atualmente, a empresa chinesa possui uma variedade de 16 vacinas, que previnem contra 13 doenças. “Tem vacinas para meningite, difteria, herpes... Amplia a oferta, o que certamente auxilia o esforço nacional de saúde”, acrescentou o CEO da Biomm.

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Biomm tem como foco oferta de medicamentos biotecnológicos

Empresa de biotecnologia listada na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), a Biomm tem como foco a oferta de medicamentos biotecnológicos para doenças crônicas, como diabetes e câncer. Atualmente, comercializa três tipos de insulina no País: Glargilin, Wosulin e Afrezza. No segmento oncológico, oferece o medicamento Herzuma, para tratamento do câncer de mama, além de ter acordo de licenciamento, comercialização e distribuição do Bevacizumabe, anticorpo monoclonal usado no tratamento de neoplasias.

A Biomm comercializa ainda medicamentos como o Ghemaxan (enoxaparina sódica), usado para tratar trombose venosa profunda e angina. O remédio, segundo a empresa, também é utilizado no tratamento de pacientes com covid-19 que apresentam coágulos.

Vacina da CanSino pode ser armazenada em geladeira comum

A vacina da CanSino Biologics INC foi desenvolvida a partir de um adenovírus humano do tipo 5 geneticamente modificado. Ele carrega as informações necessárias para sintetizar as proteínas do novo coronavírus e estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos contra covid-19. O imunizante pode ser armazenado em geladeira comum, entre 2º C a 8º C, e recebeu aprovações em países como México, Paquistão, Hungria, Chile, Equador, Argentina, Malásia, Indonésia e Quirguistão.

Vacina contra a covid-19 da CanSino é aplicada no México. Foto: Reuters/Daniel Becerril - 20/04/21

Análise de imunizante da CanSino foi interrompida pela Anvisa

Em maio deste ano foi feito um pedido de uso emergencial da vacina da CanSino no País. No final de junho, contudo, a Anvisa encerrou o processo de análise da autorização temporária, em caráter experimental, da vacina chinesa da CanSino após um desacordo entre a fabricante chinesa e sua representante no Brasil. Em nota, a agência explicou que o processo foi encerrado "sem a continuidade da avaliação de mérito do pedido".

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"A perda de legitimidade processual da empresa Belcher Farmacêutica do Brasil Ltda e do Instituto Vital Brazil S.A. para atuar perante esta agência por autorização da empresa CanSino Biologics Inc. enseja a ausência de condições para manutenção da continuidade da avaliação do pedido de autorização de uso emergencial”, informou a Anvisa.

A negociação entre a Belcher e a Cansino foi alvo de suspeitas levantadas pela CPI da Covid, conduzida pelo Senado. Integrantes da comissão de inquérito analisaram se empresários bolsonaristas fizeram lobby para incluir o imunizante na lista do governo. A Belcher, que é de Maringá, no Paraná, tem entre os sócios pessoas próximas ao ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, hoje líder do governo Bolsonaro na Câmara. O negócio, porém, não foi fechado. 

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