Câncer de intestino: 18 dúvidas sobre como prevenir, identificar e tratar a doença

Diante do aumento de casos entre os mais jovens, sociedades médicas recomendam rastreio a partir dos 45 anos; doença é silenciosa no início e pode ser curada

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Por Fernanda Bassette (Agência Einstein)

Cada vez mais frequente em adultos jovens, o câncer colorretal (também chamado de câncer de intestino) deve acometer quase 46 mil pessoas até 2025 no Brasil, segundo as estimativas mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca). De início silencioso, como acontece com a maioria dos tumores, a doença costuma se manifestar com alterações nos hábitos intestinais, presença de sangue nas fezes, dores abdominais e alterações no formato das fezes, que ficam mais finas ou alongadas.

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Um dos maiores desafios é diagnosticar a doença cedo, para que o tratamento possa ser curativo. O Inca preconiza o início do rastreamento em pessoas acima dos 50 anos, por meio do exame de sangue oculto nas fezes e, em caso positivo, deve ser feita a colonoscopia. Mas, diante do crescente aumento de casos, várias sociedades médicas – entre elas a Sociedade Brasileira de Coloproctologia – passaram a recomendar a realização da colonoscopia para todos os adultos com mais de 45 anos, mesmo sem sintomas.

“Por mais clichê que pareça, todos os tumores diagnosticados no início podem ser curados. Portanto, é possível curar o câncer de intestino. Por isso são tão importantes a prevenção e a realização de colonoscopia em todas as pessoas a partir dos 45 anos, ou antes, em casos de histórico familiar ou sintomas”, afirma o oncologista clínico Rodrigo Nogueira Fogace, do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia.

A seguir, ele responde às principais dúvidas em relação à doença.

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Um dos maiores desafios em relação ao câncer colorretal é flagrá-lo cedo.  Foto: Jo Panuwat D/Adobe Stock

1 – Posso chamar câncer colorretal de câncer de intestino?

Sim, são praticamente sinônimos. É importante ressaltar que ele abrange os tumores que se iniciam na parte do intestino grosso (cólon) e na porção final do intestino (reto).

2 – Quais são os principais sintomas?

Os principais sinais são sangramentos ao evacuar, dor abdominal, mudança do hábito intestinal (intestino que naturalmente é preso começa a ficar solto ou vice-versa), fezes mais finas que o normal. Anemia sem uma causa aparente também pode estar relacionada a tumores de intestino, sendo esse um achado muito comum na prática clínica.

3 – É verdade que ele não apresenta sintomas na sua fase inicial?

Assim como a maioria dos tumores, o câncer colorretal não costuma apresentar sintomas na fase inicial. Por isso, é muito importante o rastreio, para que o diagnóstico seja feito o mais rápido possível.

4 – Qual a média de idade de pessoas com a doença?

A maioria dos casos ocorre após a quinta década de vida, mais frequentemente a partir dos 60 anos. Entretanto, o número de casos entre jovens está chamando a atenção de entidades de saúde no mundo todo. Por isso, é possível que ocorram mudanças dessa característica da faixa etária nas próximas décadas.

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5 – É verdade que pessoas negras têm mais risco?

É muito difícil correlacionar a etnia com o risco de câncer no Brasil, já que a nossa população é extremamente miscigenada. Entretanto, há fortes indícios de que afrodescendentes são mais propensos a desenvolver câncer colorretal e em idade mais jovem. Estudos nos Estados Unidos demonstram que cerca de um a cada 23 homens ou mulheres afro-americanos vão desenvolver câncer colorretal em algum momento da vida.

6 – Por que é importante observar o formato das fezes?

Por mais estranho que pareça, o aspecto das fezes diz muito a respeito da saúde como um todo. O formato, o odor e até a coloração podem dar direções quando se está investigando alguma doença.

Com relação ao câncer colorretal, como o intestino se assemelha a um “túnel”, caso ele esteja semiobstruído por um tumor, por exemplo, o formato das fezes pode se tornar mais fino. Essa é uma informação importante, que sinaliza que é preciso investigar com mais profundidade a saúde intestinal do paciente.

7 – Qual o papel da alimentação e do consumo de ultraprocessados no desenvolvimento desse câncer?

A alimentação está fortemente relacionada com o desenvolvimento de câncer colorretal, já que tudo o que é consumido passa pelo intestino, podendo inflamá-lo constantemente ou mantê-lo saudável. O consumo em excesso de produtos ultraprocessados pode aumentar o risco de desenvolvimento da neoplasia em até 29%, o que é extremamente elevado, quando se fala de um câncer tão frequente e agressivo.

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8 - Existe algum alimento que previna a doença?

Não há um alimento que previne o câncer, uma vez que o desenvolvimento da doença depende de múltiplos fatores. Entretanto, existem alguns alimentos que ajudam a reduzir o risco: vegetais em geral, frutas e grãos ricos em fibras. É importante conscientizar a população de que quanto mais fibras ingerirmos, menor é o risco de desenvolver um câncer colorretal, pois as fibras funcionam como uma “escova” que reduz as impurezas do intestino e diminui o tempo de exposição da mucosa intestinal aos fatores cancerígenos dos alimentos.

9 – Quais são os fatores de risco para a doença? Além de obesidade, constipação é um deles, por exemplo?

A alimentação tem um papel importantíssimo no desenvolvimento da doença, portanto, o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, carne vermelha, fast-foods e álcool são fatores de risco importantes.

Vale citar também a questão familiar, pois casos na família aumentam o risco de desenvolver a doença. Além disso, diabetes, idade acima de 50 anos, sedentarismo e doenças inflamatórias intestinais também estão relacionadas a uma maior probabilidade. Com relação à constipação crônica, apesar de trazer uma certa preocupação, até hoje não foi comprovado que aumenta o risco de desenvolver câncer colorretal.

10 - De que forma o sedentarismo influencia no desenvolvimento desse câncer?

Quando falamos em fatores de risco relacionados a hábitos de vida, é muito difícil dizer o real impacto desse fator. Entretanto, sabemos que o sedentarismo altera o metabolismo do corpo e, muitas vezes, pessoas sedentárias têm outros fatores de risco não saudáveis, como sobrepeso, obesidade, etilismo, entre outros. A soma desses fatores traz uma condição “pró-inflamatória” ao corpo, o que aumenta o risco de desenvolvimento de diversas doenças, entre elas o câncer colorretal.

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11 – A colonoscopia é a única forma de diagnosticar a doença?

A colonoscopia é a principal forma de diagnosticar a doença, pois é através dela que é retirada uma amostra da mucosa do intestino, que será enviada para biópsia. Há outras formas de diagnóstico, como a cirurgia de desobstrução intestinal. Entretanto, isso ocorre em estágios mais avançados da doença.

12 – A colonoscopia deve ser feita por todos? A partir de qual idade e com qual frequência?

A Sociedade Brasileira de Coloproctologia indica que o rastreamento do câncer colorretal, na população geral, deva iniciar aos 45 anos para todas as pessoas. Nos casos em que há histórico familiar, recomenda-se realizar o rastreio 10 anos antes da idade que o parente tinha quando foi diagnosticado.

13 – É verdade que tomar AAS diariamente ajuda a prevenir a doença?

Estudos recentes demonstram uma redução do risco de câncer colorretal com o uso de ácido acetilsalicílico (AAS, ou aspirina), principalmente em pacientes mais jovens. Houve uma redução aproximada de 33% no aparecimento de adenomas agressivos com o uso de AAS.

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Contudo, mais estudos são necessários para comprovar esse achado, pois quando se fala de quimioprevenção (uso de medicamentos para reduzir o risco de uma doença), é preciso ter certeza se o medicamento não trará outros riscos que sejam até piores que o próprio câncer. Ainda precisamos de dados robustos apontando se essa redução realmente se traduz em diminuição de mortes por câncer de intestino.

14 – A presença de pólipos no intestino indica câncer colorretal?

Não. Pólipos são pequenas elevações da mucosa do intestino e são extremamente comuns na população. Entretanto, alguns desses pólipos podem possuir células que tendem a gerar um tumor no futuro. Dessa forma, deve-se sempre retirar os pólipos durante uma colonoscopia, evitando assim que alguns deles possam acarretar um câncer colorretal.

15 – Lesões ou úlceras no intestino significam que a pessoa tem câncer?

Não. Úlceras no intestino podem indicar um processo inflamatório intestinal, assim como ocorrem aftas na mucosa da boca. Mas todas as lesões ulceradas, principalmente aquelas com as bordas mais elevadas, devem ser biopsiadas durante uma colonoscopia.

16 – Como é feito o tratamento?

O tratamento depende do estágio da doença. Nas fases iniciais (estágios 1 e 2), a doença é tratada, na maioria dos casos, exclusivamente com cirurgia. Nos casos mais avançados, que acometem os linfonodos (núcleos de defesa do intestino), o tratamento inclui também quimioterapia preventiva após a cirurgia.

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A doença que tem metástase (com outros órgãos atingidos, estágio 4), é geralmente tratada com quimioterapia. Atualmente, há medicamentos biológicos que impedem a proliferação de vasos sanguíneos, ou que impedem a formação células por inibirem proteínas específicas do tumor.

Dependendo das características individuais dos tumores, pode ser indicada a imunoterapia, um tratamento moderno e eficaz, mas que não funciona para todos os casos.

17 – Todas as pessoas com câncer colorretal terão que usar bolsa de colostomia?

Não. Geralmente, a colostomia é necessária quando o paciente necessita de uma cirurgia de emergência, como em um caso de obstrução aguda do intestino, ou até mesmo uma perfuração intestinal. Outras indicações são quando o tumor ocorre no reto baixo, que é a última porção do intestino e o paciente perde o controle das funções do esfíncter.

Vale salientar que a colostomia é necessária para a minoria dos pacientes com câncer colorretal, e a realização de colonoscopia preventiva reduz muito o risco de ocorrer um tumor avançado, que necessite de uma colostomia no futuro.

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18 – A doença tem cura?

Sim. Quanto mais precoce for realizado o diagnóstico, maior a chance de cura. Existem alguns casos em que é possível curar pacientes metastáticos para o fígado e para os pulmões, mas as chances são reduzidas quanto mais avançada é a doença.

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