Câncer no intestino faz cabeleireira abandonar pole dance e descobrir uma nova paixão

Advalda Silva Santos conta como passou a praticar dança do ventre no segundo capítulo da série do Estadão ‘Vida pós-câncer’

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Foto do author Gonçalo Junior
Atualização:

Depois do câncer no intestino, em 2019, Advalda Silva Santos perdeu parte da sensibilidade nas mãos. Foi uma das sequelas do tratamento de quimioterapia. Por isso, a cabeleireira de 56 anos ficou insegura para voltar ao pole dance, combinação de dança e ginástica que é a paixão de sua vida – ela até ganhou sua própria barra. Em vez de cruzar os braços, ela os abriu – literalmente – para a dança do ventre.

“Dança é cura”, diz a cabeleireira sorridente e espontânea que junta as mãos em sinal de gratidão a cada três ou quatro frases. É fácil perceber isso no curso gratuito de dança oferecido pela UBS Vila Formosa II, na zona leste, toda quarta-feira. Cerca de 30 mulheres, de idades variadas, com ou sem comorbidades, praticam dança do ventre. É um programa da Prefeitura de São Paulo realizado em um salão da Igreja Vinho Novo.

A cabeleireira Advalda Silva Santos (no centro) trocou o pole dance pela dança do ventre depois do câncer no intestino . Foto: Werther Santana/Estadão

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A doença levou parte da sensibilidade, mas não se atreveu a tocar na maneira como ela se movimenta. Como diz a música dos Novos Baianos: A Menina Ainda Dança. “Eita que pergunta! Sinto tantas coisas. Sinto a energia da música. Quando meu corpo dança, minha mente balança. A dança me faz sorrir”, conta Wal, é assim que ela gosta de ser chamada.

É movimento de dentro para fora. Com a dança, ela passou a compreender melhor as novas formas do seu corpo. A cirurgia deixou uma cicatriz de 30 cm, dos seios até a virilha. Não dói. Ela usa a bolsa de colostomia, mas ainda não é o momento de tratar desse tema.

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Embora a palavra “cura” deva ser evitada ao falar de câncer, em função da possibilidade de retorno da doença, ela não fica tão fora de propósito no caso de Wal. O câncer de intestino, que abrange parte do intestino grosso chamada cólon e no reto (final do intestino) e ânus, é tratável. Na maioria dos casos, o segundo tipo de câncer mais comum no País é curável ao ser detectado precocemente. É o que explica Maria Ignez Braghiroli, oncologista clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

“É um dos pouquíssimos tumores nos quais é possível pensar em cura. Na maior parte das vezes, quando a célula cancerígena sai do intestino, ela para no fígado em função da circulação intestinal. Com isso, é possível fazer uma cirurgia e retirá-las. Mesmo com a doença em metástase, ainda há chance de cura, de acordo com a situação”, diz uma das diretoras da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), do Grupo Brasileiro de Tumores Gastro Intestinais.

Quando Wal começou a sentir náusea e vômito, o médico desconfiou de uma virose. Exames detalhados comprovaram um tumor de estágio 3, quando ele já está avançando para os linfonodos, espécie de filtros para substâncias nocivas. A música parou. “Foi um silêncio dentro de mim.” Foi uma semana entre o diagnóstico e a cirurgia de emergência.

Todo o tratamento, inclusive os seis meses de quimioterapia, foram feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital Icesp. O cabelo da cabeleireira ficou fraco, mas não caiu totalmente. Ela teve uma nova chance, como definiram os médicos. Hoje, ela está bem como mostra o gesto largo com o véu lilás passando pelo cabelo no final da dança – só foi difícil segurar a pose por mais tempo na hora da foto.

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O próximo passo é a retirada da bolsa de colostomia, ligação do intestino grosso à parede do abdome que permite a saída das fezes para uma bolsa externa, na barriga. Vanessa Prado, médica do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho, afirma que ela é indicada para os casos mais graves. “Todo hospital tem um treinamento para o paciente e acompanhante a respeito desses cuidados. Mas o paciente acaba vivendo normalmente bem.”

A cabeleireira Advalda Silva Santos pratica dança do ventre em um projeto gratuito da Prefeitura de São Paulo na Vila Formosa, na zona leste. Foto: Werther Santana/Estadão

Embora seja um tema espinhoso, pois a maioria dos pacientes tem vergonha do uso, Wal fala “de boa” sobre o tema, como ela define. A bolsa gera insegurança para a paciente voltar ao pole dance. Ela toma banho duas vezes por dia e usa um lençol, sempre combinando com a roupa, para que as pessoas não percebam o uso.

E a barra? Está guardada, embalada e pronta para financiar um novo projeto. Wal pretende vendê-la e viajar para Portugal. Alana, sua amiga de dança há sete anos, foi para lá há seis meses e vive em Carvoeira, perto de Ericeira. Alana brinca que a cama de Wal já está até pronta. As duas sonham em montar um estúdio de dança em Portugal.

Câncer do intestino tem cura. Veja perguntas e respostas

Como prevenir o câncer no intestino?

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Peso corporal adequado, atividade física regular e alimentação saudável são fundamentais. Comida saudável abrange alimentos in natura e minimamente processados, como frutas, verduras, legumes, cereais integrais, leguminosas, grãos e sementes. Deve-se evitar o excesso de carnes processadas (salsicha, mortadela, linguiça, presunto, bacon..) e limitar o consumo de carnes vermelhas a até 500 gramas de carne cozida por semana. Não fumar e não se expor ao tabagismo são importantes.

Quais fatores aumentam o risco?

Além do excesso de peso corporal e alimentação não saudável, a história familiar de câncer de intestino, ovário, útero ou mama, tabagismo e consumo excessivo de bebidas alcoólicas elevam o risco. Doenças inflamatórias do intestino, como retocolite ulcerativa crônica e doença de Crohn, também podem contribuir.

Câncer de intestino tem cura?

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O câncer de intestino é uma doença tratável e frequentemente curável quando identificado precocemente. Quando a doença está espalhada, com metástases para o fígado, pulmão ou outros órgãos, as chances de cura ficam reduzidas.

Como é o tratamento?

O tratamento depende principalmente do tamanho, localização e extensão do tumor. A cirurgia é o tratamento inicial. Ela retira a parte do intestino afetada e os gânglios linfáticos (estruturas que fazem parte do sistema de defesa do corpo) dentro do abdome. Outras etapas incluem a radioterapia (radiação), associada ou não à quimioterapia (medicamentos), para diminuir a possibilidade de recidiva (retorno) do tumor.

O que é colonoscopia?

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É o exame do cólon (intestino grosso) e do íleo terminal (porção final do intestino delgado). Maria Ignez Braghiroli, oncologista clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), explica que a colonoscopia permite encontrar lesões precursoras (pólipos) que, com os anos, podem se tornar um câncer. De acordo com a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), a identificação dos pólipos é fundamental para a prevenção do câncer colorretal. Saiba mais sobre a colonoscopia aqui.

Onde procurar ajuda em caso de câncer de intestino?

ICESP - Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - https://www.icesp.org.br

Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED) - https://www.sobed.org.br

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Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) - https://sbcp.org.br

Todos juntos contra o câncer - https://tjcc.com.br

De que forma a dança se relaciona com outras formas de tratamento do câncer?

Práticas integrativas resgatam saberes tradicionais de saúde de vários povos e fazem uma combinação com medicina tradicional. Em relação à dança, Adalberto Kiochi Aguemi, coordenador da Saúde Integrativa da Secretaria de Saúde da Prefeitura de São Paulo, explica que as modalidades específicas da Política Nacional de Práticas Integrativas são a biodança e a dança circular, que resgatam danças étnicas, como indígenas e africanas. “Podemos ampliar esse guarda-chuva para outras formas. Nós valorizamos a dança de salão, por exemplo, mas de forma específica, ela não é considerada a política nacional”.

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Onde procurar informações sobre bem-estar e qualidade de vida

Instituto Quimioterapia e Beleza - https://www.quimioterapiaebeleza.com.br/

Instituto Oncoguia - http://www.oncoguia.org.br/

Instituto Vencer o Câncer - https://vencerocancer.org.br/

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Cabelegria - https://www.cabelegria.org/

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