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Exposição anterior a outros coronavírus pode levar a sintomas mais leves da covid-19, diz estudo

Descoberta pode ajudar no desenvolvimento de uma vacina; pesquisadores, porém, alertam que ainda é muito cedo para dizer se memória imunológica garante que as pessoas estejam totalmente protegidas

Por Marina Aragão
Atualização:

SÃO PAULO - Pessoas que foram expostas a outros tipos de coronavírus, como aqueles que causam resfriados comuns, podem desenvolver sintomas menos graves da covid-19, aponta um novo estudo feito por cientistas do Instituto de Imunologia de La Jolla, na Califórnia (EUA). A pesquisa, publicada na revista Science na terça-feira, 4, analisou amostras de sangue de alguns voluntários coletadas em 2019, quando o novo coronavírus ainda não estava circulando pelo mundo. Apesar dos resultados, os pesquisadores ponderam que ainda é cedo para dizer se a memória imunológica pré-existente garante que as pessoas estejam totalmente protegidas contra a nova doença.

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De acordo com o estudo, células T que já memorizaram os coronavírus comuns também conseguiram atacar o Sars-CoV-2, o vírus que causa a covid-19 - o que pode explicar por que o impacto da doença varia entre pacientes com mesma faixa etária e perfil, por exemplo. A pesquisa pode ajudar, assim, a entender a evolução do novo coronavírus na população. Em todo o mundo, a pandemia já deixou mais de 700 mil mortos - uma a cada 15 segundos

O grupo identificou que o mecanismo de ataque existente em pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 correspondia ao das que foram contaminadas por outros coronavírus de resfriado, especificamente os vírus OC43, 229E, NL63 e HKU1. "Agora, provamos que, em algumas pessoas, a memória pré-existente de células T contra o coronavírus comum do resfriado pode reconhecer o SARS-CoV-2, até as estruturas moleculares exatas", disse Daniela Weiskopf, professora assistente da pesquisa. "Isso pode ajudar a explicar por que algumas pessoas apresentam sintomas mais leves da doença, enquanto outras ficam gravemente doentes." Foram analisadas amostras de voluntários de Estados Unidos, AlemanhaReino Unido, HolandaCingapura

Os especialistas explicam, ainda, que o tipo de resposta imune contra o patógeno não foi aquela baseada na produção de anticorpos. O que ocorreu foi uma resposta do tipo celular em linfócitos T, uma classe específica de células do sistema que atacam outras células infectadas. "A reatividade imunológica pode se traduzir em diferentes graus de proteção. Ter uma resposta forte das células T ou uma resposta melhor das células T pode dar a oportunidade de montar uma resposta muito mais rápida e forte", explicou Alessandro Sette, um dos autores do estudo.

Proteína no sangue de pacientes com covid-19 pode indicar evolução e gravidade da doença, dizem pesquisadores da USP e UFSCar. Foto: Steve Parsons/Pool via REUTERS

Descoberta pode ajudar no desenvolvimento de vacina

A descoberta sugere que o combate a um coronavírus comum do resfriado - “os primos menos perigosos” - pode, de fato, ensinar as células T a reconhecer algumas partes do SARS-CoV-2. O novo estudo baseia-se em um trabalho anterior do mesmo Instituto, que sugere que entre 20% e 50% das pessoas nunca expostas ao SARS-CoV-2 tinham células T que reagiram ao vírus.

Aprofundando a pesquisa, os cientistas descobriram que, embora algumas células T cruzadas tenham como alvo a proteína da espícula do SARS-CoV-2 (spike, em inglês), a região do vírus que se liga às células humanas, a memória imune pré-existente também foi direcionada para outras proteínas do SARS-CoV-2. 

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Esse achado é relevante, explica Sette, já que a maioria dos candidatos à vacina tem como alvo principalmente a proteína da espícula. Esses achados sugerem que a inclusão de alvos adicionais do SARS-CoV-2 pode aumentar o potencial de aproveitar essa reatividade cruzada e a potência de um eventual imunizante.

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