Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, será 1ª mulher a comandar Ministério da Saúde

Cientista social acumula 35 anos de trabalho na fundação e teve protagonismo durante a pandemia de covid-19

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Por Fabiana Cambricoli
Atualização:

Escolhida pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar o Ministério da Saúde a partir de janeiro de 2023, a cientista social Nísia Trindade Lima será a primeira mulher a chefiar o órgão desde que ele foi criado, em 1953. Desde então, passaram pelo cargo 50 ministros, todos homens.

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Nísia já havia feito história na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ao tornar-se a primeira mulher a ocupar a presidência da instituição em seus 120 anos de existência. Cientista social com mestrado em ciência política e doutorado em sociologia, ela assumiu o cargo mais alto da fundação em 2017, após ser a mais votada da lista tríplice. Foi reeleita em 2020 para outros quatro anos de um segundo mandato, que iria até 2024.

“A prioridade é usar todo o potencial do SUS, com os seus serviços próprios, a área que envolve os hospitais filantrópicos, que respondem a 50% das internações do SUS, e também o setor privado para um grande esforço no sentido de colocarmos critérios, indicarmos e sinalizarmos os encaminhamentos de prioridade para a regulação, dando transparência a esse processo”, afirmou Nísia à Agência Fiocruz de Notícias após o anúncio. “Esse já é um esforço que estamos trabalhando e tem muitos elementos na transição para nos ajudar nesse sentido. Também pensamos em mutirões em áreas de vazios assistenciais; esse é o foco prioritário, como o própro presidente Lula vem falando”, completou.

Antes de assumir a presidência da Fiocruz, Nísia já acumulava mais de três décadas de trabalho na instituição, entre cargos técnicos e executivos. Ingressou na fundação em 1987 como pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, onde tornou-se diretora em 1999. Em 2006, assumiu a gestão da Editora Fiocruz. De 2011 a 2016, foi vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz.

Nísia Trindade, presidente da Fiocruz Foto: Peter Ilicciev/Fiocruz

Ganhou ainda mais protagonismo durante a pandemia de covid-19, quando liderou, pela Fiocruz, iniciativas essenciais para o enfrentamento da pandemia, como a produção de milhões de testes diagnósticos de coronavírus e a parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica Astrazeneca para a produção da vacina inglesa no Brasil com ingrediente farmacêutica ativo (IFA) importado.

Como presidente da Fiocruz, também criou o Observatório Covid-19, rede transdisciplinar que realiza pesquisas e sistematiza dados epidemiológicos, além de monitorar e divulgar informações para subsidiar políticas públicas contra o coronavírus e seus impactos sociais. Em dezembro de 2020, foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na categoria ciências sociais.

Desafios

No comando do Ministério da Saúde, Nísia terá como principais desafios as dificuldades orçamentárias deixadas pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) e a recuperação de programas como o Farmácia Popular e de vacinação, enfraquecidos nos últimos quatro anos.

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O governo de transição buscava uma recomposição orçamentária de quase R$ 23 bilhões para a Saúde para conseguir arcar com ações regulares e ampliar programas. Esse foi o valor cortado do Orçamento de 2023 pela gestão Bolsonaro. Ao menos parte desse montante será recuperado por meio da PEC da Transição, aprovada na quarta-feira, 21, pelo Congresso, mas os desafios deixados pela pandemia e pelo desmonte de algumas políticas provavelmente exigirão recursos além do recomposto.

Nísia também terá que encabeçar ações de fortalecimento do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que apesar de ser modelo para o mundo, vem assistindo à queda expressiva da cobertura vacinal de quase todos os imunizantes. Lula e os membros do governo de transição já haviam anunciado que uma grande campanha de vacinação será uma das ações prioritárias para os primeiros meses de gestão.

Outro problema é a fila de procedimentos da saúde, problema histórico agravado durante a pandemia de covid-19, quando milhões de consultas, exames e cirurgias eletivas foram adiadas ou canceladas.

O Conselho Nacional de Secretários Estaduais da Saúde (Conass) estima que 11,6 milhões de cirurgias (hospitalares e ambulatoriais) deixaram de ser feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2020 e 2021. Os Estados pediram ao grupo de transição R$ 3 bilhões para atender a demanda. O governo eleito avalia a possibilidade de parceria com a rede privada para mutirões.

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