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Produtos para alisar o cabelo podem elevar o risco de câncer de útero, diz estudo

Pesquisadores acompanharam milhares de mulheres por uma década nos Estados Unidos; descobertas, no entanto, são preliminares

Por Lindsey Bever
Atualização:

THE WASHINGTON POST - Um novo estudo surpreendente encontrou uma associação entre produtos químicos de alisamento de cabelo e câncer de útero, deixando muitas mulheres que usam os produtos com dúvidas sobre a segurança dessa rotina de cuidados com os cabelos. A pesquisa, publicada segunda-feira, 17, no Journal of the National Cancer Institute, acompanhou milhares de mulheres americanas por mais de uma década e encontrou uma associação entre o uso de produtos químicos de alisamento de cabelo e um risco aumentado de desenvolver câncer, que é raro, mas tem crescido constantemente em todo o país.

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No estudo, as mulheres que usaram produtos para alisar os cabelos mais de quatro vezes por ano eram duas vezes mais propensas a desenvolver câncer do que aqueles que não os usaram. As descobertas, relatadas pelo National Institutes of Health (NIH), são vistas como preliminares, e mais estudos são necessários antes que o aconselhamento específico do produto esteja disponível.

Conversamos com os pesquisadores do estudo e outros especialistas sobre como as pessoas que usam esses produtos devem reagir às notícias.

O que os pesquisadores encontraram?

O novo estudo, liderado pelo Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental do NIH, analisou dados de quase 34 mil mulheres nos Estados Unidos do Sister Study, um estudo de uma década que analisou fatores de risco para câncer de mama e outros problemas de saúde entre mulheres de 35 a 74 anos.

Os pesquisadores descobriram que, durante esse período, 378 mulheres do Sister Study foram diagnosticadas com câncer e encontraram uma associação entre seus diagnósticos e certas rotinas de cuidados com os cabelos. Embora o risco geral de câncer fosse baixo, os pesquisadores descobriram que o risco parecia aumentar com o uso mais frequente dos produtos químicos.

Riscos aumentam se o alisamento com produtos for feito mais de quatro vezes por ano. Foto: Ron Lach/Pexels

Entre as mulheres que usaram os produtos pelo menos uma vez no ano passado, 2,82% podem desenvolver câncer aos 70 anos – um risco 1,18% maior do que aquelas que nunca usaram os produtos. Entre os usuários frequentes de alisadores de cabelo – aqueles que usaram os produtos mais de quatro vezes no ano passado -, cerca de 4% podem vir a desenvolver câncer, o que se traduz em um risco 2,5 vezes maior em comparação com aqueles que nunca usaram os produtos.

O câncer de útero é raro, mas os casos e as mortes relacionadas têm aumentado nos Estados Unidos. Em 2022, estima-se que cerca de 66.000 mulheres foram diagnosticadas com câncer, e mais 12.500 pacientes morreram da doença, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer. Os dados mostram que as taxas de mortalidade são mais altas entre as mulheres negras não hispânicas.

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Mulheres negras estão em maior risco?

Pesquisas mostram que o câncer de útero, especialmente os subtipos mais agressivos, afeta desproporcionalmente as mulheres negras, mas o novo estudo descobriu que mulheres de todas as raças e etnias que usavam produtos químicos de alisamento de cabelo estavam em maior risco de desenvolver câncer.

Mas como as mulheres negras relataram alisar seus cabelo com mais frequência, os pesquisadores sugeriram que pode ser mais um fardo para essa população. “Eu não acho que as mulheres negras estejam necessariamente em maior risco por usar esses produtos. Mas elas são mais propensas a serem as que estão usando esses produtos”, disse Alexandria White, que dirige o Grupo de Epidemiologia do Câncer dentro do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental do NIH e é a principal autora do estudo.

“Então, realmente, a carga de saúde pública desses produtos capilares cai nessa população.”

Devo parar de alisar meu cabelo?

Susan Taylor, professora de dermatologia da Perelman School of Medicine da Universidade da Pensilvânia, disse que, apesar de querer ver estudos adicionais sobre o assunto, “isso (a pesquisa) é o suficiente para eu mencionar aos meus pacientes e para eles pensarem se precisam de fato alisar seus cabelos”.

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Susan afirmou que, neste momento, não diria a seus pacientes para não alisar quimicamente seus cabelo, mas ela pode sugerir que eles façam isso com menos frequência, talvez sazonalmente. Segundo White, os pesquisadores viram que o uso menos frequente não estava tão fortemente associado com risco de câncer, “mas também estamos cientes do fato de que há muita pressão sobre as mulheres e, em particular, as mulheres negras, para se adequarem a essas normas de beleza e que esta pode não ser uma decisão fácil”.

Susan Taylor apontou que tem havido um movimento em direção a adotar um estilo mais natural de cabelo.

Alisar os cabelos com produtos químicos pode aumentar os riscos de câncer de útero. Foto: Pexels

Por que há preocupações sobre os produtos químicos de alisamento de cabelo?

Os pesquisadores reconheceram no estudo que não analisaram os ingredientes específicos nos produtos de alisamento de cabelo que as mulheres usaram, mas levantaram a hipótese de que vários produtos químicos encontrados rotineiramente em tais produtos – formaldeído, metais e parabenos – poderiam estar associados ao aumento risco de câncer.

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Eles também observaram que os alisadores, em particular, podem ser mais arriscados do que alguns outros produtos capilares por causa da forma como os alisantes podem causar queimaduras e escoriações no couro cabeludo, possivelmente aumentando a absorção dos produtos químicos.

Em um estudo anterior, pesquisadores encontraram uma associação entre tintura de cabelo e alisadores e um risco aumentado de desenvolver câncer de mama e ovário. Mas é importante notar que o novo estudo não encontrou conexão entre câncer e outros produtos, como tinturas de cabelo, soluções de descoloração e permanente.

Devo me preocupar com minha saúde?

Médicos dizem que a nova pesquisa deve ser levada a sério, mas alertaram que é simplesmente um primeiro passo para entender a associação entre produtos químicos de alisamento de cabelo e câncer de útero. Oliver Dorigo, diretor e professor associado de oncologia ginecológica da Universidade de Stanford, disse que, embora a obesidade seja um importante fator de risco para o câncer, “este estudo nos lembra que outros fatores que ainda não identificamos podem desempenhar um papel importante, incluindo toxinas ambientais, pois podem estar presentes em produtos capilares”.

Mas, Dorigo acrescentou, mais pesquisas são necessárias para responder a algumas questões importantes. “O que o estudo não pode realmente responder é a causalidade da relação – o que realmente é responsável por causar o aumento da câncer no produtos capilares? Não sabemos muito sobre a biologia desses produtos no que se refere ao endométrio, que está no revestimento do útero”, disse ele.

“Acho que este estudo realmente exige mais investigação, principalmente em relação aos efeitos dos ingredientes do produtos capilares nos órgãos ginecológicos em geral.” Enquanto isso, White disse que as mulheres não devem entrar em pânico, ressaltando que o aumento de risco de câncer é pequeno.

“Há muitas coisas diferentes que influenciam o risco de uma mulher desenvolver câncer, e este é apenas um fator que pode estar relacionado”, disse ela.

O que mais devo saber sobre câncer de útero?

Outros riscos potenciais para câncer de útero incluem obesidade, problemas para engravidar, tomar estrogênio – sem progesterona – para terapia de reposição hormonal durante a menopausa, tomar o medicamento tamoxifeno para tratar a câncer de mama e uma história familiar de câncer de útero, cólon ou ovário, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

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Os sintomas podem incluir sangramento ou descarga anormal, dor ou pressão na área da pelve.

O mais importante é que o câncer de útero é tratável. A taxa de sobrevida em cinco anos para mulheres com câncer é de 81%, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o que significa que 81% das mulheres estarão vivas cinco anos após o diagnóstico. E o prognóstico é ainda melhor – uma taxa de sobrevivência de quase 95% em cinco anos, quando o câncer está localizado e não se espalhou para além do útero.

Se você tiver dúvidas ou preocupações sobre o risco de desenvolver câncer, fale com seu médico.

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