Aos 35 anos, Tamar salva mil vezes mais

Filhotes de tartarugas marinhas soltos na natureza chegam a 2 milhões neste ano; em 1981, quando o projeto começou, foram 2 mil

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Por Tiago Décimo
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SALVADOR - Ao completar 35 anos, o Projeto Tamar comemora recorde: em 2014, o número de filhotes de tartarugas marinhas soltos na natureza foi mil vezes maior que o registrado no primeiro ano da iniciativa. Foram mais de 2 milhões neste ano. Em 1981, quando ocorreram as primeiras solturas, foram cerca de 2 mil.

"A gente não poderia imaginar que as populações de tartarugas marinhas no Brasil fossem se reproduzir de maneira tão forte", diz o coordenador nacional e um dos fundadores do Tamar, o oceanógrafo Guy Marcovaldi. "Estamos vendo a renovação do ciclo. As primeiras tartarugas liberadas voltaram ao local de nascimento para ter seus filhotes. Já me considero avô de tartaruga."

Projeto Tamar completa 35 anos Foto: Projeto Tamar/Divulgação

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Marcovaldi lembra das origens do projeto para explicar parte do sucesso de um dos programas de preservação ambiental mais bem-sucedidos do País. Segundo ele, a ideia partiu da indignação de estudantes de Biologia que se depararam com a matança de tartarugas por parte de pescadores no Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte.

"Éramos estagiários do Museu Oceanográfico de Rio Grande (no Rio Grande do Sul) e estávamos fazendo trabalho de coleta de conchas para o acervo do museu, em janeiro de 1977, no Atol das Rocas", recorda. "Na madrugada, uma das participantes, a bióloga Monica Brick Peres, veio gritando, pedindo socorro, depois de ver que pescadores tinham capturado 11 tartarugas fêmeas que estavam desovando. Eles mataram três delas, mas conseguimos salvar oito."

A ideia do grupo, então, foi registrar a matança com fotos e enviá-las ao governo federal. "Não sabíamos que as tartarugas marinhas desovavam no Brasil, não havia pesquisa sobre o tema. Fizemos fotos da matança e enviamos para o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), que era o órgão ambiental oficial na época."

A denúncia encontrou um governo receptivo à ideia de promover uma ação para proteger a fauna marinha, segundo o oceanógrafo. "Naquele momento, o Brasil não tinha nenhum trabalho de preservação ambiental na área marinha e o interesse sobre o tema era crescente no mundo, por causa de campanhas internacionais que vinham sendo desenvolvidas, como o Salve as Baleias."

De acordo com Marcovaldi, houve vontade política do governo e o "casamento” entre a fundação e a administração pública deu estabilidade ao projeto. “Foi o primeiro passo para o sucesso do Tamar.” Ainda em 1977, o IBDF chamou o grupo de estudantes para elaborar um projeto de preservação, que contemplasse a construção de unidades de pesquisa.

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"Por dois anos, percorremos todo o litoral brasileiro para conhecer os pontos de desova e fazer o diagnóstico da situação." Assim, o grupo apresentou o projeto e, em 5 de junho de 1979 (Dia Mundial do Meio Ambiente), foi criada a Reserva Biológica de Atol das Rocas. 

"Foi anexado ao orçamento da União o financiamento ao Projeto Tartaruga Marinha, como foi chamado na época. Consideramos essa a data oficial do início do Tamar." / COLABOROU FÁBIO DE CASTRO

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