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Ciclone extratropical: fenômeno que atinge Sul do País teve formação atípica; entenda

Especialistas explicam que os impactos do fenômenos foram sentidos com mais intensidade porque ciclone se formou mais próximo do continente, o que é incomum

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Por Caio Possati
Atualização:

O ciclone extratropical que tem causado transtornos nos Estados do Sul e Sudeste do País, desde quarta-feira, 12, teve uma formação considerada incomum, segundo meteorologistas ouvidos pelo Estadão. Eles explicam que as tempestades e as fortes rajadas de ventos foram sentidas com muita intensidade porque o ciclone se formou sobre o continente e não sobre o oceano, como é mais comum de acontecer.

A meteorologista Estael Sias, da MetSul, explica que essa potência de temporais e vendáveis, que chegou a 150 km/h, foi provocada pela somatória de dois fatores principais: formação do ciclone extratropical mais perto do continente, e também por uma pressão muito baixa no centro do ciclone. “Foi isso que gerou ventos tão fortes em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul”, diz.

Ventos no Rio Grande do Sul foram tão potentes a ponto de causar a queda de árvores. Foto: Semma

‘Uma pressão abaixo de 1.005 hectopascal já está dentro do critério que a gente utiliza para chamar de ciclone extratropical. Só que, nesse caso, a pressão chegou a 994 hectopascal. Não é tão comum a gente registrar ciclones próximos da costa com a pressão tão baixa assim”, afirmou Estael.

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O meteorologista Olívio Bahia, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), segue na mesma direção. Ele diz que os ciclones extratropicais, que estão associados às frente frias, costumam se formar mais sobre os oceanos, e que esse, em específico, causou muitos impactos, porque atingiu áreas povoadas.

“O ciclone se formar em região continental não é comum. A gente não tem um sistema assim se formando toda semana ou todo mês. Eles são mais comuns de formar, climatologicamente, em áreas oceânicas. Este, infelizmente, se formou em áreas habitadas”, comenta o meteorologista.

Estael Sias acrescenta ainda que outra condição encontrada foi a diferença de pressão atmosférica na região, onde se tinha um centro da alta pressão na Argentina e o de baixa pressão na costa do Rio Grande do Sul. “Essa diferença de pressão atmosférica é que potencializa o vento forte. Esse era o cenário que a gente tinha”, diz.

Por estar entre a linha do Equador, região mais quente do planeta, e o Polo Sul, mais fria, o Brasil se encontra em uma faixa de “nascimentos de ciclones”, como definiu Estael.

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“Estamos expostos a essas grandes variações de temperatura, e esse contraste térmico é que forma os ciclones extratropicais”, diz. “Faz parte da nossa climatologia a ocorrência de fenômenos com essa características, mas ter a pressão atmosférica tão baixa perto do continente não é comum, é uma condição mais difícil de acontecer”, completa.

As razões que explicam uma formação do ciclone mais ao continente do que em áreas oceânicas, como é o habitual, não é simples, segundo Bahia. Para entender, é necessário levar em consideração que a atmosfera é dividida em três camadas, a baixa (superfície, onde estamos), média e alta, e que a interação do fluxo do ar, ao longo dessas camadas, é o que dá origem a formação desses ciclones.

A região entre o norte da Argentina, Uruguai e sul do Brasil, especificamente, é uma “área baroclínica”, ou seja, um lugar com características de instabilidade climática por ter um centro de baixa pressão atmosférica próximo à superfície. “A interação da baixa pressão com o comportamento dos ventos nas camadas média e alta da atmosfera dão origem a estes ciclones que costumam se formar mais entre o oceano e a costa, do que propriamente no continente.”

Os especialistas dizem que não é possível afirmar que fenômenos como o que atingiu parte do Brasil esta semana estão mais frequentes ou mais potentes. Olivio Bahia lembra que, embora as mudanças climáticas estejam interferindo na temperatura dos oceanos, alterando o padrão da dinâmica atmosférica, é necessário considerar que mais pessoas estão sentindo os impactos desses fenômenos em função da atual condição de vida.

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“Tem estudos que indicam que a água do oceano está aquecendo, o degelo está aumentando e isso muda o padrão da dinâmica atmosférica. Mas eu destacaria também o mal uso do solo, a elevação do número de habitantes morando em locais onde não poderiam, como morros e áreas de risco de deslizamento. Tudo isso vai somando para tragédias ainda maiores.”

Previsão de dias frios para os próximos dias

De acordo com Olívio Bahia, do Inmet, a previsão para os próximos dias é de ventos na parte da manhã e início da tarde no litoral do Estados do Sul do Brasil, com a previsão de chuva fraca nas áreas próximas da costa. Mas a tendência é que os vendáveis e temporais percam força a medida que o ciclone extratropical se desloca em direção ao oceano, se afastando do continente.

Sexta e o sábado, porém, devem registrar quedas na temperatura, segundo o especialista, com possibilidade de neve em regiões da serra gaúcha e catarinense. Estados do sudeste, como São Paulo; do Centro-Oeste, como Mato Grosso do Sul; e até do Norte, como Amazonas, podem sentir mais frio ao longo do final de semana.

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“O ciclone está associado a uma frente fria, que nesta quinta está entre São Paulo, Rio de Janeiro e o sul do Mato Grosso do Sul. E por trás dessa frente fria que cruza o Brasil vem ar frio, que deve manter o sul e outras regiões mais geladas entre sexta e sábado, com uma pequena condição de neve nas serras de Rio Grande do Sul e Santa Catarina”.

De acordo com Bahia, o frio deve perder força a partir de domingo, e as temperaturas podem subir gradativamente na semana que vem.

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