El Niño, ligado a ciclone no Rio Grande do Sul, ainda não atingiu ápice. Quando será isso?

Fenômeno climático eleva temperaturas do Oceano Pacífico e é responsável pela intensidade da tragédia registrada no Rio Grande do Sul na última semana

PUBLICIDADE

Foto do author Roberta Jansen
Por Roberta Jansen
Atualização:

O El Niño, que eleva as temperaturas do Oceano Pacífico, está por trás da intensidade das chuvas registradas e do ciclone no Rio Grande do Sul este mês, que deixaram 46 mortos e milhares de desabrigados. O ápice do fenômeno está previsto para ocorrer entre dezembro e janeiro, prolongando o período de maior risco de desastres naturais para o Sul do País.

PUBLICIDADE

O aquecimento anormal das águas do oceano altera as correntes de ventos e as precipitações em diversas partes do globo. No Sul do Brasil, especificamente, o El Niño provoca tempestades intensas e frequentes, que devem se repetir esta semana. Segundo previsão do Metsul feita neste domingo, 10, esta semana será de mais chuva e enchentes no Sul, com a possibilidade da formação de um novo ciclone extratropical perto da costa brasileira até quinta-feira, 14.

“A atmosfera está trabalhando em modo El Niño”, afirma Marcelo Seluchi, diretor-geral do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. “Infelizmente, vamos ter mais situações como as da semana passada, com episódios de chuva mais frequentes e mais intensos. Esse é o ‘padrão El Niño’ para o Sul.”

Lajeado foi uma das cidades mais atingidas pelo ciclone que atingiu o Rio Grande do Sul  Foto: DIEGO VARA/DIEGO VARA

A média de precipitação para setembro no Rio Grande é de 180 mm - a média registrada nos primeiros oito dias de setembro já foi de 200mm. E, nesses primeiros dias do mês, o Inmet registrou volumes superiores a 200 mm em muitas áreas, sendo que alguns locais chegaram a acumular mais de 300 mm, caso do Passo Fundo, Serafina Correa e Cruz Alta, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

O El Niño é um fenômeno natural e recorrente de aquecimento das águas do Pacífico. Como se trata de um oceano muito grande, a elevação das temperaturas superficiais das águas tem um impacto no regime de chuvas. A evaporação maior das águas aquecidas muda o regime de precipitações em várias partes do mundo.

O El Niño impacta também no regime dos ventos. No alto da atmosfera, a pelo menos oito quilômetros de altura, os ventos mais frios e mais intensos, chamados de jatos, tendem a se intensificar.

“Vento, calor e umidade. É tudo do que se precisa para a formação de tempestades”, explica o pesquisador do Cemaden Christopher Cunningham, especialista na área de clima. “Dadas essas condições, teremos de ficar de olho na passagem de todas as frentes frias pela região Sul pelo menos até o fim do ano.”

Publicidade

O sul do País costuma receber frentes frias vindas da Antártida. Quando essas frentes se chocam com o ar mais quente, a tendência é de formação de intensas tempestades e, até mesmo, de ciclones extratropicais.

Além disso, as mudanças climáticas tendem a agravar o El Niño. “Será que não estamos falhando na cultura da prevenção? A informação já está disponível”, disse Cunningham. “Não adianta depois dos desastres colocar a culpa em quem não pode se defender, no caso, o clima.”

Para o pesquisador, os efeitos do aquecimento global nos fenômenos climáticos já são evidentes. “Não é algo que vai acontecer no futuro, já está acontecendo”, diz.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.