A Subprefeitura da Sé, responsável pela região central da cidade de São Paulo, convocou a população a pedir a transformação de leitos carroçáveis em jardins de chuva e mini praças. Ao todo, 15 “vagas verdes” foram implementados desde setembro pelo projeto Gentileza Urbana, que promete entregar outras sete até o fim deste ano, ocupando espaços de 10 a 25 metros quadrados.
Segundo a subprefeitura, 32 munícipes responderam à convocatória, divulgada nas redes sociais, mas nem todos os endereços indicados tinham meio-fio adequado à intervenção urbana. O objetivo é “ampliar as possibilidades de permeabilidade e biodiversidade do solo, além de bem-estar aos munícipes”, drescreve.
“Um carro a menos/uma árvore a mais!” é o que destaca o título do chamamento do projeto, liderado por técnicos da subprefeitura e que será premiado em dezembro pela Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas (FNA). Trata-se de um contraponto ao avanço da Zona Azul, agora concedida e que congela o número de vagas de estacionamento rotativo por 15 anos.
Um dos primeiros a serem atendidos foi o arquiteto e urbanista Gustavo Paternostro, de 24 anos, que mora no distrito da Liberdade e estava interessado em incrementar a permeabilidade e as áreas verdes e de lazer da rua em que reside. “Sempre achei interessante a ideia de ocupar vagas de carros dando lugar a espaços que servissem tanto à cidade quanto às pessoas, como os parklets”, justifica o morador.
Após duas semanas de obras, o espaço onde antes cabiam dois carros recebeu dois bancos coletivos de cimento, uma árvore e plantas. “Um dia depois de a vaga verde ser concluída, as pessoas começaram a usá-la. Virou parte da rotina da vizinhança, todo mundo aproveita para conversar e descansar”, descreve.
Além disso, a área foi transformada em um “jardim de chuva”, técnica em que as entradas na guia permitem que a água escoe por uma depressão coberta por sedimentos e vegetação, dificultando alagamentos. “A função de jardim de chuva está sendo bem-sucedida, infiltrando quase toda a água da chuva que desce a rua. O resultado está sendo ótimo”, avalia Paternostro.
Em outras vagas verdes, também foram instalados paraciclos e mesas. Essas intervenções estão distribuídas nas Ruas Conselheiro Brotero, Capistrano de Abreu, Pires da Mota, Avanhandava, Conselheiro Nébias, do Lava-pés, General Júlio Marcondes, Carmelitas, Gabriel dos Santos, Maria José, da Graça, Teodureto Souto e Hermínio Lemos. A próxima, ainda em obras, é na Major Quedinho.
Além do projeto para as áreas centrais, a região da Subprefeitura da Vila Mariana está com a implantação em curso de duas vagas verdes na esquina das Ruas Décio e Uvaias, no distrito da Saúde, na zona sul. A iniciativa faz parte da quarta etapa do Projeto Piloto de Arborização de Calçadas, realizado pela Secretaria Municipal do Verde e do Ambiente.
A implementação das vagas verdes também está prevista no Plano Municipal de Arborização Urbana, apresentado em setembro. Um trecho destaca: “Explorar alternativas locacionais visando à arborização”, identificando com a CET vias públicas potenciais para implementá-las”.
Esse tipo de mudança dialoga com o conceito de “acupuntura urbana”, difundido pelo urbanista Jaime Lerner, de pequenas melhorias que podem ter efeitos práticos no dia a dia da população. Ele entende que intervenções urbanas, a depender da necessidade e da complexidade do problema, podem ser rápidas, baratas e de simples aplicação.
Professor de Urbanismo da Mackenzie, Valter Caldana destaca que esse projeto oferece a possibilidade de o cidadão reivindicar melhorias mais pontuais. Ele destaca, contudo, que é preciso que esteja inserido dentro de um planejamento amplo para os espaços públicos, para que as intervenções não fiquem isoladas e tenham um efeito mais abrangente.
Como ele destaca, metrópoles norte-americanas e europeias têm apostado na transformação das vagas antes ocupadas por carros. Um exemplo recente é Barcelona, que anunciou na semana passada uma expansão do programa de superquadras, com a criação de 21 eixos verdes e 21 praças de bairro ao longo de 61 ruas, ocupando vias, cruzamentos e outros espaços antes destinados aos automóveis.
O programa catalão tem o objetivo que todos os moradores tenham uma área verde a até 200 metros de casa. “Espaços asfálticos, hoje dedicados quase exclusivamente ao tráfego, se transformação em áreas de estar amigáveis, com vegetação, jogos, calçadas permeáveis e outros usos desempenharão um papel importante”, diz comunicado do governo local.