Uma cidade medieval no sul da França, toda de tijolos e embelezada por terraços e jardins. Art de vivre com toque moderno e, ao mesmo tempo, o sabor de se hospedar em um castelo do século 12. Vinhos únicos de cepas ancestrais como mauzac, duras, braucol e loin-de-l’oeil, hoje trabalhadas no ritmo do sol, da lua e das constelações. Embutidos que por si só representam uma imersão na gastronomia local.
Alegrem-se viajantes de todos os horizontes: a região francesa de Tarn é uma combinação perfeita onde se podem curtir todas essas pequenas grandes coisas, tout ensemble, tudo junto. Um herborista que fabrica os próprios perfumes, extraídos dos musgos da floresta; um mercadinho no campo que só funciona aos domingos. Aliadas a tudo isso, obras de Tolouse-Lautrec, o pintor que, no auge do Impressionismo, ousou criar nova linguagem.
Albi representa de modo particular essa paisagem única. No coração medieval da cidade é impossível não lembrar de O Nome da Rosa, filme baseado no best-seller do escritor italiano Umberto Eco. Albi (pronuncia-se Albí) remete a alba, cor branca em latim, embora o fim da tarde, quando o sol pincela seus tijolos, explique o apelido La Rouge.
Com o intuito de mostrar o poder da Igreja Católica, os bispos iniciaram, em 1282, a construção da monumental igreja dedicada a Santa Cecília, patrona dos músicos. A obra de arte gótica revela um mundo de contrastes entre a austeridade do exterior e a profusão de detalhes internos. A catedral compõe com o Palácio Berbie, antiga residência dos bispos, uma extraordinária cidadela que avança para o céu com suas muralhas, torres, campanários, pórticos, arcadas e escadarias. Todo esse volume ocre-avermelhado pousa no jardim à francesa, de arabescos verdes que circundam canteiros em flor.
Mercado da cor. A cidade começou a crescer ao redor da catedral. Casas maiores e outras mais modestas compõem um conjunto harmonioso graças ao uso do tijolo aparente. A partir do século 15, duas ervas utilizadas como corantes de tecidos fizeram Albi prosperar: o açafrão Crocus sativus e o pastel, planta de cachos de flores amarelas e miúdas, a Isatis tinctoria.
Dos pistilos vermelhos retirados da flor do açafrão os albigenses produziam os mais belos tons de amarelo, ocre e laranja. Mas foi sobretudo com as folhas do pastel que, maceradas, resultavam em sete nuances de azul, que a cidade enriqueceu. A expressão pays de cocagne (terra da abundância) nasceu ali e deriva da palavra coque, bolas de pasta das folhas.
Os ricos comerciantes ergueram palacetes de tijolos com diferentes grafismos, entremeados por grossas traves de madeira e batentes entalhados. Nos andares mais altos, solários secavam as folhas do pastel.
Percorrer Albi com calma e olhar atento é indispensável para notar, por exemplo, as placas de ferro trabalhado dos comércios da época medieval, como chaveiro, hospedaria, sapateiro, adega. Ou ainda descobrir jardins inesperados no fim de becos, junto a fontes, em terraços ou claustros secretos como o de Saint Salvi, onde flores brotam em meio às ervas de uma horta.