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Tal avô, tal neto

Alexandre Scabin recriou sorveteria que avô tinha na Itália, nos anos 20

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São Paulo, fevereiro de 2010

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É tarde de quarta-feira, faz calor e não há mesa vazia na pequena - mas aconchegante - sorveteria Stuzzi, que fica no número 450 da Rua Paulistânia, na Vila Madalena. "E pensar que não faz nem dois anos que abrimos...", reflete o proprietário do espaço, Alexandre Scabin, de 35 anos. Nem dois anos - deve pensar Alexandre - e a marca já foi reconhecida como a que faz o melhor sorvete da cidade .

Em sua cabeça, estão desenhados os próximos passos: uma nova unidade, em Moema ou nos Jardins; e apresentar a loja como opção aos shoppings paulistanos.

"Ainda não sabemos quando vamos inaugurar mais uma, mas, no pouco tempo livre que sobra, estamos nos dedicando a procurar um bom ponto", diz ele, que trabalha de domingo a domingo - e conjuga os verbos no plural em referência à sua mulher, a médica Camila, que faz as vezes de barista na Stuzzi - sempre foi apaixonada por cafés - e é braço direito no negócio.

Sappada (Itália), anos 30

A sorveteria Stuzzi, tocada por Vittorio Scabin, avô de Alexandre, era o point do pequeno vilarejo da região do Vêneto. "A felicidade é um sorvete", costumava repetir o então jovem empreendedor.

Vittorio inventava as próprias receitas - legou à família um caderno com instruções manuscritas para mais de cem sabores - e utilizava, entre os ingredientes, neve. "De certa forma, são as receitas que usamos até hoje", revela Alexandre. "Claro que, com algumas adaptações e atualizações."

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São Paulo, 2007

Formado em Agronomia e Administração de Empresas, Alexandre trabalhou com pet shops - entre 1998 e 2006, em sociedade com seu irmão Leandro, teve empresas do ramo em diversos bairros da cidade.

Após a venda do último negócio, um pet shop na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em Pinheiros, resolveu mudar de ramo. Depois de pensar em várias possibilidades, lembrou-se do avô.

"Por que não reavivar a história dele?", perguntou-se Alexandre, que cultivava o hobby de fazer os próprios sorvetes em casa. Em julho de 2008, nascia a paulistana Stuzzi. O irmão montou a Diletto, uma fábrica de picolés.

Mas não foi tão simples assim: para produzir o legítimo sorvete italiano, os Scabins foram buscar o método na terra do avô. Lá, compraram maquinário e fizeram cursos - Alexandre, aliás, acaba de voltar de uma outra viagem de dez dias pela Itália, onde aprendeu novas receitas e participou de uma feira de sorvetes.

Sappada, 1922

Vittorio tinha apenas 22 anos quando fundou a Stuzzi. "Começou do zero, pois antes dele ninguém na família fazia sorvetes", conta o orgulhoso neto Alexandre. Além de tocar o espaço, Vittorio distribuía gelados pela região, em um veículo que trazia a inscrição Diletto (delícia, em italiano). Era um empreendedor nato.

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De Sappada para São Paulo, 1940.

O mundo estava em polvorosa por causa da 2ª Guerra, iniciada em 1939. A Itália, no meio do conflito. Vittorio achou melhor sair do país e procurar um outro canto para viver em paz, com a família.

Mudou-se para o Brasil. Escolheu São Paulo, a cidade que muito crescia e prometia bom futuro. "Mas ele teve de deixar tudo lá e recomeçar", conta o neto. "Jamais conseguiu abrir outra sorveteria, era tudo muito complicado."

Na capital paulista, os Scabins estabeleceram-se no bairro do Butantã - onde até hoje vive Alexandre. Vittorio passou a ganhar a vida como jardineiro. Os sorvetes e o sucesso que experimentou como empresário ficaram apenas nas doces lembranças italianas.

São Paulo, fim dos anos 70, começo dos anos 80

Diversão em família com os Scabins era fazer sorvete. Com o avô, claro, que tinha em sua casa uma máquina para produzir as delícias geladas.

"Eu e meu irmão adorávamos ajudá-lo a preparar sorvetes", recorda-se Alexandre. "Mas percebíamos que ele não gostava muito de comentar sobre seu passado na Itália, contar histórias de lá... Acho que era algo muito difícil para ele."

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São Paulo, décadas de 90 e de 2000

Mesmo sem imaginar que um dia viveria de sorvetes, Alexandre não perdeu a mania de fazê-los. "Sempre gostei de bom sorvete. E como não é fácil encontrar um bom sorvete, fazia em casa, como meu avô."

Hoje sorveteiro profissional, admite que a máquina que tem em casa anda meio esquecida. Mas não a paixão pelos gelados. Além de botar a mão na massa todos os dias - ele atua pessoalmente na fabricação, embora tenha treinado um de seus dez funcionários para dominar a produção -, Alexandre confessa que não pode ver uma sorveteria na rua que dá uma paradinha para degustar. "Até para conhecer o que andam fazendo."

Afinal, a felicidade é um sorvete, não é? (O avô Vittorio morreu em 1998 - dez anos antes, portanto, do nascimento da Stuzzi paulistana.)

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