THE NEW YORK TIMES - O número de imigrantes detidos ao longo da fronteira sudoeste dos Estados Unidos ultrapassou 2 milhões em um ano pela primeira vez, segundo dados do governo recém-divulgados, continuando o ritmo sem precedentes de imigrantes que chegam ao país sem permissão legal.
De julho a agosto, o número de apreensões na fronteira aumentou ligeiramente, chegando ao total de mais de 2,1 milhões nos primeiros 11 meses do ano fiscal de 2022, que termina em 30 de setembro.
Em um passo incomum, funcionários do governo de Joe Biden anteciparam esse dado a alguns repórteres nesta segunda-feira, 19, antes da divulgação mensal rotineira do CBP (Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras). As autoridades observaram que o número de deportações no ano passado –mais de 1,3 milhão– foi maior do que em qualquer ano anterior.
Nos últimos meses, o governo tentou evitar questões relacionadas à imigração à medida que as eleições de meio de mandato (midterms) se aproximam, com os republicanos difundindo a mensagem de que a fronteira não é segura.
Na semana passada, dois governadores republicanos pagaram para que dezenas de imigrantes que foram libertados da custódia do governo fossem transportados para Massachusetts e Washington, em um esforço para mostrar às regiões democratas do país como é a fronteira sudoeste.
Os imigrantes enviados para esses locais tinham cruzado a fronteira sem documentação e passaram por verificações de segurança, sendo liberados para entrar no país temporariamente enquanto aguardam os processos de deportação.
Eles fazem parte de um movimento global de pessoas que estão fugindo de seus países de origem. Em junho, as Nações Unidas disseram que 1 em cada 78 pessoas em todo o mundo foram consideradas deslocadas. Estima-se que os venezuelanos sejam o segundo maior grupo de deslocados do mundo. (Os sírios são os primeiros do ranking).
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Em agosto, o número de imigrantes de Cuba, Nicarágua e Venezuela pegos cruzando a fronteira sudoeste foi quase o mesmo que o de México, El Salvador, Guatemala e Honduras, uma mudança acentuada nas nacionalidades das pessoas que se destinam aos EUA. O número de imigrantes sem permissão legal destes três países caiu 43% em relação a agosto de 2021; o de cubanos, nicaraguenses e venezuelanos aumentou 175%.
“Regimes comunistas fracassados na Venezuela, em Nicarágua e em Cuba estão impulsionando uma nova onda de migração em todo o hemisfério Ocidental, incluindo o recente aumento de detenções na fronteira sudoeste dos EUA”, disse, em nota, o comissário do CBP Chris Magnus nesta segunda-feira.
Como Washington não tem relações diplomáticas com esses três países, as autoridades não podem repatriar os imigrantes, como fazem com pessoas de outros lugares.
Desde os primeiros dias de Biden no cargo, mais de 1 milhão de pessoas foram liberadas pelas autoridades para enfrentar processos de remoção dentro do país, de acordo com dados de contestações legais às políticas de imigração deste governo.
Muitos dos imigrantes que cruzaram a fronteira sudoeste estão buscando asilo, um direito legal que foi significativamente restringido por meio de várias políticas durante o governo de Donald Trump, quando também houve um aumento na migração.
Uma dessas políticas é o uso de uma regra de saúde pública, conhecida como Título 42, que o governo Biden tentou encerrar no final de maio. A Louisiana e outros estados predominantemente republicanos entraram na Justiça para impedir que o governo suspendesse a ordem.
A viagem para os EUA é cansativa, perigosa e cara, com os migrantes muitas vezes pagando a contrabandistas para atravessar. Biden enviou mais de 23 mil policiais para México, Guatemala e Honduras, em um esforço para combater as operações de contrabando.
Um funcionário do governo disse nesta segunda, pedindo para não ser identificado, que as autoridades acreditam que isso impediu que 57 mil imigrantes chegassem à fronteira todo mês. Biden anunciou a campanha contra o contrabando de pessoas em junho.