PUBLICIDADE

Bailando nas curvas da cidade

Erivaldo, que guia táxi por toda parte, quer agora conduzir seu par pelo salão

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

 

"Chega! Dia ruim demais, acho que já deu." Após meia hora esperando passageiro num ponto da Bela Vista, região central de São Paulo, o persistente taxista Erivaldo Reis de Sousa sucumbiu. Desligou o taxímetro da Meriva branca, desabafou e, saindo do carro, decidiu dar atenção à conversa.Para contar que, ainda hoje, aos 42 anos, continua a nutrir sonho dos tempos de adolescente. Desde antes dos 20, a maior vontade do homem é, simplesmente, aprender a dançar. Isso porque, confessa, não aguenta mais: até tem coragem para levantar, convidar parceira e partir para a pista - mas, com "dois pés esquerdos" enfiados nos sapatos, mexe e remexe meio minuto, se perde, bate quadril com quadril, pede desculpas e volta, frustrado, atrás de apoio no balcão do bar.Sente-se "perdedor". "Parece simples ver o pessoal na pista. Aí, dá uma vontade doida de saber também. Mas, quando tomo coragem, volto logo, sempre triste, vendo todo mundo ali, no forró, na lambada. E eu não consigo nem um dois pra lá, dois pra cá." Ainda não decidiu quando, mas promete procurar uma escola de dança. "Vou aprender de todo jeito." Difícil vai ser encontrar espaço na rotina. Erivaldo fica no ponto de táxi das 6h30 às 21h. Isso de segunda a sábado. "Nos domingos, só penso em ir para a cama. Não dá para fazer mais nada."Taxista há sete anos, este ex-promotor de vendas da Kolynos diz que, ainda hoje, faz corridas todos os dias para pelo menos uma rua "inédita". "É assim que percebo a enormidade da cidade. Rodo o dia todo e sempre acabo num lugar novo", conta ele, que chegou a São Paulo aos 13 anos, vindo do Maranhão.Ele também percebe, na atitude de alguns passageiros, a solidão que uma grande cidade pode trazer - há quem o chame, ele conta, não só para condução, mas pela companhia. "Já fui ao Mercadão, a churrascarias, até ao Wet"n Wild, só como convidado", diz. "São pessoas que querem sair, mas não têm companhia. Chamam na primeira ou na última viagem do dia, avisando que pagarão tudo. Essa é a vantagem de trabalhar num mesmo ponto, onde todos me conhecem", conta Erivaldo, que tem como meta receber R$ 1 mil por semana - naquela, porém, já era sexta-feira e ele conseguira apenas R$ 300. Para descontar o mau movimento, precisava sair cedo na segunda seguinte - e começou bem. Às 9h30, já havia feito quatro corridas (R$ 95) e precisou abastecer. Parou num posto na Rua Amaral Gurgel, embaixo do Minhocão, encheu o tanque e correu para o Brooklin, zona sul, para pegar outro passageiro. Assim que Erivaldo saiu, uma Pajero Sport preta encostou na mesma bomba. A motorista baixou o vidro e, sem tirar os fones de ouvido, avisou, em alto som: "Póóóde completááár!"

 

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.