ÂNSIA POR MUDANÇA
Uma análise do financiamento das campanhas mostra que Aécio se saiu melhor com setores descontentes com o que veem como políticas excessivamente rígidas de Dilma.
Os produtores de etanol, por exemplo, passaram anos se queixando por não poderem competir com a gasolina porque o governo Dilma segurou os preços oficiais dos combustíveis e descartou um imposto já tradicional da gasolina para controlar a inflação.
Embora Aécio só tenha atraído um quarto das contribuições destinadas aos principais concorrentes à Presidência, segundo os dados mais recentes sobre financiamento público, na indústria de etanol ele empata com Dilma.
A Copersucar, maior exportadora brasileira de açúcar e etanol, doou 1 milhão de reais à campanha de Aécio e nada para Dilma. Representantes da empresa e da maioria das outras companhias mencionadas na reportagem não responderam perguntas sobre suas contribuições.
Uma vitória de Aécio também poria fim a anos de relacionamento tenso e muitas vezes hostil entre o governo e os bancos privados.
Dilma acusou estas instituições de cobrar taxas de juros exorbitantes e advogou empréstimos agressivos de bancos públicos em segmentos que considera mal atendidos pelos credores particulares.
Um das peças de propaganda da campanha petista alerta para um Banco Central legalmente independente mostrando uma sala escura repleta de banqueiros tramando enquanto a comida desaparece da mesa de uma família.
Aécio se deparou com um apoio generoso no setor financeiro, incluindo contribuições de 700 mil e 500 mil reais do Banco BMG e da seguradora Porto Seguro SA PSSA3.SA, que não doaram a Dilma.
"BOLSA-EMPRESÁRIO"
A presidente tem tido mais sorte com as empresas que se beneficiaram de uma onda de novos empréstimos do BNDES ao longo dos últimos 12 anos de governo sob o comando do PT.
Dilma e Lula estimularam o banco de desenvolvimento a emprestar liberalmente para os assim chamados campeões nacionais, como a cervejaria AmBev SA ABEV3.SA e a processadora de carne JBS SA JBSS3.SA, que utilizaram os empréstimos subsidiados para concretizar uma série de fusões no Brasil e no exterior.
Aécio e seu provável ministro da Fazenda, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, questionam o papel atual do BNDES, prometendo mais transparência e o fim do que classificam como "bolsa-empresário".
O Grupo JBS deu pelo menos 25 milhões de reais para a campanha de Dilma, quase cinco vezes mais que sua contribuição a Aécio, de acordo com os dados públicos mais atuais, e a Ambev e suas subsidiárias entraram com 8 milhões de reais, mais do que o dobro do que ofereceram ao mineiro.
Mesmo atrás da presidente em termos de financiamento oriundo das maiores empresas brasileiras, Aécio amealhou mais que o dobro de Dilma em contribuições de doadores individuais, em parte devido ao amplo apoio dos brasileiros mais ricos.
Para os dois candidatos, a maior fonte de doações é de longe a indústria da construção, que usufrui de projetos de infraestrutura bancados pelo governo e contabiliza cerca de metade das contribuições para cada campanha.
Até o início de setembro, a Andrade Gutierrez tinha dado quase 17 milhões de reais para Dilma e cerca de 12 milhões para Aécio. A OAS, maior doadora do setor, ofereceu 30 milhões de reais à presidente, mais de cinco vezes mais que a doação para seu concorrente.
Em comunicados distintos, representantes de Ambev e Andrade Gutierres disseram que as companhias visam apoiar o debate democrático ao doar para vários partidos.