BBB 23: Por que as mulheres se culpam quando são vítimas? Veja o que diz especialista

Mexicana Dania Mendez chora após a eliminação de MC Guimê e Cara de Sapato; o apresentador Tadeu Schmidt deixou claro que ela não tem culpa de nada

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Por Renata Okumura
Atualização:

A expulsão de dois integrantes do Big Brother Brasil (BBB) 23, da TV Globo, abriu um debate nas redes sociais sobre a culpabilização da mulher ou o padrão de culpa que a vítima sente em situações de importunação sexual, estupro ou abusos – sexuais, físicos ou psicológicos – cometidos contra ela. “Trata-se de processo interno de insegurança com relação ao padrão que a mulher tem de visão social. Porque é intimamente reforçado para ela, ao longo de sua formação, que ela deve obedecer a critérios da sociedade para ser respeitada. Quando, na verdade, a importunação sexual vem de uma cultura de machismo estrutural que não deve ser aceita”, afirma Tatiane Paula, psicóloga clínica.

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Além de muitas vezes se sentir culpada pela atitude praticada por um abusador, diz a especialista, a mulher ainda pode enfrentar questionamentos da sociedade.

Na quinta-feira, 16, o lutador de MMA Antônio Carlos Coelho de Figueiredo Barbosa Júnior, o Cara de Sapato, de 33 anos, e o cantor Guilherme Aparecido Dantas Pinho, o MC Guimê, de 30, foram expulsos do BBB por suspeita de importunação sexual a Dania Mendez, que entrou na casa para um período de intercâmbio nesta semana. A Polícia Civil do Rio de Janeiro instaurou uma investigação para apurar a conduta de ambos.

Após a eliminação dos dois participantes, a mexicana teve uma crise de choro. Em um dos momentos em que se comunicou com a casa, o apresentador Tadeu Schmidt procurou deixar claro que ela não tem culpa de absolutamente nada. Dania havia dito anteriormente à produção que não se sentiu incomodada pela situação. “Eu não esperava, foi muito rápido... Foi normal”, afirmou ela sobre o beijo de Cara de Sapato.

Cena de MC Guimê acariciando a mexicana Dania Mendez. Foto: Reprodução de vídeo/Rede Globo

“Dania, o que aconteceu hoje aqui não tem nada a ver com o que você falou. Nada. Foi uma decisão nossa. Puramente nossa e não foi tomada por conta de nada do que você disse. Essa responsabilidade não é sua. Essa culpa não é sua, fique tranquila. A gente não quer ver você chorando”, disse Schmidt ao vivo durante programa na quinta-feira.

Segundo a psicóloga clínica, em determinadas situações, é muito comum as vítimas chegarem ao consultório médico com discurso de que elas foram abusadas porque fizeram algo que desenvolveu no abusador um padrão típico de abuso. “Infelizmente, ainda hoje, a vítima de estupro, por exemplo, é recebida pela sociedade e pessoas próximas com indagações e questionamentos. Por isso, muitas mulheres acabam até adiando o momento de pedir ajuda”, disse Tatiane.

Desta forma, conforme a especialista, nem sempre a vítima se sente segura para contar para as pessoas próximas o que aconteceu com ela, pois fica em um processo interno de angústias e insegurança, tentando entender em que momento ela teria dado “espaço” para que o outro cometesse o crime contra ela.

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“É muito comum, principalmente quando se trata de importunação sexual, ser reforçado pela sociedade que a pessoa que está praticando a importunação não está sendo invasiva e que faz parte do processo de sedução. Mas, a partir do momento que gera incômodo para a mulher, isso é um crime”, reforça a especialista.

Apoio de familiares e pessoas próximas

Ter uma rede de apoio é fundamental para que a mulher se sinta segura o suficiente para pedir ajuda e tentar entender o que realmente ocorreu.

“Muitas vezes, as mulheres deixam de contar situações de importunação sexual e abusos porque ficam na angústia de tentar explicar o que de fato houve. No caso da intercambista do BBB, ela foi muito ouvida pela equipe de assistência do programa. Além disso, é visível o quanto ela minimiza as situações ocorridas na festa. Isso porque, geralmente, a crítica da mulher que sofre a importunação ou abuso fica prejudicada, justamente por interferências externas e pelo estigma do machismo estrutural, que pressupõe que a mulher tenha alguns comportamentos que antecedem abusos e por isso justificam situações de violência. Quando na verdade, nada justifica a importunação sexual, o estupro e os abusos”, afirma a psicóloga clínica.

Ajuda para enfrentar os traumas

Dentro da rede de apoio, a vítima precisa ter ao seu lado pessoas em quem ela confie para ajudá-la a discernir o que de fato ocorreu. É importante ainda procurar apoio psicológico para justamente trabalhar os traumas que ficam quando enfrenta esse tipo de situação.

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“É muito importante pensar que as situações de abuso podem acarretar diversos problemas psicológicos. Sinais de depressão, ansiedade, transtornos alimentares são comuns de serem observados, assim como distúrbios sexuais e oscilação de humor. Isso também pode alterar o sono da pessoa, assim como trazer prejuízos nas suas relações afetivas. Por isso, é fundamental a pessoa buscar ajuda o quanto antes para conseguir lidar com o trauma vivido”, disse Tatiane.

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