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Câncer: mortes prematuras vão cair até 2030, mas alguns tipos de tumor devem ter alta; veja quais

Pesquisadores do Inca projetam queda média de 12% da mortalidade por tumores entre homens; por outro lado, tumores no pâncreas e no intestino estão em alta entre pacientes mais jovens

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Foto do author Roberta Jansen
Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - Pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca) projetam queda geral de 12% nas mortes prematuras por câncer em homens de 30 a 69 anos e de 4,6% em mulheres na mesma faixa etária, entre 2026 e 2030 no Brasil. A projeção está no trabalho As metas de desenvolvimento sustentável para o câncer podem ser cumpridas no Brasil?, publicado este mês na revista Frontiers in Oncology.

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Para chegar ao resultado, os pesquisadores compararam as mortes prematuras por câncer ocorridas entre 2011 e 2015 com as previsões de mortalidade para o período de 2026 a 2030. O destaque é a projeção de queda de 28% na mortalidade prematura por câncer de pulmão entre homens. Os dados foram apresentados na manhã desta quinta-feira, 2.

“Esse tumor (de pulmão), em relação aos outros 24 analisados, é o que mais se aproxima de um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU), que visa a reduzir em um terço a mortalidade entre pessoas de 30 a 69 anos por doenças crônicas não transmissíveis”, diz a pesquisadora Marianna Cancela, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca (Conprev).

Embora, em geral, a tendência seja de redução, a morte prematura por alguns tipos específicos de câncer pode aumentar. Entre os tipos de câncer analisados, destaca-se o de intestino, doença que foi diagnosticada nas cantora Preta Gil e Simony, ambas com menos de 50 anos.

Se a situação continuar semelhante à observada em 2015, há probabilidade de um aumento de 10%. O pior cenário foi projetado entre os homens da região Norte (+52%), e entre as mulheres no Nordeste (+38%).

Embora, em geral, a tendência seja de redução, a morte prematura por alguns tipos específicos de câncer pode aumentar. Na imagem, profissionais analisam exames de diagnóstico  Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO

Entre os homens, o tumor de pâncreas pode apresentar aumento de probabilidade de morte prematura de 2,3% para o Brasil. No Nordeste, o número pode chegar a 17%. Entre as mulheres, a previsão é que o número de mortes prematuras por câncer de mama (o tumor que mais mata mulheres no País) fique estável.

Somente no Sudeste, a previsão indica a redução da probabilidade de morte prematura de 4%, enquanto nas outras regiões o aumento estimado varia de 1% (Região Sul) a 25,6% (Região Norte).

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Um estudo feito em 2022 pela Universidade Harvard (EUA), publicado na revista científica Nature Reviews Clinical Oncology, mostrou que mesmo os cânceres que comumente eram diagnosticados em pessoas mais velhas - como os de intestino, mama, estômago e pâncreas - têm crescido entre pacientes com menos de 50 anos.

Entre os possíveis fatores para os diagnósticos cada vez mais cedo, estão o sedentarismo, consumo de alimentos ultraprocessados, obesidade, distúrbios no sono e poluição ambiental.

Segundo Marianna, no caso do câncer de mama, há fatores hormonais que dificultam a prevenção da doença. Mulheres que não têm filhos ou que tiveram apenas um filho, por exemplo, podem ter o risco aumentado para esse tipo de tumor. “A amamentação é um fator protetor”, explica a pesquisadora.

Útero

Outro tumor importante entre as mulheres é o de útero. Os números projetam redução significativa de 11,5% nas mortes prematuras em todo o território nacional. No entanto, as taxas da Região Norte preocupam por apresentarem incidência alta: 25 mortes a cada 100 mil mulheres.

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“Os números revelam a importância de pensar em estratégias práticas para o controle da doença”, ressalta a diretora-geral substituta do Inca, Liz Maria de Almeida.

Marianna Cancela destacou que, além de ser uma região complicada em termos de logística, há um vazio assistencial no Norte. “Para certos tipos de câncer, a gente vê que, mesmo com a queda, os números continuam extremamente altos”, afirma.

O trabalho do Inca conclui que políticas públicas de prevenção multissetoriais são necessárias para a redução das mortes. Marianna ponderou que, como aconteceu no caso do câncer de pulmão, os esforços devem ser contínuos e de longo prazo.

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“Além disso, as pessoas precisam ter acesso mais eficaz a todas as fases de controle do câncer, diagnóstico precoce, tratamento, para que podermos ter uma redução dos números”, destacou a pesquisadora.

De acordo com o trabalho, as doenças crônicas não transmissíveis responderam por 15 milhões de mortes prematuras em todo o mundo em 2016, sendo que mais de 85% dessas mortes ocorreram em países de baixa e média renda.

O câncer foi responsável por nove milhões de mortes por ano, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares (17,9 milhões de mortes por ano). A perspectiva é que as doenças crônicas não transmissíveis continuem aumentando em países de baixa e média renda, contribuindo para perdas econômicas associadas.

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