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‘Caveirões’ invadem escola pública para PM do Rio prender suspeitos no Complexo da Maré

Governador do estado elogiou a ação, retratada em vídeos nas redes sociais que mostram dezenas de adultos e crianças no pátio do Ciep; políticos de oposição e líderes comunitários denunciam violações de direitos humanos

Foto do author Roberta Jansen
Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - Uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), tropa de elite da Polícia Militar, invadiu com blindados um Centro Integrado de Educação Pública (Ciep), no Complexo da Maré, na zona norte carioca, nesta quarta-feira, 5, para prender 10 suspeitos que estavam escondidos na unidade. Outras onze pessoas foram presas na comunidade ao longo do dia.

Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver dois “caveirões”, como os veículos são conhecidos, no pátio da escola, na Favela Nova Holanda, repleto de adultos e crianças. As imagens causaram indignação entre políticos e lideranças sociais das comunidades, que denunciaram violação de direitos humanos.

A Polícia Militar informou que a operação ocorreu muito cedo, por volta das 6h30, e que, portanto, não havia alunos nem professores na escola. Segundo nota oficial da corporação, as pessoas vistas nas imagens que circulam nas redes sociais seriam moradores da comunidade que foram para a escola a pedido de traficantes locais para impedir a prisão dos suspeitos. Nos vídeos, é possível ouvir alguns disparos e várias pessoas correndo.

A operação tinha como objetivo identificar o paradeiro e capturar criminosos de outros Estados que estariam escondidos na Maré. Foto: PMERJ

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“Houve necessidade do uso de equipamentos de menor potencial ofensivo para coibir princípio de distúrbio civil”, justificou a PMRJ. “Infelizmente, para fazer a condução dos presos à delegacia, veículos blindados precisaram entrar no terreno da unidade escolar para a retirada dos indivíduos.”

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, nascida e criada na Maré, reagiu nas redes sociais.

“É doloroso ver as cenas de uma escola invadida por um caveirão na favela da Maré, no Rio de Janeiro”, escreveu ela. “É inaceitável que tantas crianças tenham o ano letivo prejudicado pela violência e que tenham, ainda, suas vidas colocadas em risco por operações policiais.”

Ação policial

A operação tinha como objetivo identificar o paradeiro e capturar criminosos de outros Estados que estariam escondidos na Maré. Além dos 21 presos, o Bope apreendeu três fuzis, quatro pistolas, nove granadas, cinco rádios transmissores e cerca de três quilos de maconha. O material foi encaminhado para a 21ª DP (Bonsucesso).

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De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, as aulas tiveram que ser suspensas na comunidade por causa da operação, afetando 7.491 estudantes. Outras duas escolas estaduais na região também tiveram aulas suspensas. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, uma das Clínicas da Família da região também suspendeu o atendimento à comunidade por questões de segurança.

“Nenhum local combina com violência, principalmente escola, que é um local sagrado e precisa ser respeitado”, escreveu o secretário municipal de Educação Renan Ferreirinha. “Escola não pode ser rota de fuga, esconderijo de bandido, palco de tiroteio, ataque ou qualquer forma de violência. Educação e violência não combinam. Escola é local de paz, acolhimento e aprendizagem.”

Reações

O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), parabenizou a PM pela ação em suas redes sociais:

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“Na manhã de hoje, policiais do Bope prenderam 16 integrantes de uma facção criminosa no Complexo da Maré e apreenderam fuzis, pistolas, granadas e drogas. Para tentar escapar, os suspeitos invadiram uma escola da comunidade, de onde foram retirados pelos policiais. Parabéns ao Bope pelo trabalho de inteligência que levou à identificação, localização e captura dos criminosos.”

O deputado federal Chico Alencar (PSOL/RJ) criticou a operação: “Desespero e despreparo na Maré!”, escreveu. “Começamos o dia recebendo dezenas de denúncias de pais, alunos e professores sobre operação policial que acabou envolvendo um Ciep e outras escolas da região. Não fosse a pressão dos moradores e da comunidade escolar, poderia ter havido uma tragédia.”

A vereadora Monica Benício (PSOL), nascida e criada na Maré, também protestou: “Um caveirão dentro de uma escola! Isso que aconteceu hoje na Maré é inaceitável, não importa a ‘justificativa’. Crianças e trabalhadoras da educação poderiam ter sido feridas. O governo do estado precisa responder por essa grave violação de direitos humanos.”

No fim da tarde houve um protesto de moradores contra a ação policial na Avenida Brasil, perto da comunidade.

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