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Crônica, política e derivações

Uma lágrima para hidratar o deserto: as mulheres sequestradas tem algo a te dizer

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Por Paulo Rosenbaum
Atualização:

Paulo Rosenbaum    

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A lágrima que hidrata o deserto: as mulheres sequestradas tem algo a te dizer

Vocês esqueceram que ainda existem sequestrados que são reféns na faixa? O que é isso? Amnésia seletiva? Não se preocupe. Nós estamos aqui como âncoras da tua memória parcial. E quanto às mulheres judias sequestradas pelos inimigos da humanidade? Sim, elas estão agora em Gaza há quase 200 dias pensando sabe em quem? Em você. Tudo que elas desejam é voltar para suas famílias, e sabem que esse é o único e incontornável caminho para algo parecido com shalom!

Não, não é cessar fogo, me refiro à Paz, um conceito cujo significado verdadeiro é desconhecido. Você já demonstrou várias vezes que não captou o significado, e tem sorte, porque hoje me descobri com uma paciência didática.

Sim, elas tem você em mente. Exatamente você que pede neutralidade e faz objeções ao direito de legítima defesa quando o inacreditável está acontecendo com elas bem na sua frente. Achas mesmo que você não tem qualquer obrigação moral com elas? Compromisso ético? Por que tua fé é outra? Por que tua ideologia pensa de outro modo? Ou, talvez, você tenha um outro sistema de orientação identitária? Acha que um País não tem a obrigação de tentar recuperar seus cidadãos de uma quadrilha assassina? De derrotar os facínoras que promoveram o segundo maior ataque terrorista da história contemporânea?

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Sabe o que cada uma destas mulheres sente a seu respeito?

Na verdade, neste momento elas não podem pensar, estão ocupadas demais recolhendo os destroços nos quais seus corpos foram transformados. Não precisa acreditar em mim: apesar do atraso inédito a amostra está exposta de forma clara no recente relatório que a ONU produziu: a natureza dos crimes sexuais cometidos pelos terroristas jihadistas do Hamas.  Consultem antes de embarcar na reino das falsificações. Natureza que uns poucos jornalistas, acadêmicos e políticos tiveram a coragem de chamar pela nome correto, enquanto outros tiveram a ousadia de classificar como "resistência armada".  Não se envergonham de dizer, escrever, e publicar asneiras? Mas e tu? Acreditas mesmo nisso? Ouvem os briefings dos porta-vozes do terror?Por favor, consulte a campanha #nadajustifica e saberás a verdadeira dimensão dos ataques sexuais contra mulheres e meninas. E caso persistas em seu dilema moralmente bizarro, evocando os habituais "mas"e "poréns", seu nome será grafado, agora e no futuro, em uma pedra fria qualquer para depois ser apagado para sempre junto com o grande painel dos covardes.

Mesmo acreditando que no subtexto de toda ideologia e alinhamento autoritário há uma cegueira, neste caso, diante de todas as provas que você insiste em ignorar, há algo muito mais nocivo. Não apenas porque sua cegueira mostra indícios de premeditação, mas, principalmente, pela seletividade com que você simula indignação. Você escolheu sacrificar qualquer valor moral, como por exemplo condenar estupros e assassinatos, para aderir a uma ideologia efêmera qualquer.

Pode levar um tempo, mas Isso não passará em vão. Sabes por que? Não sou eu que marcarei seu nome e dos seus cúmplices. Quem os anotará serão as vítimas, sobreviventes ou não. Elas, assim como os cadáveres desconhecidos amordaçados não erguem monumentos, não podem escrever, mas tem a história a seu favor. Sabem como erradicar o sorriso cínico da boca dos escarnecedores. Está soando dramático para ti? Pois tú, antissemita disfarçado de antissionista, nem imagina a surpresa que vamos preparar.

Sabemos todos que o acontece no Oriente Médio tem a marca de digitais estranhas, os dedos dos ayatollas, interesses não explicitados das outras potências com nostalgia de grandeza, manipulação da psicologia sobre massas ignorantes. Este conjunto de sinais enlouquecem os papiloscopistas, pois as pegadas dos mandantes estão por toda parte sem que se possa identifica-los.

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Por um momento esqueça o grande cenário e concentre-se apenas no microcosmos.

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A natureza brutal dos ataques contra mulheres não foi fortuita. Não foi porque sim. Ela tem uma raiz nao apenas misógina, mas está também crença jihadista de que o feminino serve exclusivamente a um propósito objetal. Para os mártires de coisa nenhuma, as mulheres são seres semi animados que devem servir exclusivamente aos propósitos concupiscentes dos machos: reprodução, prazer, submissão e seu complemento covarde, tortura.

Era o que o durante décadas o corpus do núcleo duro feminista denunciava. Porém, curiosamente, dessa vez, com bem menos vontade, empenho e velocidade. Como já dito antes, os movimentos feministas e as mulheres se calaram e sumiram. Entretanto, os adeptos do ritual sangrento adicionaram às motivações anteriores um novo ingrediente: a necrofilia. Exatamente isso. Talvez nem mesmo assim você tenha ficado impressionado. Aliás, me parece que você perdeu a capacidade de se sensibilizar com o vil. A origem de tudo que estamos vendo, o massacre do dia 07 de outubro, violar cadáveres e mutila-los fez parte central do cerimonial. Isso tem um significado, a ideia do ódio ao corpo feminino, e ao que ele representa. Difícil acreditar que todos os 1.800 necrófilos tivessem mães castradoras. É mais plausível acreditar que realmente acreditam num mundo de servidão feminina e reificação da tirania masculina. Mesmo assim, você aceitou marchar a favor do sadismo de violadores. Mesmo assim você é entusiasta dos documentários falsos que renegam as evidências do crime.

O jihadismo apresenta em seu programa um supremacismo fálico chauvinista que exige o rebaixamento das mulheres à condição de fragmentos descartáveis. De que outra forma explicar os relatos e comprovações de pedaços de seios cortados arremessados como brinquedos? Ou de facas furiosas dilacerando o aparelho genital de meninas ebacias fraturadas por sevicias contumazes?

As mulheres que morreram em 07 de outubro - incluindo as jovens compatriotas brasileiras Carla Stelzer Mendes, Bruna Valeanu e Celeste Fischbein, além do garoto Ranani Glazer, que depois de uma nota fria do Itamaraty, foram simplesmente esquecidos e desprezados pelo atual governo brasileiro -- perderam a voz. Para ti não parece vergonhoso? Mesmo assim as 19 reféns sequestradas, ainda vivas, e que estão em poder do exército terrorista tem algo a dizer para você. Elas compreendem que você duvida pelo que elas tem passado, o que elas não conseguem entender é como você ainda consegue se manter incólume? Como dorme sem ficar perplexo? Ou, será que você se diverte com as cenas, discretamente, quando sozinho, no quarto escuro?

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Dizem que na tradição sânscrita a palavra "karma" é uma especie de inexorável necessário. Não sei se acredito, mas espero que aqueles que ainda defendem ou fornecem álibis às ações ignominiosas dos inimigos da humanidade possam gozar de pesadelos análogos.

As mulheres que seguem sequestradas e tem sido torturadas rogam, chorando, que da tragédia advenha uma terapêutica que possa hidratar tua sinistra indiferença. A umidade, elas argumentam, é uma terapêutica com potencial para fazer renascer em sua alma estéril um pingo de solidariedade.

Somente assim, com uma única gota de lágrima, o deserto sobreviverá com a paz possível.

E, desta vez, você não estará incluído.

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