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Vini Jr: O que um atleta branco australiano tem a ensinar aos jogadores de futebol na Espanha

Peter Norman apoiou e teve papel decisivo no protesto dos colegas negros no pódio olímpico de 1968

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Por Edmundo Leite
Atualização:
Capa do livro "A história de Peter Norman".   Editora Macmillan Australia.  

Olimpiada do México, 1968. Apesar de estar presente num dos momentos e, consequentemente, numa das fotos mais famosas da história moderna, o atleta Peter Norman é pouco lembrado. As atenções do momento histórico que o australiano participou, com razão, são para os outros dois protagonistas: os atletas norte-americanos Tommy Smith e John Carlos, que erguerem os punhos com luvas pretas para protestar contra o racismo nos Estados Unidos na cerimônia de premiação da prova dos 200 metros rasos naqueles Jogos Olímpicos.

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Mesmo não tendo um lugar de fala para erguer o punho ali no pódio onde o mundo todo os assistiam, Peter Norman também entraria para a história com sua atitude decisiva de apoio aos atletas negros.

Já no vestiário onde se preparavam para a entrega das medalhas [Tommy Smith levou o ouro, Peter Norman, a prata, e John Carlos, o bronze] o australiano disse que os apoiaria quando os dois americanos lhe explicaram que iam fazer o protesto. “I’ll stand with you” [Eu apoiarei vocês], disse Peter. Pediu para si um broche do “Projeto Olímpico para os Direitos Humanos”, símbolo do movimento negro Black Power pelos direitos civis que os atletas levariam em seus uniformes e também o fixou em seu agasalho, acima do símbolo da Austrália.

Broche usado por Peter Norman na cerimônia de premiação no México, em 1968. Museu Esportivo Australiano.  

Peter Norman teve ainda um papel decisivo para a plasticidade do momento histórico. Após vestirem meias pretas e se adornar com um lenço preto e um colar, os americanos perceberam que um deles esqueceu o par de luvas pretas que seria o item essencial do protesto. Peter Norman então sugeriu que dividissem o único par de luvas e cada um usasse uma peça - um na mão esquerda, o outro na direita. Com a sugestão de Peter Norman e seu botom no peito, estava esteticamente pronto o quadro que entraria para a História.

"Achei que era uma boa oportunidade de um homem branco colocar-se ao lado deles. Acredito nos direitos civis para todos, que todos os homens são criados igualmente e que todos devem ser tratados como sêres humanos", declarou Peter Norman após o protesto, conforme registrou o Jornal da Tarde em 1968.

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Espanha, 2023. Além do horror dos ataques racistas a Vini Jr, é assustador assistir à passividade dos jogadores adversários com o racismo dos torcedores de seus clubes de futebol na Espanha. Vamos torcer para que algum dia possam aprender alguma coisa com Peter Norman.

O livro “The Peter Norman story” [A história de Peter Norman], de Andrew Webster e Matt Norman e publicado pela editora editora Macmillan Australia, está disponível digitalmente, em inglês, na livraria da Amazon e outras plataformas.

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