Uma criança morreu e outras duas ficaram feridas por uma bala disparada na tarde de anteontem no primeiro dia de aula do Colégio Encontro, no bairro Cohab Massangano, zona norte de Petrolina, a 780 quilômetros do Recife, no Sertão do São Francisco. Era hora do recreio da turma da 5ª série e os alunos começavam a deixar a sala de aula e a se espalhar pelo pátio. Perto dali, T.P. V., de 17 anos, havia acabado de furtar uma bicicleta e fugiu, sendo perseguido por várias pessoas. Encurralado, pulou o muro do Colégio Encontro. Segundo a versão apresentada pela polícia, o vigilante da escola, Franciraldo Oliveira da Silva, de 39 anos, tentou detê-lo com um revólver calibre 38, mas T. reagiu e houve luta corporal. O vigia fez um disparo. A bala atingiu uma parede, teria se partido e seus estilhaços acertaram três alunos. Kairon Emanuel Conrado Diniz e Silva, de 12 anos, morreu com ferimentos no peito e no braço. Douglas Rodrigues da Silva, de 10 anos, foi atingido no pulmão e Augusto de Almeida Lopes, de 14 anos, no ombro. Kairon foi levado ao Hospital Dom Malan, onde já chegou morto. Douglas foi operado no Hospital Geral e Urgências Infantis (HGU). Augusto foi atendido e liberado em seguida. Franciraldo foi indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e porte ilegal de arma. Ele não tinha porte e o revólver - sem registro - pertencia ao diretor da escola, Joíldo de Oliveira Gomes. Em princípio, houve a suspeita de que outros tiros tivessem sido disparados, diante do ferimentos causados nas três crianças. Embora o laudo definitivo do Instituto de Criminalística (IC) ainda não esteja concluído, o delegado Moary Drummond está convencido de que uma única bala foi responsável pela tragédia. Cinco dos seis cartuchos da arma estavam intactos e a perícia encontrou apenas pedaços da bala no corpo de Kairon. O Estado apurou com o IC que o projétil era de chumbo "encamisado" (revestido de metal) e "ponta oca" com possibilidade de se fragmentar. T. foi encaminhado à Delegacia da Criança e do Adolescente. A arma do crime e a bicicleta furtada foram recolhidas. O diretor da escola não foi autuado, mas será ouvido pelo delegado . PREOCUPAÇÃO Josicleide Rodrigues, que acompanha o filho único, Douglas, no HGU, ainda não sabe se vai manter o menino no Colégio Encontro. "Foi horrível", disse abalada, pelo telefone. "Todos nós estamos muito assustados", completou a mãe. Quando foi informada do ocorrido, seu filho já havia sido hospitalizado. Douglas estudava em outra escola até o ano passado. E Josicleide conta que ele ainda não falou sobre o assunto. "O médico não quer que ele se esforce." As aulas no Colégio Encontro foram suspensas. Segundo Jocicleide, o médico não retirou o projétil localizado no pulmão de Douglas. Ele disse que isso seria perigoso e que poderia comprometer a vida do menino. Ele está estável e a expectativa é de que o organismo se adaptará aos estilhaços.
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