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Ganhador da Mega-Sena foi morto a mando da mulher em 2007; relembre o caso

Ex-lavrador Renné Senna foi assassinado em Rio Bonito, na região metropolitana do Rio; condenada como mandante, Adriana Almeida perdeu o direito à herança do marido e está em prisão domiciliar

Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan
Atualização:

RIO - Assassinado após ser sequestrado e sofrer extorsão em Hortolândia, São Paulo, Jonas Lucas Alves Dias, que levou o prêmio de R$ 47,1 milhões na loteria em 2020, não foi o primeiro ganhador da Mega-Sena a morrer por causa da fortuna que recebeu da sorte. Em 2007, Renné Senna – um ex-lavrador que ganhara R$ 52 milhões (R$ 134 milhões em valores atualizados) em um sorteio de julho de 2005 – foi executado no Rio. A viúva dele, Adriana Ferreira Almeida Nascimento, foi condenada como mandante do crime. Alegou inocência e tentou receber a herança do marido, sem sucesso. Ficou conhecida como “Viúva da Mega-Sena”.

Renné foi morto em Rio Bonito, cidade para onde, já rico, voltara depois de tentar viver na capital. Morava em uma casa grande que mandara construir, circulava em um triciclo que lhe permitia vencer a deficiência física –ele perdera as duas pernas por causa de complicações da diabete – e criava gado. Estava sempre cercado de seguranças, mas em 7 de janeiro de 2007 bebia sem proteção em um bar na cidade, onde bebia. Foi quando dois pistoleiros encapuzados o assassinaram a tiros. Adriana, 25 anos mais jovem que Renné, fora incluída no testamento dele.

Adriana, viúva de René, no último julgamento do caso, foi condenada a 20 anos de cadeia. Foto: Fábio Motta/Estadão

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As características do crime – os bandidos chegaram de moto, com os rostos cobertos, e não levaram nem o relógio, nem o anel de ouro da vítima – levaram a Polícia a descartar a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte). O comportamento de Adriana, que teria substituído os primeiros seguranças de Renné e empregado parentes na propriedade rural, por salários altos, despertou suspeitas. Familiares da vítima também acusaram a mulher. A viúva foi indiciada, condenada e, em 2016, no último julgamento, sentenciada a 20 anos de prisão.

A acusada ficou dois anos foragida. Foi presa em Tanguá, na região metropolitana, em 2018. Ainda assim, pleiteou metade da herança de Renné na Justiça, em ações que tramitaram por anos. Corrigido pelo IPCA, o prêmio equivaleria, hoje, a mais de R$ 134 milhões.

Em 2018, a 17.ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) anulou o último testamento de Senna, em que ele deixava metade de seu patrimônio para Adriana. E, em março deste ano, a 2ª Vara de Rio Bonito (RJ), onde o crime ocorreu, também a considerou “indigna” de receber os valores.

“Ora, não é admissível que um herdeiro que causou dolosamente a morte do autor da herança se beneficie desta, recebendo parte do patrimônio amealhado pelo de cujus”, escreveu o juiz Pedro Amorim Gotlib Pilderwasser, em sua decisão. Adriana ainda foi obrigada a pagar as custas processuais e os honorários de sucumbência sobre 10% do valor atualizado da causa.

Além de Adriana, outras cinco pessoas foram acusadas de participação no crime. A herança da vítima ficou com sua única filha, Renata Senna, de um relacionamento anterior.

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A viúva cumpre pena em regime semiaberto desde outubro de 2020. Em 24 de dezembro daquele ano, ela saiu da prisão para o indulto de Natal e, autorizada pela Justiça em função da pandemia de covid-19, desde então está em prisão domiciliar, sem monitoramento por tornozeleira eletrônica, segundo a Secretaria Administração Penitenciária do Estado do Rio.

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