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Madeireiro brasileiro é sequestrado e morto por grupo terrorista no Paraguai

Valmir de Campos, de 48 anos, foi morto pelo Exército do Povo Paraguaio (EPP), grupo terrorista contrário ao governo local

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - O madeireiro brasileiro Valmir de Campos, de 48 anos, foi sequestrado e assassinato na noite de segunda-feira, 19, pelo Exército do Povo Paraguaio (EPP), grupo terrorista que luta contra o governo daquele país, numa área de matas do departamento de San Pedro, na fronteira com o Brasil. O corpo de Campos, que é sobrinho do prefeito de Coronel Sapucaia (MS), Rudi Paetzold (MDB), foi encontrado na manhã desta terça-feira, 20, pela Força Tarefa Conjunta, grupo de elite das Forças Armadas do Paraguai, criado para enfrentar o EPP.

O brasileiro foi morto no retiro Três Marias, da fazenda El Ciervo, no distrito de Santa Rosa del Aguaray. Conforme a Polícia Civil de Coronel Sapucaia, Campos era morador da cidade, mas possuía terras no lado paraguaio da fronteira, onde fazia extração de madeira. O EPP tem um histórico de ameaças contra os 'brasiguaios' (brasileiros estabelecidos no Paraguai) que produzem soja e desenvolvem atividades agropecuárias na região fronteiriça.

Panfletos atribuídos ao EPP foram deixados na fazenda em que o madeireiro brasileiro foi assassinado Foto: Polícia Nacional do Paraguai/Divulgação

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Campos foi sequestrado na tarde de segunda, durante um ataque à fazenda onde ele trabalhava com outro brasileiro e três paraguaios. Antes de levar os reféns, os seis homens armados, que usavam roupas camufladas, queimaram barracas de acampamento, máquinas agrícolas e um caminhão que estava na fazenda. Durante a noite, eles libertaram os demais e assassinaram a tiros o madeireiro. Os reféns foram resgatados pela força tarefa. 

Panfletos atribuídos ao EPP, encontrados na fazenda, advertem a "quem seja surpreendido cultivando soja ou milho transgênico, será fuzilado". O mesmo tratamento é prometido "a quem corta árvores e não protege a natureza". O ministro do Interior, Juan Maria Villamayor, confirmou os ataques do EEP e disse que o grupo terrorista defende o meio ambiente para preservar as florestas onde se escondem. Em 2015, o EPP queimou um trator e matou duas pessoas na mesma fazenda.

Familiares de Campos viajaram para o Paraguai para tratar do traslado do corpo para Coronel Sapucaia. O presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, disse que seu governo espera acabar, em cinco anos, com "grupos criminosos" como o EPP. "Vamos continuar com a luta frontal e sem trégua", declarou, nesta manhã, em coletiva à imprensa. Ele não descartou possível relação desse ataque com a expulsão do narcotraficante brasileiro Marcelo 'Piloto', acontecida no mesmo dia. "O crime organizado tem nexos comuns e isso, com o tempo, vai gerar uma estratégia do governo para lutar de maneira mais adequada", disse.

Guerrilha. O EPP foi criado formalmente em 2008, mas existem registros de ações atribuídas ao grupo rebelde há duas décadas. Seus integrantes seriam habilidosos no uso de explosivos e armas automáticas e teriam relações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Conforme pesquisadores, o grupo reverencia o ditador que controlou o país após sua independência, Gaspar Rodriguez de Francia. O político fechou as fronteiras do país ao comércio exterior para impulsionar o desenvolvimento interno e perseguiu ferozmente opositores.

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