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Mais da metade dos brasileiros dizem já ter presenciado situações de racismo, diz estudo

Para oito em cada dez pessoas, Brasil é um País racista, segundo pesquisa do Ipec

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Por Ítalo Lo Re

Estudo divulgado nesta quinta-feira, 28, aponta que mais da metade dos brasileiros – o equivalente a cerca de 100 milhões de pessoas – dizem já ter presenciado alguma situação de racismo. A pesquisa indica ainda que, para oito em cada dez pessoas, o Brasil é um lugar racista. Para 44% do total, a discriminação por raça, etnia e cor é um ponto central para gerar desigualdades no País.

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Os resultados são de estudo do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) encomendado pelo Instituto de Referência Negra Peregum e pelo Projeto Seta (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista). Ao todo, 2 mil pessoas, de 16 anos ou mais, foram ouvidas em abril deste ano, com o objetivo de entender a percepção dos brasileiros em relação ao racismo.

Conforme a pesquisa, 81% das pessoas participantes concordam que o Brasil é um país racista, sendo que 60% concordam totalmente e 21%, em parte. A concordância com relação a esse tema, segundo a pesquisa, se mantém alta independentemente de gênero, faixa etária, escolaridade, região do país, porte da cidade, renda familiar, religião, orientação sexual e orientação política.

Ato pró-democracia e contra o racismo organizado por movimentos sociais em São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 29/09/2022

“A pesquisa traz um dado positivo, que é esse aumento da percepção e consciência da sociedade como um todo, em relação ao racismo”, diz ao Estadão Marcio Black, coordenador de projetos do Instituto de Referência Negra Peregum. “Mas ao mesmo tempo sinaliza quais são os grandes desafios em relação à abolição dessas violências e da violação de direitos que perdura no Brasil há séculos.”

Quase a totalidade da população (96%) declara que as pessoas pretas são as que mais sofrem racismo no Brasil. Em paralelo, 88% concordam que esse grupo populacional é mais criminalizado do que as pessoas brancas, sendo que 76% dos entrevistados concordam totalmente e 12%, em parte. “São camadas de violência que vão se sobrepondo em relação a essa gente”, diz Black.

No que diz respeito à abordagem policial, 79% dos entrevistados concordam que ela é baseada na cor da pele, tipo de cabelo e tipo de vestimenta, sendo 63% das pessoas ouvidas concordam totalmente e 16%, em parte. Ao mesmo tempo, 84% acreditam que pessoas brancas e negras são tratadas de forma diferente pela polícia, sendo que 71% concordam totalmente e 13%, em parte.

Autopercepção

A pesquisa revela também o que Black define como um paradoxo na forma como a população brasileira reconhece as formas de materialização do racismo. Enquanto oito em dez pessoas concordam que o Brasil é um país racista, apenas 11% afirmam que têm atitudes ou práticas racistas.

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Além disso, apenas 10% dizem que trabalham em instituições racistas, 13%, que estudam em instituições educacionais racistas, 12%, que integram uma família racista, 36%, que convivem com pessoas que têm atitudes racistas e 46%, que convivem com pessoas que sofrem racismo.

“Isso deixa muito claro o poço de contradições que é o racismo no Brasil”, diz Black. “Por isso mesmo a gente consegue entender porque ele se perpetua tanto no tempo e no espaço. Ele vai criando essas contradições e vai mascarando muitas das relações sociais que a gente vive.”

Segundo o estudo do Ipec, a principal forma de identificação da manifestação do racismo pela população brasileira é violência verbal, como xingamentos e ofensas (66%). Na sequência, estão o tratamento desigual (42%) e a violência física, como episódios de agressão (39%).

Perfil das vítimas

Quase um a cada quatro entrevistados (23%) afirmam já ter sofrido racismo. Entre os grupos que mais apontam ter sido vítimas, estão homens pretos (40%) e mulheres pretas (38%). As instituições de ensino aparecem como um espaço central de propagação dos casos. Das vítimas, quase quatro em dez (38%) afirmaram que foram discriminados na escola/faculdade/universidade.

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“A violência em espaços escolares talvez seja a parte mais dramática das violências a que nossas crianças e jovens estão expostos. A escola deveria ser um ambiente seguro, de socialização. Porém, é um espaço que acaba propiciando episódios de violência física e simbólica”, afirma a gestora do Projeto Seta, Ana Paula Brandão, em material de divulgação da pesquisa.

O intervalo de confiabilidade da pesquisa é de 95%, e a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O estudo “Percepções sobre o racismo no Brasil”, de abrangência nacional, foi realizado entre os dias 14 e 18 de abril deste ano em 127 municípios brasileiros, distribuídos nas cinco regiões do País.

Os participantes tiveram de responder a 30 perguntas presencialmente. Segundo o estudo, a amostra das pessoas respondentes foi proporcional aos perfis representativos da população brasileira. Esse universo permite a projeção dos dados para que se identifique a opinião de 167,2 milhões de pessoas no Brasil sobre os temas abordados.

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