Dentre elas, nove pertencem à Vale. Responsáveis não teriam apresentado documento com informações técnica sobre estado das estruturas
Por Roberta Jansen
Atualização:
RIO - Uma lista oficial das 699 barragens instaladas em Minas Gerais em 2017 revela que pelo menos 28 delas não tinham a estabilidade atestada por auditor ou não tinham apresentado documentação nem informações técnicas para que a estabilidade fosse atestada. Nove delas são da Vale. Um caso chama atenção: o do município de Nazareno, no sul de Minas. Lá, cinco barragens da Vale Manganês não têm a estabilidade atestada desde 2012. Tanto a barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, quanto a de Mariana, que romperam, tinham a suposta estabilidade reconhecida por auditores.
PUBLICIDADE
“Na minha análise, todas estão em risco porque há um conflito de interesse claro nessa autofiscalização”, afirma o coordenador do Núcleo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Bruno Milanez. Ele fez um levantamento sobre as barragens reincidentes. “Mas o que dizer daquelas em que o próprio auditor, contratado pela empresa, não garante a estabilidade da barragem?”
A Vale explicou que as barragens de Nazareno foram “descomissionadas”, ou seja, deixaram receber rejeitos. Segundo a empresa, elas foram “devolvidas ao meio ambiente”: ganharam uma camada de solo orgânico por cima, em 2017. Especialistas lembram que a barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, não recebia material havia três anos e, mesmo assim, se rompeu. Para eles, o monitoramento da estabilidade é necessário mesmo quando as barragens deixam de ser utilizadas.
A empresa explicou que, depois do colapso da barragem do Fundão, em Mariana, em 2015, que deixou 19 mortos, decidiu descomissionar todas as suas barragens de rejeitos feitas pelo método a montante. Nele, os rejeitos vão se acumulando em camadas. Segundo a empresa, ao fim do ano passado dez das 19 barragens desse tipo já haviam sido “aposentadas”. Entre elas estão as de Nazareno. O descomissionamento não ocorreu a tempo de evitar a explosão do Córrego do Feijão no último dia 25.
“A situação era muito ruim entre 2012 e 2013, melhorou um pouco em 2014, mas eram muitas barragens sem estabilidade atestada ou sem documentos de forma recorrente, durante anos seguidos”, contou Milanez. “E temos ainda essas barragens órfãs, que não pertencem a ninguém, em que as operações foram encerradas e ninguém sabe o que está acontecendo.”
Outras quatro barragens da Vale apareciam na listagem de 2017 com “estabilidade não garantida pelo auditor”. São elas a das bacias de contenção de sedimentos 1, 2 e 3, em Conselheiro Lafaiete; a Barragem B, em Pato de Minas; e as de Prata 1 e Lagoa Principal, em Ouro Preto. As duas últimas estão sem garantias também desde 2012. Segundo a Vale, a Barragem B não pertence mais à empresa. A empresa não se posicionou sobre as outras três.
“Toda barragem que tem um atestado de estabilidade tem também um estudo importante sobre a área imediatamente sob risco, que é o chamado “dam break”, que traz um mapa da área que pode ser atingida pelos rejeitos em caso de um rompimento”, explicou o especialista em geomorfologia da UFJF Miguel Fernandes Felippe. “Esse estudo é fundamental para a elaboração do plano de emergência, para o estabelecimento do sistema de alerta e alarme. Sem o atestado de estabilidade, o “dam break” não é público.”
Publicidade
Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho
1 / 37Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho
Tragédia em Minas Gerais
A Agência Nacional de Mineração (ANM) declarou que a mineradora Vale vistoriou, em dezembro de 2018, estrutura da barragem de Brumadinho sem ter apont... Foto: Washington Alves/ReutersMais
Moradores
É comum ver imagens de moradores de Brumadinho olhando para o horizonte em silêncio Foto: Mauro Pimentel/AFP
Catástrofe ambiental e humana
Bombeiro recolhe gaiolas no meio do mar de lama da catástrofe de Brumadinho. Foto: Adriano Machado/Reuters
Animais
Equipes de resgate voluntáriastentaramsalvar a vaca que esta atolada na lama de rejeitos de ferro. O animal teve que ser sacrificado. Foto: Wilton Junior/Estadão
Dificuldade no resgate
Bombeiros têm dificuldade de acessar algumas áreas para fazer o resgate dos sobreviventes Foto: Douglas Magno/AFP
Tragédia em Minas Gerais
Uma barragem de rejeito se rompeu em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. Foto: Douglas Magno/AFP
Tragédia em Minas Gerais
Lama destruiu estrada em Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
A tragédia aconteceu na altura do km 50 da Rodovia MG-040. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
As barragens pertencem à mineradora brasileira Vale. Foto: Washington Alves/Reuters
Catástrofe ambiental e humana
Bombeiros tentam, sem sucesso, resgatar uma vaca atolada após rompimento de barragem. Foto: Adriano Machado/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
Segundo informações do site da Vale sobre as barragens da região, a estrutura que se rompeu foi construída em 1976. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
A prefeitura de Brumadinho pediu que a população mantenha distância do leito do Rio Paraopeba, que é um afluente do São Francisco. Foto: Douglas Magno/AFP
Tragédia em Minas Gerais
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), responsável pelo abastecimento de água na região metropolitana de Belo Horizonte, afirmou que não ... Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas GeraisMais
Tragédia em Minas Gerais
Segundo a Vale, a área administrativa, onde estavam os funcionários, foi atingida, assim como a comunidade da Vila Ferteco. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
Os bombeiros enviaram equipes com policiais civis e militares, além de enfermeiros e medicamentos. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
Kombi foi soterrada pela lama após o rompimento da barragem em Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
Casa foi destruída e foi soterrada pela lama após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
O governo federal montou um gabinete de crise em Brumadinho. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
Moradores de Brumadinho observam a lama que atingiu a cidade. Foto: Washington Alves/Reuters
Tragédia em Minas Gerais
No município de Brumadinho vivem cerca de 40 mil pessoas. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
O rompimento das barragens da Vale aconteceu na tarde de 25 de janeiro de 2019. Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
O presidente Jair Bolsonaro fez pronunciamento no Palácio do Planalto, em Brasília, sobre a tragédia em Brumadinho. Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão
Presidente Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro observa destruição causada após rompimento de barragem da Vale em sobrevoo a Brumadinho Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República
Tragédia em Minas Gerais
Voluntários trazem doações para as vítimas da tragédia em Brumadinho. Foto: Paulo Fonseca/EFE
Tragédia em Minas Gerais
Bombeiros retomaram os trabalhos na manhã deste sábado, 26. Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
Tragédia em Minas Gerais
Fernando Nunes de Araujo é uma das dezenas de pessoas que começam a chegar na faculdade ASA de Brumadinho, onde deve ser divulgada a primeira lista de... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Tragédia em Minas Gerais
Fernando Nunes de Araujo é uma das dezenas de pessoas que começam a chegar na faculdade ASA de Brumadinho, onde deve ser divulgada a primeira lista de... Foto: Wilton Junior/EstadãoMais
Batalha pela Vida
Bombeiros voltam enlameados após resgate em uma das áreas atingidas pelorompimento da barragem de rejeitos de Brumadinho, em Minas Gerais. Foto: Wilto...Mais
Estrada
Moradores observam trabalho dos bombeiros em estrada bloqueada pela lama em Brumadinho (MG) Foto: Wilton Junior/Estadão
Carro atolado
Um carro ficou atolado e destruído no meio da lama após o rompimento de barragem em Brumadinho (MG) Foto: Wilton Junior/Estadão
Helicoptero
Um helicóptero sobrevoa a cidade de Brumadinho, buscando vítimas após o rompimento da barragem Foto: Wilton Junior/Estadão
Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho
Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho após rompimento de barragem Foto: Washington Alves/Reuters
Corpo encontrado
Bombeiros carregam o corpo de uma das vítimas do rompimeto da barragem em Brumadinho até posto montado em frente da Igreja de Nossa Senhora das Dores Foto: Wilton Júnior/Estadão
Ponte
Ponte arrastada pela lama nas proximidades da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, MG, de propriedade da Vale Foto: Antonio Lacerta/EFE
Área devastada
Área devastada pela lama após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão,de propriedade da mineradora Vale Foto: Wilton Júnior/Estadão
Equipe de resgate
Grupo de resgate caminha sobre a lama em busca de vítimas do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, emBrumadinho (MG), de propriedade da Vale Foto: Antonio Lacerda/EFE
Resgate aéreo
Equipe de resgate usa helicóptero para procurar vítimas do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), de propriedade da Vale Foto: Giazi Cavalcante/Código 19
Para Felippe, a falta de fiscalização não é o único problema. “Existe também a questão normativa, de termos normas técnicas específicas, tipos de mineração permitidos, modelos de barragem que não podem ser usados”, exemplifica. “Mas aumentar o rigor dessas normas técnicas é muito difícil por conta do forte lobby das empresas mineradoras no parlamento brasileiro; as pressões são muito grandes.”
Documento
Por nota, a Vale informou que em 24 de fevereiro de 2017 a Vale obteve a Declaração de Condição de Estabilidade da barragem Prata emitida por auditor externo.
“Pelo fato dessa barragem não se enquadrar na Política Nacional de Segurança de Barragens e ser classificada como Classe I na Deliberação Normativa da Copam Nº 87/2005, não era obrigatória a realização da auditoria externa em setembro de 2017. Em setembro 2018, a estrutura foi auditada por auditor externo e teve a emissão da Declaração de Condição de Estabilidade em 03/09/2018 para o COPAM e 20/09/2018 para a ANM” (Agência Nacional de Mineração), informou a empresa no texto.