Rastreamento inteligente contra roubo de carga: como funcionará acordo entre PRF e Porto de Santos

Agentes da Polícia Rodoviária Federal terão acesso ao sistema que monitora os navios e agenda a chegada de caminhões à Baixada Santista

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

O Porto de Santos é o maior do País e recebe diariamente cerca de 13,5 mil caminhões com cargas para exportação, muitas delas de alto valor. Os corredores de rodovias estaduais e federais que dão acesso ao porto se tornaram alvos da ação de quadrilhas de ladrões de cargas. Apenas na região de Santos, foram registrados 201 roubos de cargas no primeiro semestre deste ano, média de 1,1 roubo por dia, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP).

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Uma ação conjunta entre a Autoridade Portuária de Santos (APS) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), anunciada no início deste mês, vai usar tecnologia e inteligência para coibir as ações de criminosos. O acordo possibilitou aos agentes da PRF acesso ao sistema que monitora os navios e agenda a chegada de cargas ao porto, o chamado Sealog. A ferramenta organiza o fluxo de caminhões de acordo com a previsão de entrada de navios no cais, evitando longas esperas para carga e descarga.

Com o acesso a esse fluxo, a PRF tem condições de fazer o rastreamento dos veículos durante o deslocamento pelas rodovias, desde a saída com a carga até a chegada ao porto.

Canal entre Santos e Guarujá; porto é o maior do País e recebe diariamente cerca de 13,5 mil caminhões com cargas para exportação. Foto: Felipe Rau/Estadão

Os sistemas da polícia combinam o rastreamento via satélite utilizado pelas transportadoras de cargas com a rede de monitoramento das rodovias federais e estaduais. “O acordo com a PRF também permitirá à Autoridade Portuária de Santos verificar nos sistemas da PRF se o veículo agendado foi registrado nas rodovias federais, o que vai facilitar a verificação do cumprimento da agenda”, disse a APS.

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Na prática, os caminhões serão acompanhados em tempo real, possibilitando a ação do policiamento em caso de parada não prevista ou desvio da rota. “Trata-se de um acordo de cooperação técnica com o objetivo de compartilhar informações e sistemas que contribuirão para a produção do conhecimento de inteligência e o planejamento de ações visando a mobilidade, combate à violência no trânsito e enfrentamento à criminalidade”, disse o presidente da APS, Anderson Pomini.

Segundo ele, a parceria dará mais segurança aos caminhoneiros que atuam no Porto de Santos. O monitoramento, combinado com o agendamento, deve reduzir a espera dos caminhoneiros para carga ou descarga no bairro da Alemoa, em Santos. Nesse período, eles se tornam alvos dos criminosos. O acordo também vai possibilitar a realização de vistorias e treinamento em conjunto da PRF e de equipes da segurança do porto.

A Polícia Rodoviária Federal informou que o monitoramento será feito com o uso de tecnologia, inteligência e compartilhamento de informações entre as instituições. “Por questões de segurança orgânica e efetividade do acordo não divulgamos detalhes de como o monitoramento é realizado”, disse.

Armas apreendidas em operação conjunta da Polícia Rodoviária Federal e da polícia estadual na Via Dutra, interior de São Paulo. Foto: PRF/Divulgação

Rastreamento inteligente

Atualmente, as transportadoras dispõem de tecnologia para detectar até variações no volume da carga dos caminhões e alterações na temperatura interna dos veículos frigorificados. No chamado rastreamento inteligente, os sensores acusam, por exemplo, se o lacre da porta desses veículos for rompido. Essas informações são compartilhadas com o policiamento de cada área.

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Na região de Santos, os roubos de carga caíram nos primeiros seis meses deste ano, em relação ao primeiro semestre do ano passado, mas é bem superior aos de anos anteriores, segundo dados da SSP-SP. Foram 201 roubos de janeiro a junho de 2024, abaixo dos 274 registrados em 2023, mas quase o dobro dos 104 registrados em 2022. No primeiro semestre de 2021, aconteceram 122 roubos de cargas.

Arsenal apreendido de quadrilha que roubava cargas na rodovia Régis Bittencourt. Foto: Polícia Militar/Divulgação

Em janeiro deste ano, um mega-assalto a um caminhoneiro com carga avaliada em mais de R$ 7 milhões deixou três suspeitos mortos e 17 presos na Via Anchieta, em Cubatão. Após render e sequestrar o motorista, os criminosos faziam o transbordo da carga para outro veículo quando foram surpreendidos pela chegada dos policiais. A polícia foi avisada pela empresa dona da carga que monitorava o veículo e detectou a parada dele fora da rota. Houve tiroteio e cinco suspeitos foram baleados, entre eles os três que morreram.

Em junho, no trecho de serra da Anchieta, foi preso um membro de uma quadrilha de roubos de cargas que utilizava em seu carro sinalização luminosa idêntica à usada em viaturas descaracterizadas da Polícia Civil. Os integrantes da quadrilha se passavam por policiais para abordar e assaltar caminhoneiros. No dia da prisão, a quadrilha havia cometido dois assaltos.

Conforme a APS, o compartilhamento de informações vai ampliar a rede de proteção às cargas que circulam em rodovias paulistas. A autoridade portuária já tem convênio nesse sentido com a Ecovias, concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes, que está a cargo da Polícia Rodoviária Estadual.

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Caminhões esperam em fila no bairro da Alemoa para chegar ao Porto de Santos, no litoral de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão

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O trecho de serra da Anchieta e sua extensão até o pátio do Porto de Santos - a rodovia Cônego Domênico Rangoni (SP-055) – constituem um trecho crítico para a segurança dos motoristas, segundo a APS.

Agora, o compartilhamento é ampliado para as rodovias federais. Um dos focos principais é a rodovia Régis Bittencourt (BR-166), que liga São Paulo a Curitiba. Os ataques a caminhoneiros nessa rodovia são frequentes. No início deste mês, o Ministério Público de São Paulo denunciou 15 suspeitos de integrar uma quadrilha que sequestrava e roubava motoristas de caminhão na Régis.

O grupo é apontado como autor de ao menos dez roubos de veículos de cargas em menos de três meses, no início deste ano. Em um dos ataques, em 9 de fevereiro, o motorista de 46 anos foi assassinado e jogado às margens do Rodoanel Mário Covas. O corpo foi encontrado três dias depois, com pés e mãos amarrados e sinais de violência. Ele descarregou soja e havia pegado carga de retorno no Porto de Santos.

Ações conjuntas

Em fevereiro, em Miracatu (SP), uma ação conjunta da PRF e da Polícia Militar estadual prendeu dois suspeitos e apreendeu um arsenal – três fuzis, pistolas, munições e bloqueadores de sinal, entre outros acessórios – de uma quadrilha que roubava cargas na Régis Bittencourt.

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A rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, e a Fernão Dias, ligação da capital paulista Belo Horizonte, também estão no foco da parceria. “Muitas cargas rodoviárias com destino ao Porto de Santos trafegam por rodovias federais antes de chegarem à Via Anchieta”, informou a APS.

Em fevereiro deste ano, a PRF prendeu um suspeito que estava à espreita de caminhoneiros em um posto de combustíveis da Fernão Dias, em Atibaia. Com ele foram apreendidas duas pistolas e um equipamento usado para bloquear rastreadores, além de um par de luzes do tipo ‘giroflex’, usadas por viaturas policiais.

Em maio, uma ação da PRF e da Polícia Militar estadual prendeu seis integrantes de uma quadrilha especializada em roubos de cargas na Via Dutra. Os criminosos tinham assaltado um caminhão e sequestrado um motorista na altura de Canas (SP). A quadrilha foi monitorada e abordada em São José dos Campos. O refém foi libertado.

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