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Sem tempo para perder

Não há sinal, por enquanto, daquela sacudida, e o único prenúncio favorável, na área da produção, é o de uma safra maior de grãos

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Por Redação

Há pelo menos uma boa razão para apostar num crescimento econômico de 1% em 2017, a mais nova previsão oficial. É o péssimo desempenho acumulado até agora. Depois de encolher mais 0,8% no terceiro trimestre e 4,4% em um ano, a economia continua rateando, com negócios emperrados, desemprego de 11,8% e muita gente sem ânimo para buscar uma vaga. Se o País estiver no fundo do poço, qualquer sacudida poderá provocar algum avanço em 2017. Mas há uma razão igualmente forte para temer um resultado pior que o previsto pelo governo. Não há sinal, por enquanto, daquela sacudida, e o único prenúncio favorável, na área da produção, é o de uma safra maior de grãos. Mas esse aumento será suficiente para desencalhar o Brasil?

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De janeiro a setembro, o Produto Interno Bruto (PIB) foi 4% menor que o de igual período de 2015. Depois de sete semestres consecutivos de severa recessão, é difícil imaginar um número final, neste ano, muito melhor que o do ano passado, quando a contração chegou a 3,8%. Economistas do mercado estimam para 2016 um resultado negativo próximo de 3,5%. Mas quadros mais feios têm sido apresentados por outras fontes.

Pelas contas do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB do Brasil deve diminuir 3,3% neste ano e crescer 0,5% em 2017. Um cenário pior foi divulgado há poucos dias pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com um recuo de 3,4% em 2016 seguido de crescimento nulo em 2017.

O governo pode escolher a bola de cristal de sua preferência, mas de nenhum modo poderá relaxar nos próximos dois anos, se quiser deixar alguma base decente para o mandato presidencial seguinte. A redução do PIB em sete semestres consecutivos de recessão mostra só uma parte do drama. A economia está sem vigor para uma retomada a curto prazo e sem energia para ganhar dinamismo em prazo pouco mais longo. Com 12 milhões de pessoas desempregadas e renda comprimida, um impulso decisivo dificilmente virá dos consumidores. Com novo recuo de 0,6% de julho a setembro, o consumo das famílias diminuiu pelo sétimo trimestre. O investimento em máquinas, equipamentos e obras, medido pela formação bruta de capital fixo, recuou 3,1% no trimestre e correspondeu a apenas 16,5% do PIB, taxa baixíssima pelos padrões internacionais e, é óbvio, pelas necessidades do País. A meta de 24%, anunciada há anos pelo governo federal, continua distante. Quando for alcançada, ainda será inferior ao padrão de outras economias emergentes – obviamente bem mais dinâmicas.

O baixo investimento limitará a capacidade brasileira de crescimento por vários anos. O setor privado, com ampla capacidade ociosa, ainda pouco investirá por vários meses. Do governo deverá partir o impulso inicial, se as concessões de infraestrutura forem desemperradas. Grandes estatais continuarão investindo, porém moderadamente, porque sua capacidade financeira foi depredada pela pilhagem no período petista. Além de recompor as estraçalhadas finanças públicas, o governo terá de garantir o conserto dessas empresas, por enquanto essenciais para os objetivos econômicos do Brasil.

Enquanto se completam os passos preliminares da recuperação fiscal, com a votação da proposta de um teto para o gasto público, o País continua perdendo posições na corrida global. A economia americana cresceu em ritmo anual de 32% no terceiro trimestre, pela nova estimativa.

Pelos cálculos da OCDE, o produto mundial deve aumentar 2,9% neste ano e 3,3% no próximo. Submetida a um forte ajuste pelo novo governo, a economia argentina deve recuar 1,7% em 2016, mas com potencial para avançar 2,9% em 2017 e 3,4% em 2018. No mesmo cenário, o PIB do Brasil crescerá somente 1,2% daqui a dois anos, depois de ficar estagnado em 2017, mas isso dependerá de progressos no ajuste fiscal e na agenda de reformas. O presidente Michel Temer precisará de cada minuto, sem desvios, para enfrentar a tarefa. O último susto talvez o tenha fortalecido para isso.

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