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Fóssil poderá mudar história evolutiva de macacos e humanos

Encontrados em 2011 na Catalunha, restos de nova espécie, Pliobates catalonia, indicam que ancestral comum dos símios atuais - incluindo os humanos - era tão pequeno como um gibão

Por Fabio de Castro
Atualização:

Encontrado em 2011 na Espanha, o fóssil de um pequeno símio poderá levar os cientistas a repensar a história evolutiva dos ancestrais comuns entre macacos e humanos. De acordo com o estudo, publicado hoje na revista Science, o fóssil do símio batizado de Pliobates catalonia, "fornece dados sobre um capítulo desconhecido do início da história dos símios e humanos".

Atualmente, acredita-se que os grandes símios - grupo que inclui os humanos, os chimpanzés, os organgotantos e os gorilas - divergiram dos pequenos símios, como os gibões, há cerca de 17 milhões de anos. Mas a análise do novo fóssil, que tem 11,6 milhões de anos, mostrou que ele possui características dos dois grupos, embora tenham vivido bem depois da divisão.

Reconstrução do crânio do Pliobates catalonia mostra como deveria ser em vida o animal que viveu há 11,6m milhões de anos Foto: Marta Palmero / Institut Català de Paleontologia Miquel Crusafont

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De acordo com um dos autores, Sergio Almécija, professor do Centro de Estudos Avançados em Paleobiologia Humana, da Universidade George Washington, a descoberta fará os cientistas repensarem a ideia de que os pequenos símios atuais são uma versão miniatura dos grandes símios.

"Acreditávamos que os pequenos símios haviam evoluído a partir dos grandes símios, mas essa nova espécie nos mostra que ambos coexistiram muito tempo antes. É possível que o Pliobates catalonia indique o contrário: os grandes símios podem ter evoluído a partir de ancestrais do tamanho de gibões", declarou Almécija.

A descoberta, segundo os autores, preenche uma lacuna nos registros fósseis, fornecendo mais uma peça para o quebra-cabeças da evolução dos grandes e pequenos símios. Muitos especialistas acreditavam que os grandes símios precediam os gibões, especialmente porque não havia fósseis conhecidos de pequenos símios antigos.

"Esses fósseis claramente pertencem a um símio - e não aos macacos mais primitivos. No entanto, são muito pequenos. Com issso, nos demos contas de que talvez estejamos olhando para tudo isso da maneira errada. Talvez alguns ancestrais primitivos dos símios fossem menores do que pensávamos", disse Almécija.

O estudo se baseou em 70 fragmentos de fósseis descobertos durante a construção de um aterro sanitário em Hostalets de Pierola, na província de Barcelona. Os pesquisadores concluíram que os fragmentos pertenciam a uma fêmea adulta que pesava de quatro a cinco quilos. O animal se alimentava de frutas macias e se locomovia pelos galhos das árvores.

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Os hominoides atuais são uma superfamília de primatas que inclui os pequenos símios - os gibões e siamangos, que constituem a família dos hilobátidos - e os grandes símios - orangotangos, gorilas, chimpanzés e humanos, que compõem a família dos hominidae.

Todos os hominoides atuais têm como características comuns a ausência de cauda externa, um desenho corporal que lhes permite uma posição ereta do tronco e diversos detalhes do crânio. Todos esses aspectos estavam presentes no antepassado comum dos hilobátidos e hominidae, que de acordo com dados moleculares deve ter existido há 17 milhões de anos. 

O Pliobates catalonia mostra, pela primeira vez em um fóssil do tamanho de um pequeno gibão, com apenas 11,6 milhões de anos, que possui todas as características dos hominoides atuais, herdados do ancestral comum que viveu quase seis milhões de anos antes.

Até a descrição do Pliobates catalonia, todos os fosseis de símios pequenos possuíam estrutura corporal primitiva demais para ter uma relação de parentesco com os hominoides atuais "Esse achado derruba tudo isso", afirma outro dos autores do estudo, David Alba, do Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont.

Ainda que o Pliobates catalonia retenha algumas características primitivas, a anatomia dos braços - e em particular as articulações entre o úmero e o rádio e entre os ossos do punho - apresenta o desenho básico dos hominoides atuais.

Uma análise filogenética com base em mais de 300 características situa o Pliobates catalonia, de maneira consistente, como o hominoide mais próximo da divergência entre os pequenos e grandes símios - hilobátidos e hominidae, respectivamente.

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