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Quer salvar o planeta? Salvar baleias pode ajudar, dizem cientistas

Biólogos marinhos acreditam que baleias podem influenciar a quantidade de carbono no ar e no oceano, reduzindo o dióxido de carbono atmosférico.

Por Rachel Pannett, Whashington Post
Atualização:

Salvar baleias provavelmente é uma boa maneira de salvar o planeta, segundo um grupo de cientistas que examinou o potencial dos animais para atuar como sumidouros de carbono – algo que ajuda a reduzir o carbono na atmosfera da Terra absorvendo mais carbono do que libera.

Uma grande baleia sequestra 33 toneladas de dióxido de carbono por ano, em média, enquanto uma árvore absorve apenas até 21 quilos por ano Foto: Instituto Baleia Jubarte

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Muitas soluções baseadas na natureza para combater as mudanças climáticas têm se concentrado na capacidade de árvores e zonas úmidas de capturar e armazenar dióxido de carbono atmosférico. Mas, em um artigo publicado na revista Trends in Ecology and Evolution, um grupo de biólogos explora a ideia de que as baleias podem influenciar a quantidade de carbono no ar e no oceano, potencialmente contribuindo para a redução geral do dióxido de carbono atmosférico.

“Entender o papel das baleias no ciclo do carbono é um campo dinâmico e emergente que pode beneficiar tanto a conservação marinha quanto as estratégias de mudanças climáticas”, escreveram os autores, liderados por Heidi Pearson, bióloga da Universidade do Sudeste do Alasca.

O oceano é de longe o maior sumidouro de carbono do mundo, tendo absorvido cerca de 40% de todo o dióxido de carbono emitido pela queima de combustíveis fósseis desde a Revolução Industrial.

Biólogos marinhos descobriram que as baleias, principalmente as grandes baleias, também desempenham um papel importante na captura de carbono da atmosfera. Elas podem pesar até 28 toneladas e viver mais de 100 anos, escreveram os pesquisadores, e seu tamanho e longevidade significam que acumulam mais carbono em seus corpos do que outros pequenos animais. Quando morrem, afundam no fundo do oceano, tirando carbono da atmosfera por séculos.

“As baleias consomem até 4% de seu peso corporal maciço em krill e plâncton fotossintético todos os dias. Para a baleia azul, isso equivale a quase 3700 quilos”, escreveram os cientistas. “Quando elas terminam de digerir a comida, seus excrementos são ricos em nutrientes importantes que ajudam esses krill e plâncton a florescer, auxiliando no aumento da fotossíntese e no armazenamento de carbono da atmosfera”.

Um relatório de 2019 publicado pelo Fundo Monetário Internacional estimou que uma grande baleia sequestra 33 toneladas de dióxido de carbono por ano, em média, enquanto uma árvore absorve apenas até 21 quilos por ano – número que os autores do relatório usaram para sugerir que os conservacionistas fariam melhor salvando baleias do que plantando árvores.

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O novo artigo explora como uma recuperação nas populações de baleias para níveis pré-baleeiros – entre 4 milhões e 5 milhões, de pouco mais de 1,3 milhão em 2019, segundo o relatório do FMI – poderia aumentar a capacidade dos animais de atuar como um sumidouro de carbono. (A caça comercial, a principal razão da queda do número de baleias, diminuiu suas populações em 81%, disseram os pesquisadores).

A quantidade de carbono sequestrada “aumenta em uma ou duas ordens de magnitude” com a recuperação na população de baleias, disse Stephen Wing, coautor do artigo e professor de ciências marinhas. na Universidade de Otago, na Nova Zelândia.

Os números são “relativamente pequenos” considerando o alcance do desafio climático global, “mas, em relação às promessas que algumas nações fazem sobre a redução das emissões de carbono, são relativamente grandes”, acrescentou ele.

“Estamos meio que dizendo que a recuperação pode atingir números anteriores ao início da caça às baleias, porque o sistema já sustentou esse número de baleias”, disse Wing.

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As baleias, juntamente com vários animais oceânicos, são vulneráveis às mudanças climáticas, pois o aumento das temperaturas as leva a novos habitats. Elas estão entre os mamíferos marinhos mais ameaçados do mundo, como a baleia-franca do Atlântico Norte, da qual restam apenas cerca de 340 animais.

As baleias ainda estão sendo mortas em números surpreendentemente altos, anos após a proibição da caça comercial, em águas repletas de navios que as atacam e cordas que as enredam. Turbinas eólicas offshore – parte da agenda de energia limpa do presidente Biden – também estão prestes a invadir seu habitat, enquanto o governo tenta equilibrar o combate ao aquecimento global com a proteção da vida selvagem.

“A recuperação das baleias tem potencial para um aprimoramento autossustentável de longo prazo do sumidouro de carbono oceânico”, escreveram os autores. “O papel total na redução de dióxido de carbono das grandes baleias (e outros organismos) só será realizado por meio de intervenções robustas de conservação e gerenciamento que promovam diretamente o aumento da população”.

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Mas os autores foram cautelosos na matemática por trás da inclusão do carbono da baleia em quaisquer estratégias mais amplas de mitigação das mudanças climáticas, pois ainda existem muitas incógnitas científicas. Eles argumentaram que estudos recentes avaliando a contribuição de carbono de uma única baleia azul em US$ 1,4 milhão “são baseados em suposições além de nossa compreensão da ecologia das baleias e da oceanografia biológica”.

Dino Grandoni e Tatiana Schlossberg, do Washington Post, contribuíram para esta reportagem. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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