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Acervo do Itaú Cultural conta história do Brasil na Oca

Mais de 700 obras da coleção do instituto estão na exposição 'Modos de Ver o Brasil', que será aberta dia 25

Foto do author Antonio Gonçalves Filho
Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

Contar a história do Brasil por meio de uma única coleção de arte é um desafio para qualquer instituição, mas o Itaú Cultural, em comemoração aos 30 anos da entidade, aceitou resumir essa trajetória em 750 obras – 46 delas recentemente adquiridas – na exposição Modos de Ver o Brasil, que reúne parte de seu acervo (de 15 mil peças) e será aberta ao público no dia 25. Essa coleção começou a ser construída em 1969 pelo banqueiro e ex-prefeito de São Paulo Olavo Egydio Setubal (1923-2008), justamente com uma paisagem do holandês Frans Post (1612-1680), um dos muitos pintores viajantes que tentaram captar a essência do País.

'O Impossível', escultura surrealista da brasileira Maria Martins, um dos destaques do acervo Foto: Mário Fernandes de Oliveira

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Nesse óleo sobre madeira, que integra a mostra com curadoria do crítico Paulo Herkenhoff, Post retrata um pequeno povoado brasileiro do século 17 como se estivesse diante de uma paisagem holandesa – dois terços céu e um terço terra. Naturalmente, não era o mesmo olhar dos pintores brasileiros contemporâneos de Frans Post. O visitante da mostra, que ocupa os mais de 10 mil metros quadrados da Oca, terá, portanto, a oportunidade de comparar os vários Brasis “construídos” por artistas brasileiros e de origem europeia selecionados para a exposição, desde os holandeses Post e Eckhout (1610-1666) até os pintores da chamada “Geração 80”, passando pelos barrocos brasileiros, os modernos e representantes do movimento concreto.

O curador Herkenhoff, auxiliado pelos curadores Thais Rivitti e Leno Veras, optou por ocupar os quatro andares da Oca, reformada para a exposição, sem seguir uma ordem cronológica, mas, ao contrário, estabelecendo relações entre obras de diferentes períodos. Assim, logo no hall de entrada, trabalhos sobre a cidade de São Paulo foram agrupados por afinidade temática, desprezando-se a distância temporal existente entre eles – por exemplo, fotos da suíça Hildegard Rosenthal (1913-1990) que mostram a garoa de São Paulo (nos anos 1930) dividem o espaço com telas de Gregório Gruber pintadas nos anos 1980.

Essas leituras transversais estimulam o visitante a criar o próprio percurso e criar, quem sabe, relações inusitadas entre artistas do período barroco e contemporâneos – e Herkenhoff cita o escultor pernambucano Tunga (1952-2016) como exemplo do artista cuja obra adotou como referência essa tradição. Há na mostra a quintessência do período colonial, uma obra do escultor mineiro Aleijadinho (1730-1814), que reina no segundo piso, secundado pelo também mineiro Mestre Valentim (1745-1813), um dois grandes entalhadores do Brasil colonial.

“Poucos museus têm um acervo como o do Itaú Cultural, uma instituição que entendeu que o seu campo é muito vasto, desempenhando um papel que pertence ao Estado”, diz o curador Herkenhoff, referindo-se a iniciativas como a de abrigar uma exclusiva coleção Brasiliana e restaurar obras para doar ao poder público, como uma escultura do artista de origem portuguesa Ascânio MMM. O Itaú Cultural, segundo o curador, reconstruiu com a ajuda do artista uma escultura retirada da Praça da Sé, em 1989. Declarada irrecuperável, na época, ela será exibida com sua aparência original e, após o término da exposição, doada à Prefeitura de São Paulo, segundo Eduardo Saron, diretor da instituição. Em tempo: o Itaú Cultural aplicou entre R$ 700 mil e R$ 800 mil na reforma da Oca para exibir seu acervo, de acordo com Saron.

“Há dois movimentos que inspiraram a formação dessa coleção”, conta o diretor. “O primeiro começa há 30 anos, quando Olavo Setubal lança o Itaú Cultural com base no sucesso das galerias Itaú, que davam visibilidade interna ao acervo, e, depois, com a itinerância da coleção.” A mostra da Oca, que ganha um catálogo em 2018, é parte dessa estratégia de divulgação. Poucos sabem, por exemplo, que a Aranha da escultora francesa Louise Bourgeois (1911-2010) que ocupa uma sala do Museu de Arte Moderna (MAM) pertence ao acervo do Itaú Cultural. Ela também está na exposição, assim como a escultura O Impossível (1945), de Maria Martins (1894-1973).

Ao lado da surrealista Maria Martins, no primeiro andar, estão obras das sucessivas gerações construtivistas brasileiras. Herkenhoff identifica “ecos da subjetividade de Maria Martins” em Leonilson, firmando um inaudito paralelo entre as duas obras. Outra artista mulher ganha destaque na mostra, a paulistana Carmela Gross, com uma obra pintada no piso do subsolo, reservado aos experimentais (Hélio Oiticica, Lygia Clark e companhia).

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