Um dos maiores cartões-postais de São Paulo, o Memorial da América Latina vai dar início, em breve, a uma obra de restauro do espaço que abriga um dos trabalhos de arte do complexo, o painel Etnias – Do Primeiro e Sempre Brasil, da artista plástica ítalo-brasileira Maria Bonomi.
O painel está exposto no túnel de passagem do portão 1 do Memorial, que fica na saída do metrô Barra Funda. Em 2017, uma infiltração afetou o local e não só colocou em risco a obra de Bonomi, como também a segurança dos visitantes. Desde então, o espaço foi interditado e, agora, a própria artista toca o projeto de restauro do local, com apoio do Memorial.
O projeto, aliás, já foi autorizado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, o Condephaat, e aprovado para captação de recursos pelo Programa de Ação Cultural, o ProAC, uma legislação de incentivo à cultura do Estado de São Paulo, criada em 2006 através da Lei n.º 12.268/2006. O Memorial agora busca patrocínio para a reforma.
O valor aprovado foi de cerca de R$ 900 mil, que, segundo Bonomi, serão utilizados com o plano de engenharia e de arquitetura para a impermeabilização e o restauro de todo o espaço, que terá, ainda, duas novas vias de acesso e uma praça intermediária. “A obra é um conjunto que compreende o espaço onde está inserida, incluindo seu piso, iluminação e os espelhos que contracenam com ela”, explica a artista. “As infiltrações e falta de manutenção no passado avariaram a obra, que ficou desfigurada. Por isso, foi fechada para visitação.”
A obra de Bonomi, produzida a pedido de Oscar Niemeyer, arquiteto responsável pelo Memorial da América Latina, começou a ser produzida em 2006 e foi inaugurada em 2008, quando foi doada ao local. Trata-se de um conjunto de esculturas em argila, bronze e alumínio, distribuídas ao longo do corredor de passagem do túnel, que falam sobre a história do índio brasileiro. Feito com doações, à época, da Petrobrás e do Itaú, o painel contou, em sua construção, com o apoio de artistas nacionais e internacionais, além de índios da Aldeia Krukutu. “A obra foi criada com 15 toneladas de material e o participação de 60 pessoas. Não poderia ficar abandonada”, acredita Bonomi.
A expectativa do Memorial é que a obra seja reaberta ao público ainda em 2019, quando o complexo completa 30 anos. “O painel Etnias representa uma experiência estética que dialoga com os visitantes”, analisa o presidente interino do Memorial, Marco Antonio Félix. “Quem passa pelo túnel onde ela está, admira a obra e, logo em seguida, tem à sua frente as curvas do complexo a céu aberto. Ali, os visitantes têm uma visão daquilo que Oscar Niemeyer chamou de ‘o espetáculo da arquitetura’.”
Para Félix, o Memorial tem a obrigação de manter a obra e o espaço. “Por isso, devolver o espaço à população é, acima de tudo, manter a originalidade do projeto de seu criador, enriquecido pela obra de Maria Bonomi, que retrata o índio como protagonista da história e da identidade cultural brasileira.”