Qual disco ou música mudou sua maneira de ver o mundo? Acho que a música popular, embora devesse, não tem esse poder. Apesar disso, posso falar de alguns momentos decisivos. O lancinante Lucille, do Little Richard, no final da década de 50, definindo claramente para mim a fronteira entre música negra e o resto, e que me emociona até hoje; o LP coletivo, só de partido-alto, comemorativo dos 40 anos da Mangueira, definindo meu engajamento nessa vertente fundamental do samba; o disco de lançamento do grupo musical da Velha-Guarda da Portela, em 1970, que me trouxe de volta muita coisa que eu tinha perdido... Quem mais influenciou sua carreira? Não sei se influenciaram, mas Geraldo Pereira e Moreira da Silva me marcaram bastante. Qual disco ruim você adora ouvir, mas tem vergonha de dizer? Eu ouço muita coisa não convencional, rumbas, boleros, música caribenha. Mas música ruim, mesmo, eu jogo fora. Num longo período em que fui jurado de um prêmio de música, identificava a brabeza no primeiro acorde. Aí, lixo! Qual artista você não acha tão bom, mas todo mundo acha? Chico Buarque. Qual disco você comprou levado pela opinião alheia e odiou? O último da Rosa Passos. Comprei achando que tinha o balanço dos anteriores, mas só tinha bossa nova melosa. Que música de outro você gostaria de ter composto? Todos os sambas do Chico. Qual disco de sucesso deixa você com inveja por não tê-lo feito? Tem um CD do saudoso João Nogueira, com o Marinho Boffa, de 1995, produzido pelo também saudoso Almir Chediak, que me dá inveja. Mas sabe qual é o repertório? Só sambas do Chico. Qual clássico da MPB você acha que não merece esse título? Rosa, do Pixinguinha. Qual canção considerada clássica mereceria uma letra melhor? Essa mesma Rosa, letrada por um certo Otávio de Souza. Qual disco você acreditou que seria ótimo e frustrou suas expectativas? Um da pianista Eliane Elias. Qual disco fez você passar a noite em claro analisando o que ouvia? Esse ainda está para acontecer. Mas o disco Tendinha, do Martinho da Vila, de 1978, quando chegou lá em casa, quase furou de tanto tocar. Qual você nunca deixa de ouvir? Aqui em casa, dia que se tem tempo e tranquilidade para ouvir música e tomar uma cerveja é sábado. Aí, tem que rolar o CD de choros do Moacir Santos, interpretados pelo saxofonista Zé Nogueira; os do Wilson das Neves com Os Ipanemas; um feroz da Spanish Harlem Orchestra; outros da série Hecho en Cuba... E quando dá saudade do samba de verdade, a gente ouve o Tantinho cantando sambas de terreiro da Mangueira. Caetano ou Chico? Bethânia ou Gal? O Chico é menos internacional que Caetano. Agora, das cantoras, sou mais a Alcione. De quem você tem todos os discos? Gosto de variar. Mas, por conta daquele tal prêmio, guardei muitos discos, ótimos, da Rosa Passos e da Leny Andrade. Qual a melhor e a pior regravação de um clássico da MPB? Entre as melhores, Zé Renato cantando Chão de Estrelas. A pior, Luar do Sertão com Chitãozinho e Xororó. Aponte um disco que considera um clássico instantâneo. E outro, lançado nos últimos anos, que está entre os melhores de todos os tempos. Fátima Guedes, Outros Tons, de 2008. De Letra & Música, com Nei Lopes e convidados. Qual artista ou banda badalada pela crítica que você considera inferior? Todos os do chamado BRock. Qual show mais marcou sua vida? O Tendinha, do Martinho. Esse foi show, mesmo, e não recital ou concerto. De qual cantor(a) ou grupo brasileiro você jamais compraria um disco? Da Banda Calypso. Quem você acha que jamais deveria ter gravado um disco? Leandro & Leonardo e similares. Qual artista começou mal a carreira discográfica e depois deslanchou? Beth Carvalho. Qual compositor de talento não deveria gravar as próprias canções? Tom Jobim, cantando. Qual o erro mais constante em discos de artistas que você gosta? Apelo ao sucesso fácil. Que músico você admira por combinar atitude e qualidade artística? Noel Rosa. Quais as qualidades que você preza na boa música? Ter melodia rica e letra bem construída, a partir de uma ideia inteligente.
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