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'Tunga personaliza um artista barroco em nosso tempo', diz a historiadora Aracy Amaral

'Ele era um sujeito brilhante, um dos maiores artistas brasileiros', afirma Júlia Rebouças, curadora da 32ª Bienal de SP. Meio artístico repercute a morte do artista

Por Roberta Pennafort e Camila Molina
Atualização:

RIO - O crítico de arte Paulo Sérgio Duarte, amigo próximo de Tunga, esteve com ele poucos minutos antes de sua morte. O filho do artista, Antônio, lhe contara que os médicos já haviam avisado que o fim era iminente. Duarte fazia parte de uma lista íntima deixada por Tunga com a família, da qual constavam pessoas que ele queria ver no hospital. Ele contou que Tunga quis, depois de um tratamento no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, vir para a cidade em que vivera a maior parte de sua vida. 

"A lista tinha pessoas que poderiam entrar a qualquer momento na UTI, além do horário de visita,  que era muito restrito. Alguns poucos, como o artista Everardo Miranda, seu amigo de infância, e familiares", disse o crítico. "Ele pediu para morrer no Rio. Quando não estava sedado, ficava inteiramente lúcido, reconhecia as pessoas. Só não podia falar, por causa da traqueostomia."  O câncer que Tunga acreditava ter vencido no ano passado voltou com violência em fevereiro deste ano. Os primeiros tumores apareceram na garganta, depois na língua, e, por último, nos pulmões. Nos últimos dias, vinha sedado e respirando por aparelhos. Entre a crença na cura e o recrudescimento da doença, foram poucos meses. "Ele estava estudando muito, tinha peças projetadas em construção em seu ateliê, na Barra da Tijuca, perto da casa onde morava. Ficava muito no ateliê, mas dizia que trabalhava mais quando estava na rede pensando: depois era só executar."

O câncer que Tunga acreditava ter vencido no ano passado voltou com violência em fevereiro deste ano. Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Jochen Volz, curador-geral da 32ª Bienal de São Paulo

"Para mim, foi um privilégio trabalhar com o Tunga. Ele foi uma pessoa, artista, pensador, poeta que ensinava a todos o tempo todo."

Júlia Rebouças, curadora da 32ª Bienal de São Paulo

"Acho que o Tunga era um sujeito que era de outro tempo, um especialista de diversas áreas, um sujeito brilhante, um dos maiores artistas brasileiros."

Fernando Cocchiarale, curador do Museu de Arte Moderna do Rio

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"Era um artista muito completo, que tinha o domínio poético das mídias que usava. Tinha coisas incríveis, sendo que a instalação Ão, de 1981, que esteve em Inhotim, me toca especialmente. E o fato de construir trabalhos tridimensionais a partir do magnetismo dos materiais demonstra as grandes percepções a que o trabalho dele levou." 

Paulo Sérgio Duarte, crítico de arte

"Tunga era reconhecido internacionalmente como um dos maiores artistas contemporâneos do mundo. Basta examinar a presença dele em instituições do mundo, com repercussão institucional, e não só comercial. Em 2005, foi o primeiro artista contemporâneo a expor debaixo da pirâmide do Louvre. Mostrou um belo trabalho chamado À luz de dois mundos, hoje em exposição em Inhotim. A coleção do Tunga em Inhotim merece ser visitada por toda pessoa que se interessa por arte."

Aracy Amaral, crítica e historiadora de arte

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"Tunga personaliza curiosamente um artista barroco em nosso tempo. Daí sua persona singular. Suas imagens densas de poética muito frequentemente nos carregavam à literatura."Marcelo Mattos Araujo, secretário de Cultura do Estado de São Paulo

"É uma perda imensa e irreparável para a cultura brasileira. Tunga é um nome fundamental das últimas décadas e sua contribuição é singular para o universo das artes. Sua obra é de uma potência única, uma obra muito questionadora e instigante e sua figura, também com essas características, vai ser muito sentida. Sem Tunga ficamos todos menores."

Sheila Leirner, crítica e curadora das 18ª e 19ª Bienais de São Paulo

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"Era uma morte anunciada, mas ninguém fica preparado. É sempre um choque, mesmo que Tunga continue vivo na história e processo da nossa arte. Ele participou com muito empenho da 19ª Bienal de São Paulo (1987) e o seu trabalho ocupou a parte central do pavilhão. Ali ela continuava a ser, simultaneamente como sempre, um 'estado de mente' e um 'estado de fato'. Envolvia forças físicas que possuiam correlativos psíquicos. Foi uma obra inesquecível!"Thiago Rocha Pitta - artista  "Tunga vai deixar um certo vazio,ninguém é parecido com ele, sua personalidade é sem paralelo. Ele tinha um lado muito generoso, nunca foi de esconder o jogo, sua atitude era a do poeta, artista, professor".Bernardo Paz - Idealizador do Inhotim e presidente do conselho de administração do Instituto "Eu me envolvi na arte contemporânea ao ver as obras do Tunga. O trabalho dele é uma coisa estonteante, me pegou no primeiro dia que eu vi. Quis saber de onde vinha aquela loucura toda, aquele espetáculo. Convivi com ele 25 anos da minha vida, por isso sua partida me deixa muita saudade. Foi um grande amigo meu, talvez o melhor. Foi quem mais me ajudou a fazer o Inhotim. Ele queria muito que desse certo. Veio para o Inhotim e ficamos muitos meses montando suas obras. Na década de 1980, a maioria dos artistas passou pelo seu ateliê para aprender. Era um cara muito generoso. Minha felicidade foi ter feito um pavilhão no Inhotim que conta a trajetória dele. Um homem que deveria viver muito mais. Foi embora cedo."

Luiz Séve, dono da Galeria de Arte Ipanema

"Era de uma criatividade espetacular. Basta dizer que foi das poucas pessoas que fizeram exposição na pirâmide de Louvre. Isso já o põe na lista dos mais importantes artistas contemporâneas. E ainda era muito engraçado, irônico, surpreendente e agradável, um ser humano maravilhoso. Se fosse procurar num dicionário os adjetivos, não conseguiria encontrá-los. Ele sempre levou a vida na brincadeira, e estava sofrendo, então a morte pode ter sido um presente de Deus."

Carlos Alberto Chateaubriand, diretor do Museu de Arte Moderna do Rio

"A obra de Tunga tem uma densidade impressionante. Eu gosto muito do que está em Inhotim, assim como dos desenhos. Ele não parava, tinha sempre projetos em andamento, era arte o tempo todo. Mas chega uma hora é melhor a pessoa descansar."

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