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As estranhas criaturas de Rubem Fonseca

30 histórias curtas de gente envolvida em problemas aparentemente menores compõem "Pequenas Criaturas", novo livro de contos do escritor recluso, que chega nesta sexta-feira às livrarias

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma enfermeira que simula ser uma prostituta para ter um filho com um ator de novelas; um jovem desempregado que tem vergonha de apresentar sua namorada à família; um velho que tem de optar entre ganhar uma dentadura ou uma cadeira de rodas: esses são alguns dos protagonistas do mais novo livro do escritor Rubem Fonseca, autor do romance O Caso Morel (1973) e dos contos de Feliz Ano Novo (1975).Pequenas Criaturas, novo livro de contos do recluso escritor, chega às livrarias nesta sexta-feira, com 30 histórias curtas de gente envolvida em problemas só aparentemente menores. Rubem Fonseca forma, com Dalton Trevisan, o dueto brasileiro dos estranhos autores mortos em vida: recusam-se a dar entrevistas, a falar sobre seus livros, sobre a vida pública. Quando lançam novas obras, elas são como que inéditos de escritores clássicos: têm interesse claro e imediato, mas nem sempre estão à altura do que já se conhece. Mas há ainda uma diferença que não se pode esquecer entre os escritores mortos-mortos e os mortos em vida: esses últimos, e é bem o caso de Rubem Fonseca, que lança seu quinto livro em cinco anos, continuam a falar do presente. Um exemplo disso pode ser encontrado em Eu Seria o Homem Mais Feliz do Mundo se Pudesse Passar uma Noite com Você (leia trecho do conto), em que o desenlace da trama se dá por meio de um, digamos, rápido exame grafotécnico: os bilhetes deixados sob à porta de Meg são impressos, o que elimina um suspeito que não tem computador. Mas essa contemporaneidade também pode ser mais profunda: em Ganhar o Jogo, todo o ódio social vem à tona, acompanhado da impotência dos pobres no complexo jogo de exibição do mercado - algo que só pode ser parcialmente compensado com uma vingança exclusiva e, de resto, ineficaz. O livro anterior de Fonseca, Secreções, Excreções e Desatinos (2001), foi bastante atacado, mas o crítico literário Boris Schnaiderman saiu em sua defesa, afirmando que a obra se ligava a toda a sua trajetória e que era uma voz brasileira na grande arrancada da literatura de nossos dias, no sentido de uma visão mais clara e desinibida do indivíduo como criatura material. Em O Bordado é possível imaginar um diálogo oculto com a crítica, contrariando a idéia de um escritor perfeitamente recluso. O homem do conto deixa-se tatuar no pênis o nome de sua namorada. No final da história, conta o narrador, em primeira pessoa: "É uma história tola, reconheço. Prosa é isso mesmo, o melhor ficcionista não passa de um bom ventríloquo. Minha poesia é diferente, mas por enquanto eu não mostro. Está mole." A qualidade desse suposto diálogo é que ele pode ser usado como arma tanto pelos admiradores de Rubem quanto por seus detratores.

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