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Brigitte Bardot completa 85 anos

A 'velha' Brigitte não é menos escandalosa, nem provocadora, que a jovem. Adere à direita, insulta imigrantes. Mas envelhece sem mágoa pela beleza perdida. Sem botox, sem plástica, sem maquiagem

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Ao longo de sua história, o cinema criou várias representações do feminino, valendo-se de diferentes atrizes, ou estrelas, para estabelecer diferentes modelos de mulher – Greta Garbo, a esfinge; Marlene Dietrich, a vamp; Katharine Hepburn, a independente; Barbara Stanwyck, a autoritária; Marilyn, por sua sensualidade exacerbada, mas também fragilidade, a mulher-mulher; Jane Fonda, a engajada. Na França, nos anos 1950, Brigitte Bardot encarnou um outro tipo – a mulher-criança.

A atriz francesa Brigitte Bardot durante filmagens Foto: Marcello Geppetti

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Desde suas primeiras aparições, ainda em pequenos papéis, dava para ver que ela possuía o algo mais, mas foi com seu então marido, Roger Vadim, em 1956, ao interpretar ...E Deus Criou a Mulher, que nasceu o mito. Vadim filmou a jovem Brigitte dançando. Puro instinto, puro movimento. O efeito sobre os homens é imediato, mas ela – a personagem – nem se dá conta. Possui uma inocência natural. Não assume compromissos, nem tem consciência do tsunami que provoca. Foi assim que Brigitte irrompeu no cinema mundial e, rapidamente, converteu-se em estrela. Foi, num período, o produto de exportação mais rentável da França.

Continuou filmando com Vadim mesmo após se haver separado dele. Vingança de Mulher, O Repouso do Guerreiro, Se Don Juan Fosse Mulher. Em 1960, fez com Henri-Georges Clouzot, um mestre da perversidade que os críticos, de forma um tanto discutível, chamavam de 'Hitchcock francês', seu filme preferido – o drama de tribunal A Verdade. Na sequência, filmou com Louis Malle, precursor da nouvelle vague, e com Jean-Luc Godard, o grande arauto do movimento. E filmou muito – muito! - com os diretores da ancienne vague. Será O Desprezo, livremente adaptado de Alberto Moravia, o maior Godard? Muito provavelmente. O mais clássico, com certeza, até pela presença de Fritz Lang que, no filme dentro do filme, tenta fazer uma versão da Odisseia, de Homero, com estátuas.

A atriz francesa Brigitte Bardot em imagem de 2006 Foto: REUTERS/Francois Lenoir

Brigitte como Penélope? Impossível, mas se é verdade que não se pode imaginá-la esperando seu homem por uma década inteira, a contrapartida, Godard também mostrava, é que Michel Piccoli, como representação do homem moderno, estava longe de ser um Ulisses. No primeiro Malle, Vida Privada, o foco era outro. Brigitte, de certa forma, fazia o próprio papel. Uma estrela sem direito a privacidade, perseguida por fotógrafos e jornalistas, hostilizada, por seu comportamento libertário (inconsequente?), por setores do público. Brigitte tinha 27 anos quando fez Vida Privada – nasceu em Paris, em 28 de setembro de 1934. Contracenava com Marcello Mastroianni, que tinha dez anos mais – 37. Ele também nasceu em 28 de setembro, mas de 1924, em Fontana Liri. Neste sábado, a eterna BB comemora 85 anos. Se vivo fosse, Mastroianni estareia com 95, uma idade bem razoável. Com Malle ela ainda fez Viva Maria!, contracenando com Jeanne Moreau, e o episódio de Histórias Extraordinárias, adaptado de Edgar Allan Poe (William Wilson). Uma Brigitte diferente, morena. A vida toda foi 'a' loira. No começo dos anos 1970, cansada de guerra, assume que o cinema não é, nunca foi, a coisa mais importante em sua vida e se retira para sua casa em Saint Tropez, La Madrague. Decepcionada com as pessoas – os homens, mas é a primeira a reconhecer que nunca foi uma boa mãe para o filho que teve com Jacques Charrier, Nicolas –, torna-se defensora dos animais. A "velha" Brigitte não é menos escandalosa, nem provocadora, que a jovem. Adere à direita, insulta imigrantes. Mas envelhece sem mágoa pela beleza perdida. Sem botox, sem plástica, sem maquiagem. Lembrança de sua passagem pelo Brasil, quando teve um affair com o marroquino-brasileiro Bob Zagury nos anos 1960, Brigitte, imortalizada como estátua de bronze, olha eternamente para o mar, em Búzios.

Estátua de bronze de Brigitte Bardot na Armação dos Búzios. Foto: Búzios Online/AF

Leia mais sobre a atriz no Acervo Estadão.

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