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Crítica: ‘Quem Fizer Ganha’ desce ainda mais o nível de um cineasta superestimado e perdido no tempo

Mergulhado em clichês, filme apenas reafirma o neozelandês Taika Waititi, adotado inexplicavelmente como queridinho em Hollywood, como cineasta questionável

Foto do author Matheus Mans
Por Matheus Mans

Às vezes tenho pesadelos com a cena de Taika Waititi ganhando um Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por Jojo Rabbit. Não só por ter desbancado o ótimo Adoráveis Mulheres, mas por ter colocado o cineasta neozelandês em um pedestal que não merecia. Seus filmes contam com um humor histriônico exagerado, sem graça, com tramas questionáveis que buscam apenas polemizar.

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Não concorda? Então vá ver Quem Fizer Ganha, novo trabalho de Taika que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 14.

Inspirado em uma história real, o longa conta a história de Thomas Rongen (Michael Fassbender), técnico holandês de futebol que é enviado à Samoa Americana para tentar “dar um jeito” no time. Naquele momento, a seleção do pequeno país do Pacífico era o pior time do ranking da FIFA. O treinador, enviado para lá como uma espécie de punição, era a última esperança do time – que tomou a maior goleada da história, por 31 a 0.

David Fane e Michael Fassbender em 'Quem Fizer Ganha' Foto: 20th Century Studios/Divulgação

A ‘síndrome do salvador branco’

É a ladainha do “branco salvador”, pronto para resgatar uma pequena nação do caos. É o tipo de história que se repete no cinema de Hollywood há décadas, em filmes como Um Sonho Possível, Mentes Perigosas, Histórias Cruzadas e por aí vai. Aquela bobagem de americanos e europeus como tábua de salvação de um mundo ignorante e sem qualquer habilidade.

(Da esquerda para a direita): Hilo Pelesasa, Ioane Goodhue, Kaimana e Beulah Koale em 'Quem Fizer Ganha' Foto: 20th Century Studios/Divulgação

Alguém pode até argumentar que o filme se encaixa nisso, já que é uma história real. É verdade até certo ponto. Afinal, Taika Waititi parece forçar esse sentimento goela abaixo. Absolutamente ninguém na Samoa Americana é capaz de pensar racionalmente.

O retrato do cineasta neozelandês procura a caricatura a qualquer custo, buscando na história e na personalidade daquele povo o escape necessário do humor. Já o personagem holandês de Fassbender está sempre sério, não faz piadas. Virtuosismo versus barbárie.

Kaimana e o elenco de 'Quem Fizer Ganha' Foto: 20th Century Studios/Divulgação

Quem Fizer Ganha ainda desrespeita uma personagem trans real, que jogava na seleção da Samoa Americana. Quando o roteiro a insere na trama, logo surgem piadinhas desnecessárias sobre seu estilo de jogo. Em determinado momento, o personagem de Rongen trata Jaiyah (Kaimana), a personagem trans, por seu nome de batismo. É transfóbico e violento contra ela.

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A que tudo indica, puro recurso de roteiro – afinal, não há qualquer registro de que o treinador foi realmente transfóbico contra a personagem. Pelo contrário. Qual o motivo, então, de colocar isso no filme? Havia respeito entre as pessoas ao redor de Jaiyah e a personagem. Sobra apenas a busca pela dor das pessoas LGBT+.

Cineasts Taika Waititi no set de filmagem de 'Quem Fizer Ganha' Foto: 20th Century Studios/Divulgação

O filme pode até ser fofo no final e causar aquele arrepio tradicional de histórias sobre competições esportivas e com desfechos apoteóticos, como o já clássico Um Domingo Qualquer – que é citado aqui – ou o recente Campeões. Não importa: mesmo sendo eficaz na história de superação, Quem Fizer Ganha não consegue apagar seus erros.

Taika Waititi, também responsável por filmes como O que fazemos nas sombras, A incrível aventura de Rick Baker, além dos dois blockbusters mais recentes do super-herói Thor, parece viver de polêmicas. Ele passou do limite aqui – como já tinha dado indícios lá em Jojo Rabbit. Mas, hoje queridinho de Hollywood, é questão de tempo até ele cometer outra atrocidade nas telas. A de 2023 está garantida.

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