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Documentário revê explosão da F1

Por Agencia Estado
Atualização:

O ronco de um motor, para um aficionado de Fórmula 1, tem um significado especial. Principalmente se partir do lendário carro Lotus pilotado por Emerson Fittipaldi, do Williams de Nélson Piquet ou do McLaren de Ayrton Senna. Juntos, esses três pilotos conseguiram a proeza de conquistar oito títulos mundiais em um período de 20 anos, tornando o automobilismo um dos esportes mais idolatrados no Brasil. Buscar explicações para justificar tamanha hegemonia é a meta do documentário A Era dos Campeões, dos diretores Marcos Bernstein e Cesário Mello Franco, que deverá ficar pronto em outubro para exibição em televisão e, muito possivelmente, em cinema. A retrospectiva realmente impressiona - Emerson Fittipaldi conquistou os títulos de 1972 e 1974, inspirando e abrindo caminho para uma legião de pilotos brasileiros, especialmente Nélson Piquet (tricampeão em 1981, 1983 e 1987) e Ayrton Senna, também três vezes campeão (1988, 1990 e 1991). Além disso, colecionaram outros cinco vice-campeonatos e três terceiros lugares. "Assim, pretendemos mostrar uma lição de sucesso de homens que souberam unir persistência e inteligência e que conviveram também com o fracasso em momentos importantes de suas vidas", comenta Franco, que teve a idéia de contar a trajetória dos pilotos em 1996, quando se uniu a Bernstein para criar uma produtora. "Estávamos dispostos a realizar um trabalho juntos e o começo apontava para um documentário", lembra Bernstein, que participou dos roteiros de Central do Brasil, Terra Estrangeira e Verger: Mensageiro entre Dois Mundos. "Como também sou fã de Fórmula 1, adorei a idéia." O primeiro passo foi inscrever o projeto nas leis de captação de recursos ao mesmo tempo em que os diretores definiam a filosofia do documentário. A proposta era buscar explicações para um período tão vitorioso, mas sem utilizar a estrutura tradicional de mesclar imagens de arquivo com entrevistas, tudo amarrado com uma narração em off. "Percebemos que os pilotos deveriam conduzir a trama ao contar suas histórias, o que tornaria o documentário mais humano", observou Franco. Depois de conseguir um apoio financeiro da Texaco, os diretores marcaram entrevistas com Fittipaldi e Piquet, além de saírem à caça de imagens de Senna, morto em 1994. Depois de muita negociação, Franco e Bernstein conseguiram um dia inteiro para gravar com Fittipaldi, em São Paulo, e Piquet, em Brasília, o que permitiu horas de conversa. A fim de permitir que os pilotos liberassem suas emoções o que só seria possível com uma filmagem contínua, os diretores utilizaram câmeras digitais para as entrevistas. Nesta fase do processo, o montador Marcelo Moraes já aderira ao projeto, o que permitiu um melhor aproveitamento do material filmado. Ao todo, eles reuniram 50 horas de gravação - além de Fittipaldi e Piquet foram entrevistados outros pilotos que tiveram participações decisivas na carreira dos campeões (como Wilsinho Fittipaldi, Roberto Pupo Moreno, Maurício Gugelmin) e também dois jornalistas especializados, Celso Itiberê e Cláudio Carsughi. As imagens de Senna foram pesquisadas em arquivos de emissoras de tevê, incluindo as estrangeiras. Edição - O trabalho de edição foi decisivo para moldar o projeto, evitando que as vozes ficassem dissonantes. Assim, quando Piquet descreve seu esforço para conquistar os títulos mundiais, há um corte para a entrevista de outros pilotos que, apesar de reconhecerem seu talento, falam sobre a astúcia com que Piquet achou brechas no regulamento, permitindo tornar seu carro mais competitivo. "Em alguns momentos, conseguimos a proeza de criar seqüências em que todos os entrevistados parecem estar na mesma sala", observa Moraes. "Decidimos também evitar a utilização de um narrador, mantendo apenas as falas dos pilotos." Piquet, aliás, é responsável pelos momentos mais hilariantes do documentário, graças ao seu estilo inconfundível de dizer o que lhe vem à cabeça. Como a polêmica que travou com Ayrton Senna, acusando-o de não gostar de mulheres, ou as disputas nos bastidores com o inglês Nigel Mansell. "Sua honestidade é desconsertante", comenta Bernstein. O documentário apresenta uma nova forma de apresentar uma sucessão de acidentes, ao som de música clássica, como se fosse uma coreografia. Outra imagem valiosa é a do construtor britânico Colin Chapman, que se tornou lendário na F-1 não apenas pela parceria com Fittipaldi na Lotus, mas também pelas dúvidas que cercam sua morte - há versões, não confirmadas, de que ele ainda está vivo, preferindo o anonimato. A Era dos Campeões já dispõe de uma primeira versão, que ainda vai ser acrescida de algumas imagens de arquivo, decisivas para a compreensão total. Como as cenas do acidente fatal de Ayrton Senna, em Ímola, no dia 1.º de maio de 1994, e a conseqüente comoção provocada pelo seu enterro em São Paulo. Ou ainda a espetacular capotagem de Christian Fittipaldi, presenciada pelos seus pais, que recontam a história com emoção. Choro - Emoção, aliás, foi o que não faltou nas entrevistas - como o depoimento de Emerson Fittipaldi sobre o acidente do suíço Jo Siffert, em 1971, quando seu carro capotou e se incendiou, provocando sua morte. Tocado, o piloto brasileiro não conseguiu terminar o relato, por causa do choro incontrolável. "Foi um dos momentos mais emocionantes do nosso trabalho, que contagiou toda a equipe do filme", conta o montador Moraes. O projeto, orçado em R$ 300 mil e que já conta com o apoio da Video Films, é destinado inicialmente para exibição em tevê, mas os diretores estudam a possibilidade de transformar o material em película e garantir a exibição em cinema, mesmo que em um pequeno circuito. Também o futuro lançamento em DVD está no planejamento. "Acreditamos que a falta de vitórias e títulos recentes não diminuiu o interesse do público pela Fórmula 1", comenta Bernstein. O documentário será o primeiro de uma série que o trio pretende realizar. Um dos temas em estudo é a efervescência automobilística que tomou conta do Rio de Janeiro, entre os anos 30 e 50. Nesse período, tornou-se famoso o circuito da Gávea, uma espécie de autódromo que atraía até 300 mil pessoas em corridas disputadas por grandes nomes. "Pilotos como o argentino Juan Manuel Fangio (campeão da Fórmula 1 em 1951, 54, 55, 56 e 57) correram naquela pista, que também recebia visitas regulares do presidente Getúlio Vargas", conta Mello Franco, que pesquisou ainda a história de uma pilota francesa, que se transformou em uma grande paixão do poeta Vinícius de Morais. "Vamos reunir um grande anedotário daquela época."

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