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Filme sobre amianto causa polêmica em Goiás

7.º Festival de Cinema Ambiental da Cidade de Goiás (Fica) exibe filme francês que critica exploração do amianto no Brasil, causando protestos de políticos e empresas locais

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Por Agencia Estado
Atualização:

A exibição do filme Asbestos, Slow Death (Amianto, Morte Lenta), da diretora francesa Sylvie Deleule, no 7.º Festival de Cinema Ambiental da Cidade de Goiás (Fica), provocou polêmica entre a organização, entidades de defesa do amianto e o deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO). O filme volta a ser exibido amanhã, às 19 horas, no Teatro São Joaquim. A coordenação do festival revelou que recebeu reclamações do deputado pelo fato de o filme ter sido selecionado e exibido na mostra. Caiado negou que tenha procurado os organizadores do Fica para fazer qualquer tipo de reclamação e disse que não achou nada de errado com o filme. A exibição foi criticada pelo Instituto do Amianto Crisotila e pela Comissão dos trabalhadores do Amianto. O filme conta a história do banimento do amianto na França. Na sua parte final, mostra a situação no Brasil, destacando o projeto de lei que tentou proibir o minério no Brasil. Um dos destaques é o relator do projeto, Ronaldo Caiado, que votou pelo seu arquivamento. Em seguida, o filme mostra que a mineradora Sama, que extrai amianto crisotila em Minaçu (GO), contribuiu financeiramente para a campanha eleitoral de Caiado e vários outros políticos goianos. O coordenador da mostra, Nasr Chaul, afirma que o deputado lhe telefonou para "manifestar seu descontentamento" com o fato de o júri ter selecionado o filme e "questionou sua participação na mostra". Chaul disse que explicou que o festival ´" é democrático" e não poderia censurar a participação de um filme. "O problema é entre o deputado e quem fez o filme, não com o festival", disse Chaul. "Ele deve falar é com a diretora do filme." O deputado Ronaldo Caiado negou que tenha conversado com os organizadores do festival. "Eu não tenho nada que pedir para eles", afirmou. "O filme não mudou nenhuma vírgula do que eu penso, portanto, não vejo problema, foram corretos comigo." A seleção do filme Asbestos para o festival foi condenada pelo Instituto Brasileiro do Crisotila e pela Comissão Nacional dos Trabalhadores de Amianto (CNTA). Em nota oficial, o Instituto Brasileiro do Crisotila, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), lamenta "que uma atividade cultural do Estado de Goiás, berço da terceira maior mina de amianto crisotila do mundo, tenha permitido, com o apoio da Agepel, a seleção e exibição de um trabalho notadamente tendencioso." A nota ressalta que o filme foi "produzido na França, país reconhecidamente contrário ao uso do amianto crisotila, e visa imputar ao Brasil resultados de atividades mal sucedidas em seu país, que utilizou produtos e formas diferentes do uso no Brasil e que ocorreram há décadas." A nota do Instituto, assinada por sua presidente, Marina Júlia de Aquino, destaca que o filme "mostra imagens descontextualizadas". "O resumo do filme divulgado por assessoria de imprensa nacional concentra seu enfoque em apenas questionamentos depreciativos, não só para o próprio governo de Goiás, como também para toda a sua classe política, e ainda para a atividade empresarial." A CNTA também criticou a exibição do filme. "O documentário não incluiu depoimentos de trabalhadores da cadeia produtiva do crisotila no Brasil, demonstrando a notória intenção de não registrar o parecer desse segmento, que hoje agrega cerca de 170 mil pessoas no país", disse Emílio Alves Ferreira Júnior, presidente da CNTA. "Consideramos o trabalho unilateral, tendencioso e que não expressa a realidade brasileira, nem representa a opinião dos trabalhadores do amianto crisotila."

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