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Joachim Trier captura espírito do tempo inspirado em cartum

O longa-metragem ‘A Pior Pessoa do Mundo’ é narrado em 12 capítulos, com prólogo e epílogo

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Dona Julie e seus dois maridos, ou as cenas de dois casamentos. O primeiro é com Aksel, um cartunista mais velho e contestador, conhecido pelo personagem Bobcat. Aksel quer ter filhos. O outro, Eivind, é jovem, quer viver com ela a dois. Numa cena, o mundo para quando Julie atravessa a cidade correndo para ir ao encontro dele. Em outra, ela reencontrou Aksel, ele está morrendo. Viajam de carro, Aksel despe a couraça e exibe sua fragilidade.  O diálogo no carro, a força conferida às palavras – o amor realiza-se no embate entre o gesto impulsivo e a palavra consciente, dizia François Truffaut –, muita coisa aproxima o longa do norueguês Joachim Trier de Drive My Car, do japonês Ryûsuke Hamaguchi. Ambos concorrem ao Oscar de melhor filme internacional. Existem agora pelo menos três grandes filmes na disputa. Os de Hamaguchi e Trier, e Ataque dos Cães, da neozelandesa Jane Campion. Antigamente, a parada seria mais fácil de resolver. O melhor filme de língua inglesa e o melhor internacional. O sul-coreano Parasita embaralhou as coisas. 

Cena do filme 'A Pior Pessoa do Mundo', de Joachim Trier, que cria o personagem de quadrinho Bobcat Foto: Diamond Films

A Pior Pessoa do Mundo fecha a Trilogia de Oslo, de Trier, que inclui Começar de Novo e Oslo, 31 de Agosto, todos interpretados por Anders Danielsen Lie. Trier compara-o a Antoine Doinel nos filmes de Truffaut. A trilogia o coloca em diferentes momentos da vida, mas, dessa vez, o centro é Julie, e o diretor escreveu o papel para Renate Reinsve. Quem é a pior pessoa do mundo? Trier conta que cansou-se da piada – é sobre Donald Trump? É sobre o que as pessoas fazem, quando se amam e deixam de amar. Quando conhece Eivind, Julie pergunta – até onde podem ir, sem trair os parceiros? O filme é narrado em 12 capítulos, com um prólogo e um epílogo. Em Drive My Car, Hamaguchi acrescenta os clássicos – há uma peça dentro do filme, e é Tio Vânia, de Chekhov. Trier é mais pop. Para captar o espírito do tempo, soma o cartum, a vertente de Robert Crumb. Com ou sem Oscar, seu filme é um acontecimento.

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