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Três poemas de Anna Akhmatova

Rafael Frate traduz direto do russo três poemas da escritora Anna Akhmatova. Exclusivo no Estado da Arte.

Por Estado da Arte
Atualização:

 

À noite.

 

A música tocava no quintal

com aquela impronunciável agonia.

Frescas, cheiravam forte a maresia,

as ostras sobre o gelo vesperal.

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Ele disse: "Sou só um amigo fiel."

e então tocou-me as dobras do vestido.

Quão longe de um abraço tinha sido

o toque dessas mãos assim ao léu.

Assim olham-se os pássaros ou gatos,

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Assim veem-se as esbeltas amazonas...

O riso de seus olhos vinha à tona,

sob o ouro de suas pálpebras pacato.

E dos violinos tristes vem a voz

cantando pela névoa que se adensa:

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"Dá graças aos céus pela recompensa -

finalmente com o amado estás a sós."

(1913)

***

 Não sou mais dos sorrisos uma escrava.

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O vento congelante aos lábios pune. 

Uma esperança a menos me restava,

uma canção a mais virá a lume.

  E esta breve canção sem que eu queira

entrego a todo riso e humilhação,

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em nome dessa dor não passageira

do silêncio do amor no coração. 

(Abril, 1915 Tsarskoe Selo)

***

Vinte e um, fim de noite, segunda,

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traços tênues na bruma em torpor.

Mais uma alma qualquer vagabunda

escreveu que no mundo há amor.

  E de tédio ou por indolência,

todos creram e vivem assim:

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ansiosos, temendo a ausência,

canções cantam de amor até o fim.

  Mas para alguns se revela o segredo,

e o silêncio em seus peitos deitou...

Eu o toquei sem vontade nem medo,

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desde então este mal me tomou.

 

Tradução de Rafael Frate, mestre em Língua e Literatura Russa pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é doutorando em Letras Clássicas na na mesma universidade.

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