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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Cantora trans e negra cria consultoria para inclusão de minorias por empresas

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Por Marcela Paes
Atualização:

Raquel Virgínia. Foto: Rodolfo Magalhães

Antes mesmo do fim do grupo As Baías, a cantora e empresária Raquel Virgínia já estava a fim de "curtir outros mares, pegar outras ondas". O tino para negócios - ela acumulou a função de empresária do grupo justamente por sua aptidão para aspectos menos artísticos do métier - a fez querer abrir a startup Nhaí.

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Com clientes como a Pepsico, sua consultoria faz planos de comunicação e curadoria para empresas que querem se tornar mais inclusivas com minorias. Trans e negra, Raquel acha que ainda há um longo caminho a ser percorrido na questão, mas diz se sentir "feliz em participar do processo". Leia abaixo a entrevista.

A publicidade parece estar tentando incluir minorias em suas campanhas. Estão acertando na maneira de fazer? Não tem acerto e não tem erro, eu acho existem jornadas. As marcas entenderam que precisam fazer da diversidade um princípio. O Brasil é um país de diversidade, é impossível uma marca querer operar aqui e não pensar nesse aspecto. Não existe milagre, é uma construção diária. Toda vez em que eu sou consultada por uma empresa,  sempre pergunto qual é a política interna de inclusão que já existe lá. Isso é desenvolvimento de metas e, principalmente, intenção de acertar.

Acha que há empresas que utilizam a inclusão de minorias somente como forma de cumprir uma cota? Tem uma história sobre isso. Eu estava quase fechando um negócio e desistiram justamente por não terem representatividade de minorias dentro da própria empresa. Aí eu pensei 'poxa, eu sou uma empreendedora trans e negra que só emprega negros. Você fecharia um negócio com uma agência que já movimenta o ecossistema nesse sentido', sabe? É importante começar de alguma forma, mesmo que pareça contraditório. O pior é a empresa se afastar dessa pauta e não se comprometer. Quando se coloca a mão na ferida? A inclusão é algo que precisa ser feito urgentemente: seja via programas inclusivos de trainee, seja via contratar uma agência externa que tenha funcionários negros ou LGBTQIA+...

Recentemente uma podcaster foi muito criticada nas redes sociais por anunciar uma vaga exclusivamente para mulheres negras. Na sua opinião, por que as pessoas se revoltam com esse tipo de seleção?Porque as pessoas acreditam numa falsa simetria.  Elas acham que se você falar que a vaga é só pra negro é a mesma coisa que falar que a vaga é só pra branco. São coisas completamente diferentes. Uma coisa é política de afirmação, a outra é racismo, entende? De forma não declarada as vagas já são só para brancos nas empresas. É só fazer o exercício de olhar ao redor. Nosso escritório fica na (avenida) Berrini  num prédio que tem centenas de escritórios, mas só nós e a Conta Black temos equipes majoritariamente negras. No nosso caso, inteiramente negra. Em prédios como este, os negros só estão na faxina, na segurança. Aqui, no que a gente está instalado, nem as recepcionistas são negras. As pessoas muitas vezes colocam um lençol na frente do rosto para não enxergar o óbvio, por motivos ideológicos.

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