A paulistana Patricia Fonseca, 38, passou por um transplante de coração aos 30 anos e se transformou em uma triatleta. Ela está prestes a lançar seu primeiro livro, intitulado “Coração de Atleta”, na Livraria da Vila, localizada no Shopping Higienópolis, em São Paulo, no próximo dia 29. O livro relata a jornada da autora que nasceu com uma cardiopatia congênita.
Durante sua infância, Patricia enfrentou diversas restrições devido a seu coração fraco e crises de arritmia, o que a impossibilitava de participar de atividades físicas na escola. Após o transplante, a economista encontrou uma nova perspectiva de vida e passou a correr, pedalar e nadar. Ela até conquistou uma medalha de prata de ciclismo em equipe na Olimpíada de Transplantados deste ano, realizada na Austrália. Ela também marcou presença em outras duas edições anteriores.
Para Patricia, tornar-se uma triatleta foi uma forma de ressignificar sua história e superar os obstáculos que enfrentou ao longo da vida. Ela descreve a prática do triatlo após o transplante como o “ápice da saúde” e uma maneira de “rir na cara da existência”. Agora, ela se prepara para lançar o livro que acompanha sua trajetória de superação, com um prefácio escrito por Pedro Bial.
Ela aponta que familiares, amigos e profissionais foram fundamentais para lhe ajudar a atravessar o seu duro percurso - culminando no desejo de compartilhar sua história em um livro para ajudar outras pessoas. “Essa fase me trouxe muitas reflexões sobre essa oportunidade que a gente tem de existência, que não é banal. Quando se chega muito perto do limiar de ir embora, de dar tchau para todo mundo aqui, passa a ver com mais clareza algumas questões. Eu tive então vontade de começar a escrever esse livro.”
O livro reflete também a realidade de estar em uma fila de espera por um transplante. A demanda por órgãos no Brasil é alta, com cerca de 52 mil pessoas atualmente aguardando por um transplante.
No caso de Patricia que tinha um quadro de hipertensão pulmonar, o transplante de coração só ocorreu após nove anos de espera. O desenvolvimento de medicamentos específicos para controlar o fluxo do sangue do pulmão para o novo coração foram essenciais para que ela pudesse fazer a operação .
Com o livro, a triatleta quer ajudar a melhorar a cultura de doação. Informar a família é o passo mais importante para expressar o desejo de ser um doador de órgãos. Já que a legislação mudou em 1997, e não é preciso que a informação conste no RG. “Agora a palavra da família é decisiva nesse processo”, ela diz, lembrando ainda que o número de pessoas que recusam a doação de órgãos é alto, perto de 48%. Essa recusa muitas vezes ocorre devido à falta de informação. “Quando as pessoas entendem o que é a doação e como ela pode salvar vidas, a maioria está disposta a doar.”
O momento da perda de um ente querido é delicado e às vezes não favorece para lidar com questões de doação de órgãos. “Por isso que é importante discutir esse assunto com os familiares com antecedência, para que todos estejam cientes dos desejos e valores do doador”, conclui Patricia.
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